Texto bastante envolvente. Dê atenção para a revisão ortográfica ... Amei!
Mulher de Fases.
“Este Livro faz parte de um projeto individual, sem fins lucrativos e de fã para fãs de romances. A comercialização ou reprodução deste produto é estritamente proibida.”
Digitalizado por: Osana P. Link para Download, final da página.
Ela estava dormindo quando Jorge chegou. Com passos contados ele foi até o banheiro e se trancou. Tirou rápido o terno e jogou dentro do cesto de roupas sujas. Tomou um banho quente, fez questão de lavar até os cabelos, para tirar todo e qualquer vestígio da pulada de cerca. Sorrindo e assobiando ele saiu do banheiro, se secou parcialmente, enrolou a toalha na cintura e saiu do banheiro.
O quadril volumoso de sua mulher fez o fogo voltar. Estava adormecida abraçada há um travesseiro. A pele pálida coberta por uma camisola branca longa. Era a imagem da pureza. E isso o excitava ainda mais do que a libertinagem da qual havia saído há pouco.
O pau já estava duro, ele deixou a toalha cair e subiu na cama devagar. Pela hora, ela já devia estar em sono profundo.
Levantou a barra da camisola dela e começou a acariciar as cochas alvas. Devagar alcançou a calcinha de renda e foi puxando suavemente para não acordá-la. Agora sim, ele não se importaria se ela acordasse, pois já estaria há ponto de conseguir o que queria.
Afundou o rosto entre as pernas dela.
Ela devagar abriu os olhos, continuaria fingindo que estava dormindo, ou acabaria com tudo de uma vez? Fingir que estava a fim de continuar. Suspirou. Para Jorge, isso era tesão. Levantou e se pôs por cima dela, deu-lhe um beijo babado e ela fez questão de virar o rosto para que beijasse seu pescoço. Jorge a penetrou de uma vez. Fazendo o corpo dela se mover sob as molas do colchão. O corpo dela, sempre cheiroso e perfeito. Tão seu, só seu. Era um sortudo por ter uma mulher como ela. Bonita, educada, caseira e gostosa.
O que ela não tinha, procurava na rua. O fogo, o frio na barriga, a aventura. Tudo isso fazia com que ele continuasse a viver, sem arrependimento ou rancor pelo casamento.
E ela o amava, fazia todas as suas vontades. Ele a mimava e eram o casal perfeito.
Penetrando bruscamente, ele olhou para o rosto dela. Ela estava de olhos fechados, para ele era a cara do prazer. Para ela, era a falta de coragem de olhar pra ele. Mas ela não podia continuar agüentando aquilo quieta e pedindo em pensamentos que ele acabasse logo. Arqueou as pernas, o puxou mais fundo dentro de si e ergueu o quadril. Assim ele arremetia freneticamente até gozar.
-Ah eu adoro sua boceta amor. Eu vou gozar.
-Não, dentro não.
-Sério?-Ele ficou desconfiado, mas continuou arremetendo rápido até tirar o pau de dentro dela e sujar-lhe a púbis e as cochas com sêmen.-Nossa, foi por pouco.
-Droga.-Ela olhou para a sujeira e suspirou.
-Você gozou pelo menos?
-Não.-Ela se levantou.-Vai dormir, eu me viro sozinha.
Jorge deitou estranhando. Pela primeira vez ela era ríspida. Devia ser TPM. Melhor ficar quieto e deixá-la sozinha.
A mulher é como a lua
Cheia de fases
Fases boas, fases ruins
Mas em todas as fases
Não perdemos o encanto
Começamos assim
Com muita dedicação
Sentimo-nos cheia, vigorosas
Tudo nos cai bem
Nada tira nossa animação
Somos o centro da atenção
De repente sentimo-nos apagada
Minguada na depressão
Sem vida, sem animo
Parece que nada nos tira do chão
Mas passam uns dias
Começamos a crescer, a iluminar
As flores parecem com mais vida
O sol começa a brilhar
E toda depressão é jogada no ar
Para o vento levar
E não tardar dos dias
Sentimos-nos novas, revigorada
Prontas para novamente encantar
Encantar de amor aquele que nasceu pra nos amar.
E assim começa tudo de novo
De cheia a minguante
A crescente novamente
Para quando nova ficar
Poder novamente brilhar.
O verdadeiro amor
Ama a mulher em todas as fases.
Diary of a Witch
Minguante.
De repente sentimo-nos
apagadas.
Minguadas na depressão.
Sem vida, sem animo,
Parece que nada nos tira do chão.
Ela era linda. Era só no que Jonas conseguia pensar. Deus, era tão linda que mal conseguia desviar os olhos. Não tinha uma beleza rara nem exótica. Era algo mais natural. Parecia ter dezoito, dezenove anos. Caminhava pela galeria olhando de um quadro a outro, sem expressar nada. Nem gosto, nem desgosto pelas obras.
Parou diante de uma de suas obras favoritas e durante algum tempo se pôs a observá-la. Olhos atentos, rosto inexpressivo. O único movimento eram os de seus 1ábios, que hora os mordia hora, os sugava. Jonas desviou-se dos clientes que se aglomeravam há sua volta perguntando pelos quadros e caminhou até ela. Aproximou-se confiante. Enfiou as mãos nos bolsos e sorriu.
-Já vi que gosta de nu artístico.
-Achei vulgar.-Ela falou ainda observando a tela.-É uma prostituta?
-Depende do humor dela.-Ele sorriu.-É uma mulher que gosta de experimentar de tudo um pouco.
-Como sabe disso? Trabalha aqui?
-Sou o criador do quadro.
-Então pode me tirar uma curiosidade.-Ela se voltou para ele um segundo.-Você transou com a mulher do quadro?
-Por que a pergunta? É sua conhecida?
-Não, eu não a conheço, mas ela é “íntima” do meu marido.
-É casada? Nossa, nem parece.-Ele tirou a mão do bolso e ergueu para ela.-Meu nome é Jonas, você é...?
-Taciana.-Ela se voltou pro quadro.-Já está vendido?
-Não. Por quê?
-Vim atrás dele. Uma amiga me falou sobre esse quadro. Gostaria de comprá-lo.
-Você disse que Amanda e seu marido são íntimos?
-Sim. O quadro é um presente de aniversário de casamento.
-Mas...
-Sem, mas. Diga quanto é, vou levá-lo.
-Não prefere um com outra temática?
-Não. Este é ótimo.-Ela suspirou.-Não vou destruí-lo, se é o que está pensando. É só um modo de dizer a ele que sei de tudo.
-Se me perdoa a intromissão, ele vai fingir não entender nada.
-Não.
-Como?
-Não, eu não perdôo a intromissão.-Ela sorriu finalmente e deu de ombros.-Vai ou não me vender?
-Sim claro, mas primeiro, o que acha de tomar um café comigo?
-Café? Aonde?
-Vamos há lanchonete.-Ele chamou a assistente e deu um portfólio em suas mãos.-Vou fazer uma pausa. Não demoro.
Sentados há mesa, ele a observou melhor. Não era falta de expressão, era mistério. Ela escondia as emoções tão bem, que ele nunca imaginaria tal situação entre ela e Amanda.
-Como descobriu que seu marido tem um caso?
-Internet.-Ela suspirou.-Você deve ser amigo dela, com certeza irá ligar pra ela assim que eu sair daqui.
-Não. Na verdade, ela fez um trabalho pra mim. Paguei para que ela posasse.
-As pessoas realmente compram quadros com desconhecidas nuas pintadas?
-Não muito.-Ele tocou um instante na mão dela.-Com o perdão da palavra, ainda não consigo imaginar que você é casada. Tem cara de adolescente.
-Obrigada.-Um sorriso leve aflorou em seus lábios.-Você pinta há quanto tempo?
-Minha vida inteira. Sempre gostei de arte. Meu avô colecionava quadros, estátuas. Tomei gosto pela coisa. Meu pai não apoiou muito no começo. Mas abri a galeria, sou um empresário, então ele ficou feliz.-Ele parou de falar de repente e sorriu.-Desculpe, estou aqui falando de mim, quando você claramente está tendo problemas. Eu posso ajudá-la?
-Só me venda o quadro.-Ela recostou na cadeira e fechou o semblante.
-Vou fazer melhor, vou dá-lo a você.
-Por quê?
-Gostei de você.-Ele debruçou na mesa.-Se você topar tomar um chopp mais tarde em algum lugar mais agitado. Talvez sair te anime um pouco.
-Desculpe, eu não te conheço.-Ela sorriu.-Nem estou desesperada pra dar o troco. Ainda nem sei o que estou fazendo direito.
-Mas quem falou em dar o troco? Podemos simplesmente sair, espairecer, tomar um chopp. Você pode levar uma amiga se quiser.
-Por quê?
-Confesso que gostei de você no momento que a vi. E não estou fazendo uma proposta tão indecorosa. Só gostaria de companhia pra sair um pouco. E me parece que você também precisa. Mas vamos fazer o seguinte, te deixo meu cartão. Se você quiser, me liga e podemos sair.
-Vou pensar sobre isso.
-E pra que não sejamos completos estranhos, me fala um pouco sobre você. O que faz da vida? Quantos anos realmente tem?
Taciana gostou dele. Apesar de ser um tanto insistente, ela gostou de ser observada, ouvida, admirada. E ele demonstrou na conversa, no modo de agir e nos olhares, quais eram suas intenções com ela. E por que não?
Ela se perguntava enquanto olhava pra moldura que deixou na cadeira do escritório de Jorge. O embrulho estava do jeito que pegou na galeria. Ela escreveu poucas palavras em um papel branco e o deixou encima do quadro. Saiu dali e foi respirar ar puro. O que fazer a partir de agora? Sua vida de repente mudou e ela não conseguia conciliar as coisas.
O cara da galeria era interessante, mas ela não conseguia pensar em sair e afogar as mágoas no copo. Iria ao cinema sozinha, talvez ajudasse a espairecer.
Jonas parou diante da tela, sua inspiração se foi. Só conseguia mesmo pensar em Taciana. Ela ficou de ligar depois de muita insistência. Bom, se ela ligaria, ele não sabia. Mas ela não saía de sua cabeça.
Largou o pincel e pegou um lápis. Começou a desenhá-la, não era muito difícil, já que ela tinha traços marcantes, fáceis de capturar.
Taciana olhou o cartão e suspirou. Fechou os olhos procurando forças e discou de uma vez, antes que perdesse a coragem.
-Está ocupado?
-Taciana?
-Não, papai Noel.-Ela olhou em volta, viu que havia um homem se aproximando.-Estou no beco da galeria.
-Vou abrir o portão.
Ele apertou o botão de segurança e foi para fora esperar por ela. Abriu a porta do carro e a ajudou a sair de dentro. Ela estava linda. Com um vestido preto curto, os cabelos soltos, ele gostava de mulheres como ela. Mulheres que não se e enchiam de acessórios igual há uma árvore de natal. Mulheres que ficavam lindas com a simplicidade.
-Está tarde?
-Imagina.-Ele olhou o relógio.-Ainda é cedo. Vamos entrar?
-Na verdade, queria saber se ainda está tarde pra aceitar sua proposta?
-Você espera eu tomar um banho e me trocar?-Ela meneou a cabeça e sorriu.-Ótimo, mas você não vai ficar esperando aí. Vem, entra, toma uma cerveja. Eu não me demoro.
-Tudo bem.
Taciana entrou na casa com o coração disparado. Não queria abusar de Jonas. Nem queria que ele achasse que ela estava se jogando pra cima dele. Muito pelo contrário, o que ela mais queria era alguém que lhe tornasse a noite agradável.
Entrou na casa dele com receio. Olhou em volta, era até ajeitado. O apartamento ficava encima da galeria, a entrada era nos fundos. Junto com a entrada de carga. Ela sentou na sala um momento, teve tempo de suspirar e relaxar, até Jonas aparecer sem camisa, e com uma garrafa de cerveja gelada.
-Você bebe, não é mesmo?
-Sim.-Ela sorriu.-Não tem... um copo?
-Tem.-Ele se virou, mas parou no meio do caminho.-Ou melhor, experimenta assim. O gosto é diferente.
-Como é?
-O vidro da garrafa interfere, vamos, tenta.-Ele se aproximou quando ela virou a garrafa na boca e sorriu quando pingou um pouco no decote.-Bom, eu vou tomar banho.
Alguma coisa dentro dela dizia pra ir atrás dele. Mas era loucura e ela não queria arriscar. Não o conhecia, preferia conversar com ele em um lugar neutro, se gostasse e se sentisse bem, aí sim ficariam. Caso contrário, estava fora de problemas.
Mas ela queria algo mais. Só não sabia o que era esse algo mais.
Se aproximou de uma escrivaninha e viu alguns desenhos espalhados. Um rosto bonito de mulher estava rabiscado em uma folha. Bem desenhado até. Quando percebeu os cabelos caindo em volta do rosto em ondas, notou que era ela no desenho. Era um esboço de traços firmes. Ela se olhou no espelho, como que pra confirmar. Deixou o desenho sobre a mesa.
Ele desceu cheirando bem, arrumado, cabelos penteados pra trás. Nem parecia o pintor desleixado que conheceu naquela tarde.
-Demorei?
-Não muito. Podemos ir?
-Há hora que quiser.-Ele pegou algumas coisas encima do balcão e foi enfiando nos bolsos. Aonde prefere ir?
-Não sei, não costumo sair muito. Você deve conhecer algum lugar legal.
-Meu carro, ou seu carro?
-Vamos no seu. Eu já andei bebendo.
-Então vamos.-Ele abriu a porta pra ela e desceram as escadas.-Prefere um lugar agitado, ou mais reservado?
-Um que tenha um pouco dos dois, é pedir muito?
-Não, eu já até sei pra onde vamos.
Jorge abriu a porta do quarto com Amanda puxando sua gravata. Antes de estarem com a porta fechada, ela já estava lhe abrindo a calça, jogando a gravata no chão. No corredor ela se ajoelhou e começou a chupá-lo, com ele ainda meio dentro das calças. Jorge segurou nos cabelos da loura e a puxou de encontro há sua pica. Ela engoliu inteiro, encostando os lábios em suas bolas. Ele enlouquecia quando ela fazia isso.
-Assim gata, você tem uma boca e tanto.-Ele penetrava a segurando pelos cabelos. Estava no ponto, quando ela se afastou, ele pôde recuperar o fôlego.-Isso, continua. Hum delicia. Vai, tira essa calcinha que eu to doido pra comer você de quatro. E borá logo que hoje tenho que chegar cedo.
-Programa com a patroa?
-Aniversário de casamento.-Ele começou a arrancar o paletó.-Chatice, talvez um jantar e mais nada.
-Você me trouxe pra trepar correndo pra sair atrás da sua mulher?-Ela pendurou a bolsa no ombro e tentou passar por ele.-Já que é assim, vamos embora, outro dia continuamos.
-Não, fica quieta.-Ele a segurou pelo braço e a levou para a cama.-To doido pra te comer direito. Desde ontem, aquilo que você fez foi maldade. Hoje vai ter que me dar esse rabo.
Ela deixou o corpo cair na cama, jogou a bolsa ao lado no chão e o puxou pelo cinto. Sabia fazer tudo do jeito que ele gostava, afinal, o caso deles já vinha de anos. Se separaram por um tempo, mais ou menos dois anos. Foi o tempo de ele encontrar Taciana e se casar. Quando se reencontraram, ele deixou bem claro o desejo evidente que ainda sentia por ela. E o casamento, parece que era de aparências, escolhida uma moça de família, só pra carregar seu nome.
Pois bem, Amanda arrancaria Jorge de Taciana e desfrutaria de todo comodismo e luxo que ela tinha.
Desceu as calças dele e começou a chupá-lo novamente. Jorge se encarregou de se despir enquanto ela o chupava. E a boca dela sabia como fazer tudinho, do começo ao fim. Ela o enlouquecia. Era o melhor boquete que ele já tinha recebido na vida. Valia à pena ouvir meia dúzia de insultos de sua mulher, por perder a hora dentro daquela boca.
-Para gata, já to quase gozando.-Ela sentou no meio da cama e começou a baixar a alça da blusa.-Isso que você faz é covardia.
-Covardia é você me deixar na mão pra sair correndo atrás dela.
-Nós saímos à semana inteira. Hoje é a vez dela.
-Já que você prefere ela, vai lá pedir pra ela te chupar.
-Deixa de drama Amanda.-Ele pegou uma água no frigobar e sentou na cama ao lado dela.-Você sabe que tudo tem um limite. E ela não sabe chupar como você, ninguém sabe,
-Mesmo assim, você sempre me deixa sozinha pra ir atrás dela.
-Está certo Amanda, se vai ser assim hoje, melhor eu não perder tempo. Vamos indo, é bom que me atraso menos.
-Espera.-Ela ajoelhou na cama e se deu por vencida.-Tudo bem, vamos ficar um pouco. Mas meu traseiro você não vai ganhar hoje.
-Vamos ver se não.
Ele a derrubou na cama, estava de saia, foi fácil colocar a calcinha de lado e penetrá-la. Ela fechou os olhos e gemeu mais alto. Era a loucura que fazia seus dias valerem a pena. E ele se considerava um homem de sorte. Tinha duas mulheres perfeitas. Uma humilde e inocente, outra devassa e maliciosa. Era a água e o vinho. Ele não conseguia viver sem as duas. O que tinha em uma faltava na outra e pra que em sua vida nada mais faltasse, ele as mantinha ao seu lado. Não conseguia viver sem elas.
Só que percebeu que ambas não estavam satisfeitas. Taciana vinha agindo de um jeito diferente. Não tinha mais brilho nos olhos, não se aconchegava ao seu abraço para dormir, ele não sentia mais em sua casa a alegria que sentia todas as manhãs. Agora tudo era apagado, escuro. Ela não cultivava plantas, não enchia os jarros de flores. Ela havia minguado. Talvez se ele a levasse há um bom restaurante aquela noite, ela se animasse um pouco. Com certeza quando visse o presente que tinha pra ela, se animaria novamente.
Já Amanda vinha sendo um tanto ciumenta. No começo da relação, ela aceitava numa boa que ele era casado e até dizia preferir assim, mas de uns meses pra cá, o fogo dela vinha o deixando com medo. Ela continuava melhorando nas artimanhas sexuais, o surpreendia com fetiches novos, e isso o deixava louco. Presenteava-lhe e a levava para sair. Dava-lhe um tratamento de rainha. E não vinha sendo suficiente. Ela queria passar algumas noites inteiras com ele. E por mais tarde que ele chegasse em casa, nunca estava bom pra ela.
Como lidar com duas mulheres de temperamento diferente, com problemas diferentes? Ele era esperto, conseguiria. Mas naquele momento, tudo que pensava era em não gozar dentro daquela bocetinha cor de rosa. As atitudes de sua esposa o fizeram perceber que esteve sempre a pouco de arrumar um bacuri fora do casamento. E isso não ia ser bom.
Jonas olhava pra ela dançando na pista. Era daquilo que ela gostava. Por mais pacata que demonstrasse ser, Taciana era um furacão. E gostava de dançar, isso lhe fazia bem. Ele se sentia atraído cada vez mais por ela. E pelo que pode perceber, alguns marmanjos também estavam atraídos. Quando começaram a se aproximar de mais, ele resolveu interromper e puxá-la de volta há mesa mais afastada que eles conseguiram pegar.
-Gostou desse lugar?
-É incrível. Não vou em um lugar assim, desde minha despedida de solteira.
-Deve ter sido quente.-Ele sorriu quando ela corou e ofereceu um copo.-Então, está casada há quanto tempo?
-Quatro anos.
-E se casou mesmo com dezoito? Por que tão nova?
-Ah, foi quase um arranjo.-Ela suspirou enquanto passava o dedo na borda do copo.-Eu queria estudar, viajar, sair. Mas acabei me casando e parei no tempo.
-E por que casou? Não dava pra adiar?
-Não, a situação em que vivia não dava para esperar.-Ela olhou pra ele, precisava desabafar, mas não sabia se podia. Guardou os sentimentos mesquinhos e egoístas todos para si nos últimos anos.-E você não tem uma namorada, alguém com quem queira se casar algum dia?
-Não. Tive namoradas, mas a última me deixou por um milionário.-Ele sorriu.-Acabei deixando pra lá, as coisas as vezes têm retorno positivo quando menos esperamos.
-O que quer dizer com isso?
-O de sempre.-Ele segurou a mão dela.-Sempre há esperança. Mas me diz, tem algo que você quer dizer e não consegue.
-Não, é bobeira.
-Fala, eu descubro se é ou não.
-Na verdade, são pensamentos egoístas. Eu queria não pensar dessa forma.
-Que pensamentos são esses?
-Gostaria de me afastar dessa vida. Deixar meu marido, ainda tenho tanto tempo pela frente. E enquanto estiver ao lado dele, não vejo um futuro feliz.
-Não tem nada de egoísta nisso. É um direito seu, não querer continuar casada.
-Não é não.-Ela tomou um gole do drinque cor de abóbora e suspirou sentindo a garganta queimar.-Minha família depende de mim.
-Ah.-Ele recostou na poltrona e olhou para ela.-Você os sustenta?
-Mais ou menos. Na verdade, meu irmão.-Ela fechou os olhos um minuto e tomou mais um gole.-Ele tem paralisia, minha mãe não tem condições de sustentá-lo sozinha. São muitos tratamentos, muito dinheiro. Quando conheci o Jorge, havíamos acabado de perder a casa e o carro em tratamentos caros. Tudo que nos restava era o nome conhecido. Nos apresentaram em uma festa, minha mãe deu um jeito de conseguir o casamento mais rápido do que eu imaginava.Também não fui inocente, eu queria me livrar dela, queria viver um conto de fadas. Queria estar fora do alcance dos problemas que nossa família enfrentava e que eram descontados em mim.
-São só vocês três?
-Meu pai morreu quando eu tinha quinze anos. Tenho uma irmã mais velha. Ela sumiu no mundo. Eu sou a caçula dos três. Meu irmão tem vinte e cinco.
-Mas se você se separar do seu marido, ainda consegue uma boa pensão.
-Não, eu não consigo nada. Na verdade, nosso casamento é cheio de acordos pré-nupciais. Quando assinei, pensei que seria fácil. Afinal, viveria na boa vida, morando em um lugar bonito, podendo comprar o que quiser e viajar pra onde quiser.
-E não é assim?
-Depois que me casei meu irmão teve algumas complicações. Toda atenção está voltada pra ele. Não estou reclamando, entenda bem, amo o Tobias de mais, por ele eu enfrento o que for. E só por ele faz sentido continuar assim.
Jonas já não conseguia ouvir, Taciana não conseguia falar. Os olhos estavam cheios, ela lutava contra as lágrimas. E ele não queria vê-la chorar. Não aceitava que um anjo como ela sofresse. A puxou para o abraço e deixou que ela se acalmasse a confortando de forma protetora. Tudo que ela precisava no momento era daquilo. E ele tinha tudo que ela queria. Um par de braços confortáveis e ombros acolhedores.
Ficaram algum tempo no canto abraçados, ele recostou e ela deitou em seu peito. Fechou os olhos, ouviu o batuque do peito dele e parecia música. Se sentiu em casa e isso a assustava. Não queria se envolver, porque sabia dos riscos que corria.
***
Quando Jorge chegou, já passava da meia noite. Taciana o mataria. Ele perdeu o aniversário de casamento. Ela teria razão em brigar. Subiu direto ao quarto. A cama estava bagunçada com algumas roupas. Ele suspirou, ela devia estar arrumada esperando por ele. Sentiu-se um canalha. Desceu procurando por ela em todo canto. A casa estava silenciosa.
Foi para o escritório. Ela devia estar por lá lendo algo pra passar o tempo. Quando abriu a porta, viu um embrulho sobre a cadeira. Era um presente para ele. Pegou a folha rasgada aonde ela escreveu: Feliz aniversário de casamento.
Colocou o quadro sobre a mesa e começou a rasgar o pacote. Estava com a face voltada pra baixo. Jogou o embrulho no chão e virou o quadro. Amanda apareceu do outro lado, nua. Os seios de mamilos rosados, os olhos verdes, os cabelos lisos jogados no ombro. Era um retrato perfeito. Mas o que significava aquilo?
Ficou furioso, pegou o celular e ligou para Amanda. Ela não atendeu. Ela teria que explicar quando pousou para aquela pintura. E por que não o falou sobre aquilo.
Só então pensou no óbvio. Taciana sabia de tudo. Não estava ali, um bilhete com palavras frias foi deixado sobre o quadro de sua amante nua. Isso só queria dizer que ele estava ferrado. Que nem todo o roseiral do mundo concertaria o estrago. Então, já que não adiantava remediar, ignoraria. E se ela perguntasse, negaria. Agora só restava encontrá-la. Com certeza devia ter ido pra casa da mãe. Era o único lugar pra onde ia ultimamente.
Ligou pro celular dela e chamou até cair na caixa postal. Deixou uma mensagem sentida, se desculpando por ter chegado tarde. Dizendo que iria se redimir e que era para ela ligar assim que visse a chamada.
Provavelmente quando acordasse, ela ligaria pra ele no primeiro momento.
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A cabeça doía e apesar de estar sentindo a boca com um gosto acre, não sentia enjôo. Onde estava? Olhou em volta. Era um quarto pequeno. Seria um motel? Deus, ela teria dormido com Jonas em um motel? Estava perdida. Quando tirou o edredom de cima do corpo, viu que continuava vestida. Só estava descalça. A bolsa estava sobre a escrivaninha. Tirou o celular de dentro, tinha chamadas perdidas. Forçou os olhos pra enxergar, estavam embaçados. Viu três chamadas de Jorge. Ignorou. Mas viu que tinha duas de sua mãe. Agora sim, estava encrencada. Será que ele havia ligado pra casa dela?
Onde Jonas estaria? Olhou no relógio, dez horas da manhã. Seu desespero aumentou. Por que dormira tanto? Estava muito encrencada. Encontrou o banheiro da suíte e foi lavar o rosto. A maquiagem estava borrada, estava com cara de morta. Lavou o que pôde e tentou reaplicar com o que trouxera na bolsa. Mas o kit de higiene estava no carro. Se virou como deu. Precisava saber como chegou ali e encontrar uma desculpa para dar para os dois.
Desceu a escada em caracol com os sapatos nas mãos. Jonas assistia há um programa matinal enquanto colocava a mesa do café da manhã. Ela estava morrendo de vergonha, queria não dar de cara com ele. Queria na verdade que a terra a engolisse.
-Ah, você acordou.-Ele sorriu de uma forma simpática, mas os olhos de Taciana estavam sobre seu tórax.-Não quis te acordar, você estava precisando descansar. Fiz o café.
-Não vou poder ficar. Na verdade, nem sei o que dizer para meu marido, para justificar o sumiço.
-Diz que estava com uma amiga.
-Não tenho amigas.-Ela suspirou.-Tenho, mas não mantenho contato com elas ultimamente.
-Então diz que estava com seu amante. Rapidinho ele toma jeito.-Ele sorriu e ela ficou séria, parada no meio do caminho abraçada aos sapatos.-Relaxa, foi só uma brincadeira.
-Nós dois...
-Não, não aconteceu nada entre nós dois. Você bebeu um pouquinho além da conta e eu a deitei na cama porque você estava zonza. Só isso.
-De qualquer jeito, eu devia ter ido embora. Vou ter que passar na casa da minha mãe ainda.
-Quer que eu te leve?
-Não precisa Jonas. Você já fez de mais por mim.-Ela olhou em volta e suspirou.-Sinto muito dispensar, mas estou mesmo atrasada pra bater o cartão.
-Certo. –Ele a acompanhou até a porta, ela parou para calçar os sapatos e desceu logo atrás dele.-Posso te ligar há tarde?
-Pode.-Ela se voltou.-Tem meu número?
-Tenho a ligação de ontem.-Ele sorriu.-Guardei seu número.
-Então ta.-Ela sorriu e abriu a porta do carro.-Sobre aquela conversa.
-Ninguém nunca vai ouvir nem uma vírgula do que foi dito.-Ele tocou o rosto dela com a mão em concha, acariciando devagar.-Você pode contar comigo sempre que precisar extravasar um pouco.
-Obrigada.-Ela tocou a mão dele e devagar a afastou de seu rosto.-Abre o portão pra mim?
-Pra já.-Ele apertou o botão na parede e o portão de abriu.-Ah mulher, você ta me fazendo pensar do jeito errado. E isso não pode acabar bem.
Taciana foi direto pra casa da mãe. Parou em um posto pra abastecer e foi ao banheiro se lavar e fazer uma maquiagem casual. Trocou o vestido por uma calça de moletom e uma blusa de algodão e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo.
Tinha até medo do que estava por vir, mas iria sondar devagar. Sua mãe era esperta, sabia manipulá-la. Mentir era impossível, ah menos que vivesse a mentira.
***
A galeria não abriria naquele dia. Jonas aproveitou para organizar-se para a exposição do fim de semana. Enquanto catalogava quadros, Amanda apareceu no interfone da entrada principal. Ele estranhou, aquilo era um problema. E queria evitar problemas.
Atendeu de dentro.
-Pois não.
-Sou eu, não ta me vendo?
-Amanda, a galeria está fechada.
-E eu com isso? Preciso falar com você sobre o quadro.
-O quadro foi vendido.
-Eu sei.-Ela olhou em volta e suspirou.-Abre a porta, é sério.
Ele abriu a porta. Sabia que iria se arrepender, mas abriu assim mesmo. Amanda atravessou a galeria com o salto fazendo barulho no piso de mármore. Vinha em um terninho vinho, apertado e decotado. Mostrava que era o tipo de mulher que tinha atitude e conseguia o que queria. E com ele era assim desde que a conheceu.
-Então, há que devo a honra?
-Qual é o seu problema? Tem alguma vadia aí dentro? Por isso não quer me deixar entrar?
-Não, só estou trabalhando. Você quer algo?
-Sabe quem comprou o quadro?
-Não, quem?
-A mulher dele.
-Dele quem?
-Do meu chefe.-Ela suspirou e sentou em um sofá negro.-Deu há ele de presente de aniversário de casamento.
-Jura? Será que ela sabe de algo?
-Ela disse algo?
-Não, muito. Gostou de vários quadros.-Ele resolveu mentir para proteger Taciana.-Até encomendou um de cavalos, mas disse que queria algo diferente. Tentei evitar que ela levasse aquele, mas ela gostou.
-Ela devia estar fingindo. Aquela mulher é traiçoeira.-Ela tirou o óculos escuros que estavam presos no topo da cabeça e suspirou.-Ela deve ter dito algo mais?
-Eu há atendi. Ela falou que queria decorar a casa com alguns quadros. E queria um especial para o escritório do marido. Gostou daquele e levou.
-Só isso?
-Só. Foi coincidência, eu acho.
-Foi uma triste coincidência.-Ela suspirou.-Ele quase rompeu comigo por causa do quadro. Ficou furioso por que não falei que havia posado.
-Pensei que esse caos todo, era porque ela podia ter descoberto algo.
-Estou preocupada, porque ela é manipuladora. Acredita que eles se casaram com dois meses de namoro? A cretina está com os dias contados. Deve estar procurando algo para se assegurar enquanto ainda há tempo.
-Deus, você está ouvindo o que diz?-Ela sentou na ponta do sofá.-É a mulher dele, você é a intrusa. E, no entanto, a culpada é ela?
-Por ele continuar casado, sim. Já era pra ele tê-la largado. Mas eu não vou desistir, ela está muito enganada.
-De repente se ela sabe, é questão de tempo pra deixar o caminho livre.
-Talvez. Ou vai deixá-lo na ruína, se tiver provas do adultério.
-Ela não faria isso.
-Como sabe?
-Não sei. Só acho.-Ele olhou para o relógio.-Tenho trabalho pra terminar. Você quer mais alguma coisa?
-Agora que falou.-Ela sorriu e se levantou, parando em frente há ele.-Eu gosto tanto de te desconcentrar.
-Amanda sossega esse fogo. Eu tenho muita coisa pra fazer hoje...
-Ah querido, desde quando você coloca sexo em segundo plano?-Ela sentou no colo dele, deixando os seios empinados há sua frente.-Sei que não resiste há uma bocetinha quente.
-Amanda...
-Shhh, me deixa cuidar de você, vai.-Ela começou a descer os beijos pelo peito dele, abrindo devagar a camisa e passando a língua pelos mamilos.-Eu estou com saudades desse brinquedo.
Jonas viu a mulher descendo beijos pelo seu tórax até parar no cós da calça e abrir o zíper. Ele já estava recostado no encosto do sofá, esperando pela magia daqueles lábios que tanto o fizeram feliz antigamente.
Amanda tirou o pau dele pra fora e sorriu. Ele estava sempre ativo, era puro fôlego. E tinha um talento enorme. Ela adorava começar chupando a cabecinha. Ele era grosso e tortinho, ela ia fazendo o traço dele com a língua e conforme ia lambendo, sua cabeça ia curvando para o lado. Jonas olhava pra ela como um tarado, mas permanecia com as mãos quietas. Uma encima do encosto do sofá, outra no braço. Ele não interrompia, a deixava se deliciar sozinha.
Amanda adorava poder possuí-lo como bem entendesse. Enfiou a cabeça do pau na boca e começou a sugar a cabeça, passando a língua e sugando com um pouquinho de força. Olhava pra ele, a cara ia mudando, a testa franzida, os lábios em uma linha fina. Isso a incentivava a ir mais há frente. Engoliu metade do pau dele e gemeu quando o sentiu pulsar. Jonas estava louco de tesão.
Mas ela não tinha muito tempo e queria uma trepada selvagem antes de chegar atrasada no escritório. Levantou-se devagar e virou para que ele abrisse o zíper de sua saia. Ele apertou com força seu bumbum com as mãos grandes e desceu o zíper. A saia foi deixando seu corpo lentamente. O traseiro ficou empinado há sua frente. Jonas não resistia. Abraçou as pernas dela e afundou o rosto entre aquelas duas maçãs redondas e perfeitas. Tirou a calcinha pro lado enquanto enfiava a língua no reguinho e subia pelas costas, a deixando louca.
Os dedos desceram pela linha de pelinhos na púbis, se encaminharam para o grelinho. Tocou de leve sobre ele com os dedos secos e desceu para a brechinha molhada. Amanda empinou o traseiro quando sentiu as mordidas dele na covinha perto do ânus. Ele a enlouquecia assim, instigando e provocando.
Jonas segurou ambas as bandas do bumbum dela e apertou entre si, fechando e abrindo.
-É hoje.-Ele falou em tom malicioso.
Há puxou para sentar mesmo de costas em seu pau. Amanda estava de salto, sentou encaixada a ele e a altura ajudou conforme subia e descia. As mãos de Jonas a conduziam, ele via o pau sumir embaixo dela, sentia o calor e a umidade acolherem seu pau. Se controlava, estava louco pra gozar.
Desde de que levou Taciana para a cama, estava se controlando. Sabia ser um cavalheiro, mas às vezes doía. Entre as pernas. Necessariamente no saco. A presença de Amanda ali foi até um alívio.
O mel escorria da boceta dela até suas bolas. Ela gemia conforme aumentava o ritmo e repetidamente sentava enquanto ele arremetia.
Tirou-a de cima de seu corpo e a colocou ajoelhada no sofá. O pau foi direto pra entrada traseira, sem lubrificação nem nada. Ela era acostumada. E estava com tesão. Ele penetrou devagar, e forçou o traseiro para trás. Ele a puxou pelo quadril, encaixou os dedos entre as coxas e o osso da bacia, a puxou com força e penetrou inteiro, até o talo. Amanda já não gritava, urrava levando vara.
Se Jonas não fosse tão orgulhoso, ela manteria uma relação com ele. Mas desde que descobriu que ela tinha um caso com um homem casado, ele se afastou, terminaram a relação e até agora ela não havia sentido falta dele. Como fora boba, um homem com uma vara daquelas, podia fazê-la feliz a hora que fosse. Enquanto Jorge corria pra songa monga.
As estocadas aumentaram, fazendo pressão sobre o corpo de Amanda, ela mal conseguia se segurar. Arriou o corpo sob o peso dele e gozou o quanto pôde.
Jonas tirou o pau de dentro dela e a puxou pelos cabelos. Quando ela se virou ele já estava gozando em sua cara.
-Droga Jonas, acertou meu olho.
-Relaxa querida, o máximo que pode acontecer é sua pupila engravidar.-Ele riu enquanto ela se encaminhava para o banheiro.-Essa mulher, ainda me deixa louco.
Voltou para trás da mesa e continuou com os cálculos. Lá vinha Amanda com o rosto lavado. Parou para ajeitar a maquiagem, colocou a saia e se aproximou da mesa.
-Tenho que ir.-Ela debruçou sobre a mesa e o beijou nos lábios.-Isso foi incrível. Quando podemos repetir?
-Eu te ligo.-Ele sorriu e se voltou para a tela do computador.-Fecha a porta quando sair, por favor.
-Você passou a noite aonde Taciana?
-Já disse, com uma amiga.-Ela sentou no sofá em frente a grande TV e suspirou.-Saí com umas amigas.
-Eu te conheço menina, você não tem amigas. O Jorge ligou pra cá hoje cedo perguntando por você. Você estava com um macho não é?
-Claro que não mãe. Que tipo de pergunta é essa?
-Você acha que me engana. Mas quando você entrou nessa vida, eu já tinha doutorado. Vamos, desembucha, quem é ele?
-Não existe “ele” algum.-Ela jogou a bolsa sobre o sofá e recostou.-Na verdade, eu estava com umas amigas. Lembra da Raquel? Ela veio passar as férias com os pais, me convidou pra ir com ao aniversário de uma amiga. Como Jorge não chegava, resolvi ir.
-Menina, se você estiver fazendo besteira, acho bom saber esconder.
-Eu não estou fazendo nada.-Ela suspirou.-O Tobi, como está?
-Bem, melhorou, graças a Deus a pneumonia regrediu. Aquele tratamento que o Jorge pagou caiu do céu.-Ela olhou para a filha.-Mas já que está aqui, vamos tomar café. Quero conversar com você uma coisa séria.
-O que aconteceu dessa vez?-Ela foi para a mesa apreensiva.-Está precisando de dinheiro?
-Não. É só uma coisa que está me encafifando.-Ela sentou há cabeceira da mesa e Taciana a acompanhou sentando ao seu lado, como sempre.-Taciana, há quanto tempo está casada com Jorge?
-Quatro anos, por quê?
-Por que, pergunto eu.-Ela a olhou séria.-Por que não engravidou ainda?
-Bem...-O rosto dela ficou vermelho, não esperava esse tipo de pergunta.-Porque não, só isso.
-Vocês estão evitando?
-Não, sim.... Mais ou menos. Eu acho cedo.
-Você é louca? Precisa de um filho pra garantir seu futuro. Jorge pode querer se cansar de você. Afinal, é tão sonsa...
-Mamãe!
-O que foi?-Ela a olhou séria.-Você devia ser mais feminina. Se deixar seu marido louco por você, não precisaremos nos preocupar com o futuro.
-Eu não estou preocupada com o futuro.-Ela sacudiu a cabeça enquanto tomava um pouco de chá.
-Deveria estar. Quando passar dos trinta, vai perder a graça. Toda mulher perde. Jorge pode querer trocá-la por mais duas de vinte.
-Ele não faria isso.-Ela a olhou espantada.
-Acorda Taciana, em que mundo você vive? Homens como Jorge, trocam de mulher como trocam de carro. São frios e egoístas. Eu passei por isso com o pai da Thayla. Aquele desgraçado só esperou a menina nascer e picou a mula. E ela foi a mais problemática.
-Mamãe, para. Meu pai era igualzinho ao Jorge e nem por isso a trocou.
-Você que pensa minha filha. Perdi as contas de quantas mulheres passaram pela nossa relação. Não existe homem que não traia. Basta à mulher saber segurar e manter o marido ao seu lado, mesmo que ele se divirta fora.
-Eu não acredito nisso.
-Acredite minha filha. Deixe de sonhar e encomende logo algumas crianças. Pelo menos três. Quanto mais bebês, mais ele ficará ao seu lado.
-Estou nova para ter filhos. Ainda pretendo estudar e...
-E nada. Você teve quatro anos, tempo suficiente para fazer faculdade. Não estudou por que não quis.
-Não estudei porque estava cuidando do Tobias e de você. Acha mesmo que depois de toda fortuna que o Jorge gastou com a gente, eu teria coragem de colocar a despesa de um curso caro nas costas dele?
-Você está dizendo que a culpada sou eu? Ou pior, seu irmão que está encima da cama convalescendo?
-Não mamãe, não disse isso.-Ela suspirou e afastou a cadeira da mesa.-Eu vou ver o Tobias.
O quarto estava arejado, a televisão ligada reproduzia sons relaxantes de cantos de pássaros. Alguém disse que era um bom tratamento. Taciana achava triste.
-Tobi?-Ela sentou na cama e o irmão virou os olhos em sua direção.-Olá querido, está se sentindo melhor? Vim te dar um beijo, ver como você está, se precisa de algo. Amanhã pela manhã vou levá-lo para dar uma volta. Hoje estou um pouco atrasada, mas prometo que amanhã levo você pra passear na orla.
O rosto dele se iluminou, ela sorriu e o beijou na testa. Se não fosse a doença, seu irmão seria um jovem lindo. Taciana pensou naquele momento no que a mãe falou. Fazia sentido. Ele precisava dela, um bebê poderia garantir seu futuro. Ou um emprego. O que seria menos doloroso quando houvesse a separação.
Saiu do quarto depois de trocar a música relaxante por um programa de futebol e quando passou pela sala de jantar, sua mãe parou há sua frente.
-Você tem dois meses.
-Dois meses pra que?
-Pra engravidar. Se nesses dois meses você não arrumar um bebê, iremos há uma clínica de fertilização. E você fará os tratamentos que forem. Ponha isso na sua cabeça, apegue-se há essa idéia. Você vai ter um bebê.
Taciana passou por ela aflita, pegou a bolsa e saiu. Sua mãe estava falando sério e isso há assustava. Fechou-se dentro do carro e olhou no espelho. Que vida louca. Precisava dar um rumo naquilo tudo, ou nada faria sentido mais.
Quando chegou em casa, ficou apreensiva. Jorge não havia saído para trabalhar. Era quase meio dia, ele estaria bem? Ou teria voltado para casa na hora do almoço?
Entrou em casa calada, estava tudo silenciosos, como sempre. Subiu as escadas e foi em direção ao escritório. Quando abriu a porta, o viu sentado diante do computador, com o telefone pendurado no ombro.
-Não Carlos, a apresentação da propaganda da campanha de protetor solar foi adiada para amanhã pelo cliente. Me passe o esboço da campanha da “Lótus”. Mande a Amanda adiantar a papelada do contrato...
Taciana assimilou o nome há pessoa. Saiu dali fechando a porta bruscamente e foi para o banheiro esfriar a cabeça e o corpo. Eram muitas responsabilidades. Precisava arejar a cabeça, pensar em algo urgente para tirá-la daquele sufoco. Uma porta de escape para as confusões que estavam rodeando sua vida pacata.
Jorge abriu a porta do banheiro. Ela estava embaixo do chuveiro, encostada na parede deixando a água fria escorrer por suas costas. Ele tirou as roupas rápido. Resolveu ficar em casa, estava mais confortável. Logo as roupas fizeram um monte ao pé da porta. Abriu à porta de vidro, Taciana não o fitava nos olhos. Ele a voltou para si, fingindo estar tudo bem. A puxou para o abraço, os braços dela ficaram caídos ao lado do corpo. Ele achava que ela estava magoada.
-Me perdoe, eu fiz o possível para chegar cedo ontem. Queria levá-la para jantar, comemorar o nosso aniversário do jeito certo, mas acabei me enrolando com um cliente urgente.
-Pode parar Jorge.-Ela se afastou dele e pegou um vidro de sabonete líquido, deu nas mãos dele e virou as costas para que ele a ensaboasse.-Sei que passou a manhã toda inventando a desculpa perfeita para justificar o tempo que perdeu com a Amanda em um quarto de motel.
-O que? Taci, de onde tirou essa idéia?
-Pode parar Jorge. Não perde tempo negando, não vai colar.
-Taciana, eu não estou entendendo do que você está falando.-Ele deslizou as mãos ensaboadas pelas costas dela, deu uma atenção especial para os ombros e a nuca e foi descendo pelas costas.-Vamos conversar sobre esse seu delírio mais tarde. Agora, o que acha de irmos almoçar no shopping?
-Por que no shopping?
-Porque podemos dar uma volta, comprar alguma coisa. Faz tempo que não saímos assim. Você gostava tanto.
-Ta, pode ser.
Ela ergueu o rosto para a água fria e sorriu. Era relaxante. Era bom, seus olhos pareciam inchados e a água fria aliviou a tensão. Tanto que conseguiu falar com Jorge sem gritar. Era um progresso, perto da raiva que ela sentia.
A vendedora da joalheria conhecia Jorge. O tratou como cliente preferencial. Já foi logo separando umas peças que ele havia pedido.
-Aqui querida, o que acha desse?
-É bonito.-Taciana olhou pra a gargantilha e suspirou.-Por quê?
-Se a senhora preferir, tenho uns com mais pedras...
-Não, eu não gosto. Até mesmo por que, no estado onde moramos, nem dá pra usar uma coisa dessas.
-Prefere uma pulseira? Ou um anel. Brincos, toda mulher adora brincos,-A vendedora puxou uma caixa de veludo contendo diversos brincos pequenos.-Você parece gostar desses.
-São lindos.-Ela fechou o semblante.
-Escolhe algo querida.
-Por quê?-Ela debruçou sobre o balcão e olhou em volta.-Nosso aniversário foi ontem, devia ter comprado o presente antes.
-Seu presente está em casa.-Ele falou sério e apontou para umas borboletas de ouro.-Experimente esses. Você gosta de borboletas.
A vendedora tirou a peça e deu nas mãos de Taciana. Ela olhou para os brincos, tirou os que usava e substituiu pelas peças novas. Olhou-se no espelho, mas nem sabia por que. A vendedora já estava desanimada quando ela sorriu.
-Tem razão, esse é bonito.
-Ah então me deixa mostrar a gargantilha. É um conjunto, também tem uma pulseira divina.-Ela puxou duas peças de dentro de uma gaveta de vidro.
-Não precisa.-Ela olhou para Jorge suspirando.
-Você não gostou?
-Gostei, mas é que é muita coisa. Não precisa mesmo.-Ela tirou os brincos e colocou os seus de volta, o telefone começou a tocar.-Com licença.
Ela saiu de perto deles e tirou o aparelho da bolsa. Quando viu o nome de Jonas o coração começou a acelerar no peito. Saiu da loja para falar com ele.
-Alô.
-Oi Taciana. É o Jonas. Estou atrapalhando?
-Não, imagina. Você acabou de me livrar de uma situação chata.
- Que bom.-Ele ficou um tempo calado.-Eu queria saber como você está. Quando saiu daqui, parecia tão preocupada.
-Estou bem, obrigada.-Ela foi caminhando devagar e viu uma loja de artigos de bebês, parou em frente.
-E seu marido fez alguma pergunta?
-Não, ele não se importou.-Ela tocou no vidro ao ver uma boneca semelhante há um bebê, deitada em um berço.-Está em uma joalheria tentando me comprar pelo deslize.
-Ah, entendi.-Ele deu um longo suspiro.-Queria saber se podemos marcar um outro dia. Irmos ao cinema, ou fazer algo que você queira. Afinal, disse que não costuma sair muito.
-Quando estará livre?
-Durante a semana. No final de semana tem uma exposição importante na galeria.
-Bom, podemos sair na sexta.-Ela falou mecanicamente.-Hás nove está bom pra você?
-Está sim.-Ele suspirou.-Te ligo pra confirmar.
-Tudo bem. Até lá.
Ela desligou o celular e ficou olhando o quarto lilás de bebê. A bonequinha era perfeita, parecia um bebezinho mesmo. Ela fantasiou por alguns instantes aquilo tudo. O Quarto, as roupinhas. Tinha uma grávida lá dentro escolhendo roupas de menino. Ela ficou admirando sua barriga, era tão volumosa sob o vestido longo. E ela parecia tão feliz.
-Você está grávida?-A pergunta de Jorge fez Taciana dar um pulo e sair do transe.
-O que?-ela começou a gaguejar desconcertada.-Claro que não!
-Então pretende ficar?
-Não.-Ela deu as costas para a vitrine e se afastou com ele em seu encalço.-Uma amiga está grávida. Fui convidada para o chá de bebê. Estava olhando apenas.
-Amiga é?-Ele a fitou bem.-Taciana, me olha nos olhos.
-O que você quer?-Ela parou os olhos na direção do rosto dele, sem fita-lo diretamente nos olhos.
-Você está estranha.
-É impressão sua.-Ela virou o rosto procurando algo que a distraísse.-Olha, eu posso ir ali?
-Claro meu amor, vai em frente.-Ele sorriu quando ela entrou em uma loja de lingerie.-Faz a feira.
Ela passou os olhos em algumas peças. Sabia que vestido usaria sexta há noite, precisava de uma lingerie que não marcasse e fosse sensual.
Quando se deu conta de que sua cabeça estava lhe pregando peças, se assustou. Andava pensando besteiras. E Jorge estava por perto, era esperto. Ia acabar percebendo. Ela escolheu uma peça branca. Um corset tomara que caia com um caleçon quase transparente. Jorge se aproximou e a abraçou por trás.
-Escolhe uma vermelha.
-Não gosto.
-Mas eu gosto.
-Então escolhe uma do seu tamanho.-Ela sorriu com o próprio comentário.
-Não me faça escolher por você.
-Não queira me ver como a Amanda. Eu não sou ela e não vou imitá-la pra te agradar.
-Pelo amor de Deus, a Amanda e eu não temos nada.-Ele suspirou e apontou para uma peça preta e vermelha.-E ela não usaria uma dessas. Você sim é a sua cara. Comportada e sexi. Vamos levar. E você vai usá-la hoje há noite.
-Vai sonhando.
Ela não conseguia dizer não. Depois de todos os esforços de Jorge para agradá-la, Taciana se deu por vencida e acabou cedendo. Vestiu o conjunto vermelho e preto e ajustou as fitas de cetim ao seu tamanho. Olhou-se no espelho, perdida dentro de si mesma. Penteou os cabelos com um pente de dentes largos e moldou os cachos largos.
Quando Jorge chegou ao quarto, ela estava sentada em frente à penteadeira com o pente na mão, olhando para sua imagem. Ele estava preocupado com ela. Talvez estivesse em depressão. E ele tinha medo do que ela poderia fazer nessa situação. Será que continuar negando seu envolvimento com Amanda faria bem há ela?
Encostou a porta do quarto e se aproximou. Taciana voltou o corpo pra ele, ainda sentada. Como conseguia ser tão linda? E ele, como podia ser tão canalha? Quando estava com ela não precisava de mais ninguém, mas quando via Amanda... Ela estava pregada há ele.
Enquanto caminhava até ela, Jorge desligou-se dos problemas. Os olhos dela o fitavam com uma pureza que fazia seu sangue ferver. Ele aproximou-se e ajoelhou aos seus pés. Tocou o rosto dela com a ponta dos dedos, subiu para os lábios, ela ainda não o olhava nos olhos. Ele a beijou. Não conseguia mais segurar. Precisava senti-la.
Taciana retribuiu ao beijo com nojo. Enquanto ele a beijava, ela imaginava aonde aqueles lábios tocaram naquela mulher. Seus olhos marejaram ao perceber que poderia nesse momento, estar beijando a boceta de outra. Afastou-se dele, há muito tempo tinha nojo de beijá-lo.
Jorge sentiu o cheiro dela, a temperatura. Fechou os olhos ao beijar a pele suave do pescoço. Ela se arrepiou inteira, enquanto ele sugava aquela parte sensível.
Ajudou-a a se levantar. Ele se pôs atrás dela e a virou de frente para o espelho. Enquanto fitava seu reflexo, subia e descia as mãos da linha do quadril, até os seios. Segurou ambos nas mãos e beijou-lhe o ombro. Ela continuava com os olhos baixos, a expressão vazia. Ele já estava se cansando daquela frieza. Faria aquela mulher sentir-se viva naquele momento.
Começou a desamarrar os laços da lingerie enquanto acariciava a pele macia. Ela não se moveu. Então ele a virou para si e a beijou mais uma vez.
-Me lembro da nossa primeira vez.-Ele afastou os cabelos dela do ombro e beijou ali.-Foi há quatro anos atrás, durante a lua de mel. Naquele quarto de hotel, há beira da praia. Você gostou?
-Uhum.-Ela murmurou enquanto ele deslizava as mãos por suas costas.
-Você tinha tanto fogo, gostava de tudo que eu fazia, retribuía há cada beijo, cada carícia. Naquela noite fizemos um pouco de tudo.
-Eu sei.-Ela deitou a cabeça no ombro dele, com os olhos cheios.
-Eu quero aquela mulher de volta.-Ele a apertou no abraço.-Com a mesma paixão, a mesma forma de se entregar.
-Se queria mantê-la ao seu lado, por que a traiu?
-Taci...
-Eu quero o divórcio.-Ela se afastou um passo sem acreditar no que havia dito.
-Não.-Ele suspirou.-Está fora de cogitação.
-Por que não? Não seria melhor se casar com a Amanda?
-Esquece a Amanda.
-Como esquecer? Ela já tomou meu lugar na sua mente, no seu coração. Por causa dela você me deixou esperando na noite do nosso aniversário. Você dá preferência há ela em tudo, todos os dias. Me dá o divórcio e vai ser feliz com ela.
-Taciana, divórcio não é brincadeira.
-Casamento também não. E eu não quero viver o resto dos meus dias há sombra de outra mulher. Sabendo que você mente, que é falso.
-Mas eu... não quero ficar sem você.
-Só agora notou?-Ela deu dois passos para longe dele e sentou na cama.-Não sei como, mas vou me virar e sair daqui. Só quero um tempo pra me organizar, encontrar um emprego e...
-Para com isso mulher.-Ele ajoelhou aos pés dela e a fitou nos olhos.-Eu não vou deixar você fazer isso. Eu te amo, quero ficar casado com você.
Os olhos dela se encheram, as palavras sumiram. Ele já havia dito isso antes, mas naquele momento era tão bom ouvir aquelas palavras. E ele falou como nunca havia falado. Com emoção.
Ele a beijou, dessa vez, aos poucos ela retribuiu. Ele forçou o corpo dela e deitaram-se na cama. Jorge beijou o pescoço e o ombro dela enquanto puxava a alça da lingerie. Desceu os beijos para os seios e os descobriu por inteiro para beijá-los e sugá-los.
Ele não a deixaria ir embora. Não a deixaria fugir dele daquele modo. E só tinha um jeito de fazer Taciana ficar.
Ele a despiu, o corpo dela era perfeito. Os lábios se encontraram e dessa vez, ele continuou a beijá-la, antes de penetrá-la. As línguas se enroscaram, ela o puxou para si. Isso, ele a queria assim, viva e sensível ao seu lado. Começou a se mover devagar dentro dela. Ela estava molhada, ela sentia o mesmo que ele sentia naquele momento. E a culpa o matava, por que Taciana era toda feita de cristal e ele havia quebrado a melhor parte dela.
Taciana se desconcentrou um instante. Esqueceu os problemas, sentiu o corpo estremecer de desejo, rebolou embaixo de Jorge, acolhendo e sentindo-o entrando o mais fundo que podia. Suas unhas arranhavam as costas dele, ela fechou os olhos e gemeu. Seu corpo estava quente, ela precisava sentir mais. Queria sentir uma coisa que nunca sentiu antes.
E Jorge não podia mais se segurar. Quando ela o puxou para se aprofundar mais, ele aumentou o ritmo até gozar. Dentro dela. Aonde devia ser feito.
Quando caiu sobre ela, ela ficou quieta. Respirava lentamente e suspirava.
-Já?-Ela perguntou percebendo que ele amoleceu.
-Daqui há pouco tem mais, calma.
-Você gozou?-Ela o afastou de si.-Dentro de mim?
-Qual é o problema?
-O Problema é que eu não confio em você.-Ela se levantou apressada.-Sabe lá com quantas vagabundas tem trepado. Se me passar algo, eu te mato.
Se trancou no banheiro batendo a porta com força. O modo como ela falou com ele o deixou irritado. Olhou para as passagens que tinha comprado de presente para ela e considerou se daria. Então pensou no óbvio. Ela tinha razão. Ele não transava com camisinha. Deus, iria pagar a noite inteira pelo seu pecado? Sempre que conseguisse amenizar as coisas, ela iria agir assim?
Levantou-se devagar e pegou as passagens. Entrou no banheiro, a encontrou se lavando. Quando se aproximou, viu que os olhos dela estavam molhados.
-Para com isso e me escuta.-Ele a puxou para si.-Comprei isso pra nós dois.
-Passagens? Pra onde?
-Paris.-Ele acariciou o rosto dela.-Vamos tirar uma semana. Viajamos, ficamos juntos. Tentamos de novo. Se você quiser continuar com a idéia de se separar, quando chegarmos resolvemos isso. Mas só te peço uma semana pra tentar concertar as coisas.
-A Amanda também vai?
-Esquece isso.-Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos e a beijou.-Você quer ir comigo?
-Quero. Quando embarcamos?
-Sexta feira há tarde.
-Certo.-Ela baixou os olhos.-Vamos dormir então?
Crescente. Mas passam uns dias
Começamos a crescer, a iluminar
As flores parecem com mais vida
O sol começa a brilhar
E toda depressão é jogada no ar
Para o vento levar
Ela tocou o interfone da galeria por volta das nove. Jonas estava no banho, saiu correndo pra atender. Quem seria? Algum de seus amigos? Passou o olho no sistema de câmeras. Viu a figura encostada ao carro e ficou sério. Não podia ser ela. Era?
-Taciana?
-Oi, preciso falar com você. Vim em má hora?
-Não. Pode subir, estou no banho,
-Ta.
Ela esperou ele abrir o portão e entrou. Estacionou na frente da escada, olhou em volta. Parecia um bicho sedento. E não conseguia pensar em não seguir adiante. Deixou o sobretudo no banco do carro, subiu as escadas de ferro como estava, seus saltos faziam um barulho contínuo, denunciando sua chegada.
Ela abriu a porta, entrou. Ele estava no banho, ela o queria e não esperaria dessa vez.
Subiu a escada em caracol e chegou no quarto. A porta do banheiro estava aberta. Ela se aproximou vacilando um pouco. Olhou em volta, tomou fôlego e adentrou ao banheiro.
Jonas sentiu a presença dela. Se voltou para a porta. O vidro do Box era da metade para baixo fosco e na parte de cima era liso. Quando a viu ele não sentiu surpresa. Surpreso mesmo ficou, quando viu o modo como ela estava vestida. Aquilo queria dizer uma coisa e ele entendia daquilo.
Abriu a porta do Box devagar, a olhou de cima há baixo. Tão inocente, tão pura e tão doce. E ele não iria se controlar. Não com ela vestida daquele jeito, não com ela olhando pra ele como se quisesse devorá-lo.
-Você sabe o que está fazendo?-Ele perguntou estranhando.
-Sim.-Ele terminou de abrir a porta de vidro e ficou a frente dela, inteiramente nu.-Uau.
-Isso, quem tem que dizer, sou eu.-Ele ergueu a mão para ela, que se aproximou vacilando os passos.-Parece até um sonho. Um anjo como você aqui, comigo.
Os lábios dele procuraram os dela. Taciana derreteu no instante em que os braços fortes rodearam sua cintura. Encostou-se ao peito molhado dele e todo seu corpo conectou-se de novo há vida. Ela estava de volta. Ela ainda era capaz de sentir tesão. Ainda sentia a boceta pulsar no insano desejo de ser penetrada.
Intensificou o beijo. Jonas mal conseguia se segurar. O corpo dela era quente, sentiu a pele suave sob seus dedos e a ereção chegou a latejar. Começaram a caminhar para fora do banheiro, em direção ao quarto. As mãos dele lhe apertavam com força e a puxavam para si, queria sentir todo o corpo dela contra o seu e as mãos dela, com a mesma avidez o tocavam e apertavam. Procurava sentí-lo nas pontas dos dedos, os músculos dos braços, as ondinhas do abdome, a perfeição das costas. Ela sabia que aquele homem era uma delícia, mas não sabia que era perfeito daquele jeito.
Ele a encaminhou para o quarto e ambos caíram sobre a cama. O Corpo dele por cima do dela. Ele queria admira-la. Queria tocá-la e levá-la ao céu. Nunca havia ficado nervoso, nunca sentiu-se tão ansioso. Perdeu até a linha de raciocínio, enquanto suas mãos deslizavam pela cintura dela.
A adrenalina percorria o corpo de Taciana. Ela mal estava sendo tocada e já se sentia sensível e sabia que podia gozar há qualquer momento. Ela amava aquela sensação. Não sentia o corpo estremecer sob o fôlego quente de um homem há muitos anos.
Ele estava hipnotizado pelo movimento que o peito dela fazia ao subir e descer. A respiração estava cortada, conforme ele subia os dedos para a curva dos seios, ela sustentava a respiração e se perdia em seu prazer próprio. Jonas sentia o pau doer. Respirou fundo, com a boca seca, desceu os lábios para o decote dela. Os seios estavam espremidos sob o espartilho. Ele desceu uma mão para o traseiro empinado, enquanto a outra puxava para baixo a barra do espartilho sem alça.
Ela mordeu o lábio quando ele começou a sugar seus seios. Empinou o busto na direção dele, enlouqueceu quando a corrente de adrenalina rompeu dentro de seu corpo. Abriu os lábios e gemeu ao sentir o intenso sugar dele sobre seus mamilos. A mão que descia por cima de sua calcinha, descobrindo o ponto molhado e quente. O desejo aumentava, ela queria sentir mais daquilo. Começou a buscar da mesma forma.
Jonas se afastou dela, encaixou os dedos nas bordas da calcinha branca e puxou. Descobriu aquela pele pálida e suave. Não havia pêlos que lhe atrapalhassem a visão em nada. Arrancou a calcinha dela de uma vez e não podia esperar. Era demais prolongar as coisas, quando eles mal agüentavam esperar por aquela união.
O corpo dele deslizou para dentro do seu aos poucos. Parecia estar acontecendo em câmera lenta. Jonas alternava o olhar entre seus olhos e o ponto aonde seu pau sumia aos poucos. Quando ela sentiu tocar o fundo, todo seu corpo estremeceu. E toda aquela energia vinha dali, daquele ponto aonde ele penetrava lentamente. Ela podia senti-lo perfeitamente. O prendeu por alguns instante, queria mais. Queria engoli-lo inteiro.
Jonas deitou sobre ela. Mexia-se lentamente dentro dela enquanto subia os beijos pela mandíbula até os lábios. Os braços dela prenderam-se em volta de seu pescoço, ele a abraçou pela cintura. Ficaram alguns instantes provando suas bocas quietos. Jonas os virou de lado, subiu uma perna de Taciana e começou a estocar devagar. Ela gemeu perdida em seu prazer pessoal. Rebolava de encontro a ele no mesmo ritmo em que ele a penetrava.
Ela queria, precisava, ansiava pelo gozo. E não conseguia se controlar. Colocou-se por cima devagar e começou a cavalgá-lo. Do jeito que gostava, devagar e ritmado ao mesmo tempo. Rebolava devagar, a cabeça pendia pra trás. Jonas a segurou pela cintura, puxando-a de encontro ao seu pau com um pouco mais de força. E ela gemia mais alto conforme o sentia atacar cada vez mais fundo, abrindo caminho aonde ninguém mais foi.
Ela queria gozar, ele queria gozar. Ambos estavam soltos, deixaram seus corpos se moverem livremente e aumentaram a freqüência das penetrações, até o gozo vir. Para ambos, que pulsaram juntos e perderam as forças, caindo sobre a cama abraçados.
-Isso foi...-Ela mal podia falar, seus olhos estavam pesados, o corpo pedia descanso.-Eu nem quero dormir, só quero sentir isso mais um pouco.
-Eu também quero.-Ele a aconchegou no abraço, aos poucos foram se ajeitando embaixo das cobertas.-Você é louca Taciana. O que foi isso?
-Não gostou?
-Claro, não podia ter sido melhor. Mas você me garantiu que não estava ansiosa para dar o troco.
-E quem disse que dei o troco?-Ela o fitou nos olhos.-O que vim buscar aqui com você Jonas, é algo que não sei explicar. Não foi o sexo, nem o gozo. O que vim buscar aqui, foi o que você tem me passado desde o primeiro olhar. Eu queria um homem que me respeitasse, que me amasse e que fizesse valer a pena a entrega. Eu queria me sentir viva, aquecida. Você me deu isso, sem eu precisar pedir.
-E é só isso?
-O que mais poderia ser? O que mais você queria?
-Nada.-Ele pensou suspirando.-Você me surpreende mulher. Só isso. Eu sabia que estava me arriscando procurando uma mulher casada.
-Mas eu te procurei.
-Verdade.-Ele enfiou os dedos entre os cabelos dela e a segurou pela nuca.-Estou louco por você, minha lua.
-Lua?-Os olhos dela brilhavam, deixando Jonas ainda mais apaixonado.-Por quê?
-Linda, fria, distante e casada.
-A lua é casada?
-Dizia o Raul, que era casada com São Jorge.-Ele tocou o nariz dela enquanto cantarolava.-Lua bonita, se tu não fosses casada, eu preparava uma escada e ia no céu te buscar.
-Não sabia disso. Pra mim São Jorge era casado com o dragão.
-O dragão é a amante.-Ele falou sem se dar conta, só então sua ficha caiu.-Desculpa, não queria...
-Não. Continua a música, eu quero ouvir.
Lua bonita,
Se tu não fosses casada
Eu preparava uma escada
Pra ir no céu te buscar
Se tu colasse teu frio com meu calor
Eu pedia ao nosso senhor
Pra contigo me casar
Lua bonita
Me faz aborrecimento
Ver São Jorge no jumento
Pisando no teu clarão
Pra que cassaste com um homem tão sisudo
Que come dorme faz tudo, dentro do seu coração?
Lua Bonita, Meu São Jorge é teu senhor,
E é por isso que ele "véve" pisando teu esplendor
Lua Bonita se tu ouvisses meus conselhos
Vai ouvir pois sou alheio,
Quem te fala é meu amor
Deixa São Jorge no seu jubaio amuntado
E vem cá para o meu lado
Pra gente viver sem dor.
Taciana acordou sozinha ouvindo a música tocar baixinho no rádio. Havia sido sonho? Todo aquele tesão, toda aquela paixão, havia sido um mero devaneio?
Ela espreguiçou-se e olhou em volta. Estava nua, suas roupas pelo chão. O quarto pequeno, o edredom verde. A grande janela de madeira entalhada. Olhou para a lua, sorriu. Levantou devagar e pegou uma camisa de Jonas sobre a poltrona do quarto. Vestiu-se, colocou a calcinha e foi ao banheiro se lavar.
Desceu a escada devagar, não ouvia movimento na casa. Estava tudo apagado. Jonas estaria aonde?
Ela viu a porta que dava acesso há galeria fechada, mas saía luz de baixo da porta. Ela entrou e foi descendo sem fazer barulho. Seguiu as luzes, encontrou o ateliê, a porta estava encostada. Jonas estava diante de um quadro, pintava com as mãos, sem pincéis. A tinta o lambuzava de laranja e amarelo. Ela podia ver nitidamente dois corpos se enroscando, na imagem abstrata.
Ele percebeu que ela havia entrado. Mas continuou com sua atenção voltada há detalhes ínfimos de sombra e iluminação. O que faltava? Taciana se aproximou por trás, o abraçou pela cintura. O que faltava era ela.
-Somos nós?
-É o que parece.-Ele se voltou para ela, vidrado no rosto perfeito, no sabor do beijo, a puxou para si com a mão suja de tinta.-Era é minha camisa favorita.
-Não era pra pegar?
-Não, ficou linda em você.-Ele a puxou pelo queixo e a abraçou.-Mas eu quero você nua.
Ele a beijou enquanto tirava a camisa dela, a deixando marcada com a tinta pastosa. Segurou ambos os seios com as mãos e logo em seguida, enfiou um na boca. Ela se curvou e ofereceu o colo para que ele chupasse com maior ímpeto. E ele não se conteve, desceu os beijos pelo corpo esguio e tirou a calcinha branca, deixando marcas de dedos coloridos.
Taciana chutou a calcinha para longe e ele a puxou para um mini divã. Sentou com ela em seu colo. Taciana não sentia falta de mais nada. Só queria ser penetrada. E possuída novamente. Fechou os olhos enquanto sentava sobre a ereção dele, rebolando há procura da penetração.
-Você costuma transar aqui?
-Não, detesto mulheres aqui dentro.-Ele prendeu as pernas dela em volta de sua cintura e a Levou para um grande puff.-Mulheres me desconcentram.
-Então vamos sair.
-Não. Você é minha inspiração.-Ele se afastou.-Eu quero pintar você.
-Não seria apropriado.
-Seria sim.-Ele puxou uma paleta, sujou as pontas dos dedos e tocou no nariz dela, com a cor vermelha.-Nem sei o que estou fazendo, mas você me deixou um tanto desnorteado.
-Temos a noite inteira para nós dois.
-E seu marido?
-Deve estar com a Amanda.-Ela o puxou para si.-Melhor assim, quando chegar não precisarei inventar uma desculpa.
-Não quero arrumar confusão pra você.
-E não vai.-Ela tocou o rosto dele.-Você é muito bom pra isso.
Jonas desceu os lábios para o pescoço dela. Os dedos lambuzados de tinta deslizaram pela barriga dela, criando um arco-íris de cores primárias. Desceu mais a mão até a cocha e afastou as pernas. Resolveu cuidar daquela parte com os lábios. Taciana ofegou quando percebeu sua intenção.
Com os dedos ele separou as dobras. Deixou o clitóris exposto. Ela ofegou quando ele assoprou ali e gemeu quando ele começou a lamber devagar.
Taciana relaxou sentindo aos poucos o tesão aumentar. Sentiu as pontadas do gozo e logo ficou tão sensível, que ele só estimulava com a língua e ela estava gozando. Seu corpo se contorcia em espasmos. Ela tremia sem se controlar. E sentia o corpo liberando passagem pro gozo.
Ele levantou e a beijou a penetrando de uma vez. Taciana estava mole, aos poucos foi reanimando e se movendo contra ele. Os dois escorregaram para o chão, se abraçaram e encaixados, voltaram há se amar. Devagar, sem pressa. Havia tanto que descobrir, tanto o que aproveitar. Por que se afobar e correr?
-Eu acho que ela está te traindo.-Falou Amanda, recostada no espelho da cama, enrolada no lençol.-Saiu cedo, não chegou ainda. Duas vezes em uma semana.
-Ela não é capaz de fazer isso.-Jorge falou preocupado.-Só está me dando um gelo. Ela sabe sobre nós. Ela quer se vingar.
-Quer jeito melhor de se vingar, se não dando o troco?
-Ela tem medo.-Ele jogou o celular encima da cama e suspirou.-É muito medrosa pra fazer uma coisa dessas. Afinal, ela tem muito a perder. Vamos viajar amanhã, ela está ansiosa.
-Vai mesmo levar aquela sem graça há Paris?
-Amanda, para de implicar com ela.
-Ela é sem graça, isso você não pode negar.
-Mas me dá menos dor de cabeça do que você. Acho que sou o primeiro homem a pensar em deixar a amante pela esposa.
-Você não faria isso.
-Então não me provoque.-Ele olhou no relógio e suspirou.-Eu vou embora. Quero estar lá quando ela chegar.
-Agora vai também cortar nossos encontros antes de começar?
-Estou preocupado com a Taciana. Se ela está quieta, é porque algo vai aprontar. E se ela conseguir provar a infidelidade, não tenho argumento.
-Ótimo, aí vocês se separam. Você não a ama mesmo.
-E quem disse que não a amo?-Ele vestiu a camisa abotoando botão por botão.-Na verdade Amanda, acho que está na hora de darmos um tempo. Você anda muito possessiva. E isso não é bom pra mim. Nosso lance estava legal, mas você vem me abafando demais. E Isso não vai nos levar há lugar algum.
-Não Jorge, você não pode fazer isso comigo. Eu te amo, é difícil ter que dividir você com ela.-Ela se levantou e caminhou até ele, começou a desabotoar a camisa que ele abotoava.-Fica comigo, prometo que não falo mais nada.
-Não dá.-Ele voltou a abotoar a camisa.-Estou preocupado com ela. Se aconteceu algum acidente ou ela foi assaltada, não gosto nem de pensar nisso.
Ele foi para o banheiro se arrumar. Amanda sentou na cama com raiva, o que faria? Tinha que pensar rápido. Olhou ao lado e viu o celular dele sobre a cama. Pegou escondida e copiou o número particular de Taciana. Quando ele voltou, ela jogou o aparelho sobre a cama e começou a se vestir.
-Eu a deixo em casa.
-Não precisa, eu pego um táxi.
-Deixa de graça. Eu vou levá-la.
Jorge estava incomodado. Tão pensativo que não notou quando Amanda tirou uma foto dele com o celular e enviou para Taciana. Se ela precisava de provas, ela daria algumas. E Taciana sairia do caminho.
E ela, já que não teve como aproveitar a noite, iria procurar a pica deliciosa de Jonas. Ele não costumava sair à noite, há menos que estivesse com algum rabo de saia. E ela sabia que ele estava sozinho, ou não teriam tido aquela trepada sensacional no escritório da galeria.
-Está pronta?-Jorge perguntou a ela da porta do banheiro.
-Quase.-Ela terminou de prender os cabelos e saiu do banheiro.-Eu vou pegar um táxi. Preciso passar na casa do meu irmão. É aniversário dele hoje, tem festa.
-Eu a levo até lá.
-Não precisa Jorge, corre pra tua mulherzinha.
-Certo, se você quer assim.-Eles saíram juntos.-Quer ao menos que eu chame o táxi?
-Não precisa.-Ela recebeu a mensagem de foto recebida e sorriu.-Me deixa em algum ponto, eu espero o táxi sozinha.
-Está tarde pra você ficar sozinha em pontos.
-E desde quando você se preocupa comigo?
-Vai começar?
-Foi você quem começou seu idiota.-Ela cruzou os braços.-Pode me deixar aqui. Eu me viro, vamos, para o carro.
Jorge a deixou na calçada da rua e ficou observando enquanto ela se encaminhava para o ponto. Que se dane, ele já estava cansado da melação dela.
-Tem certeza que essa tinta sai com água?-Taciana sorriu enquanto ele esfregava uma bucha vegetal em sua pele, deixando vermelha.
-Sai sim, pode ficar tranqüila.-Ele beijou seu ombro.-Já pintei muitas mulheres nuas, Mas nunca pintei em uma mulher nua.
-Que comparação chula.-Ela olhou para o relógio e suspirou.-Está tarde.
-Você tem que ir?
-Não, deixei um recado dizendo que não dormiria em casa.
-Então por que está preocupada com a hora?
-Porque toda essa atividade me deixou faminta. Estou sonhando com um pedaço de pizza.
-Ah.-Ele pensou alguns instantes enquanto enxaguava a pele dela.-Viu só, saiu tudinho. Prontinho.
-Eu já estava pensando que você me penduraria na parede.
-Huuummm a idéia me interessa.-Ele a encostou na parede, enganchou as mãos nas cochas dela e a ergueu.-Você prefere em que posição?
-Assim está ótimo.-Ela rodeou o pescoço dele com os braços e sorriu.-Mas já está pronto para a quarta?
-Não sou de ferro, confesso.-Ele a desceu devagar.-Vamos recarregar as energias. O que vale é a qualidade, não a quantidade.
-Quantidade e qualidade também não fazem mal.
-Já vi que vai enjoar de mim logo.-Ele puxou uma toalha de dentro de uma gaveta e deu a ela.-Me espera na sala. Eu vou dar um telefonema.
Taciana saiu do banheiro estranhando o pedido dele. Precisava mesmo era se vestir. Desceu as escadas em caracol com os sapatos nas mãos. Aproveitou que a porta ainda estava destrancada e desceu até o carro. Sua roupa esperava no porta-malas. Pegou a bolsa e subiu de novo. Vestiu-se na sala, com uma roupa confortável, uma sandália baixa. Penteou os cabelos e enfiou as coisas que restavam dentro da bolsa. Quando Jonas desceu, fez um muxoxo.
-Acabou a brincadeira?
-Não, só não estou confortável ficando nua.
-Ah.-Ele abriu a geladeira e pegou uma cerveja para ela e outra para si.-Pedi comida indiana. Se importa?
-Não. Mas, por que indiana?
-Ah tem um cardápio de comidas afrodisíacas.-Ele entregou a garrafa aberta na mão dela.-Do jeito que ensinei, vai.
Ela tomou um gole da cerveja e deixou pingar no decote. Ele se aproximou e passou a língua no lugar. Era bom aquilo, bom até demais. Melhor que beber na boca da garrafa, como ele havia dito.
-Jonas?-Ela chamou ouvindo um barulho distante.-Tem alguma coisa tocando.
-O que?-Ele se concentrou e ouviu a campainha da frente.-Já?
-Já o que?
-Espera.-Ele ligou a TV e o sistema de câmera exterior mostrou a figura de Amanda parada do lado de fora.-Mas que merda...
-Quem é?-Ela se aproximou dele e viu a loura.-Essa não é a...
-É.-Ele desligou a TV.
-Vocês dois... Você ainda tem algo com ela?
-Não.-Ele a sentou no sofá e suspirou.-Ela está querendo falar sobre o quadro.
-E você não vai atender?
-Ela vai querer entrar. E com você aqui há essa hora, vai ser motivo pra arrumarmos problema pra você.
-Entendo.-Ela olhou para a porta e recostou no sofá.-Nossa, com tantos homens no mundo, eu fui me envolver com um que já foi amante da amante do meu marido.
-Ela era minha noiva.-Ele falou tentando encerrar o assunto de uma vez, não tinha nada a esconder e nem pretendia.-Me deixou algum tempo atrás por outro homem.
-O Jorge.
-Quem?
-Meu marido.
-Não sei. Na verdade, não procurei saber, porque não queria esquentar a cabeça com isso.
-Nossa. Como a vida dá voltas.-Ela colocou a garrafa no chão e o puxou para o sofá, junto com ela.-Eu quero.
-O que?
-Isso.-Ela abriu o zíper da calça dele e desceu um pouco, expondo o pau que já estava começando a pulsar de novo.-Posso?
-É todo seu garota.
Taciana sorriu de frente pra ele. Primeiro puxou a calça para baixo o máximo que pôde e depois atacou. Com lábios ávidos. Lambeu primeiro a cabeça. Será que ainda sabia como fazer? Estava um tanto enferrujada, sabia disso, mas pra um homem, bastava sentir os lábios de uma mulher em volta de seu pau, era tudo que ela precisava saber.
Começou a sugar a cabeça do pau dele devagar. Olhou para cima e os olhos dele estavam vidrados nela. A mão enroscou-se em seus cabelos e logo ela estava engolindo-o o máximo que conseguia. Era muito grosso, ela não conseguia ir muitos centímetros, mas engolia com satisfação, vendo como ele estava gostando.
Amanda suspirou e resolveu desistir. Apesar de ter luz no apartamento, ele não respondia, devia ter saído. Enquanto se encaminhava para o ponto, viu um motoboy parando em frente ao interfone. Ela ficou observando. Ele havia pedido? Estaria acompanhado? O cara se encaminhou para os fundos, ela foi atrás. O portão grande estava sendo aberto. Ele entrou, ela correu até lá e entrou logo atrás. Jonas estava descendo as escadas de ferro.
Ela se aproximou devagar pelas sombras e ouviu o finalzinho da conversa.
-Aqui está mano. Mais um pouco não pega o restaurante aberto.
-Movimento fraco hoje?
-Aconteceram uns assaltos. Estamos fechando mais cedo.-Ele entregou a nota a ele.-Depois quero saber quem é a gata.
-Então é isso?-Amanda se aproximou deles e parou em frente a Jonas.-Estava no banho. Por isso demorou a abrir. Eu já estava quase indo embora.
-Bom, vou indo.-O cara saiu rindo e montando na moto.
-O que está fazendo aqui?
-Vim te ver. Matar a saudade.
-E seu macho?
-Resolvi trocar por hoje.-Ela viu um carro estranho estacionado na frente da escada.-Quem está aí com você?
-Não é da sua conta.-Ele deixou os pacotes sobre o carro de Taciana e a acompanhou até o portão.-Olha, você não chegou em boa hora.
-Está namorando Jonas?
-Estou.-Ele falou olhando pra cima.-E ela é bem ciumenta. Se te vir aqui, vai falar a noite inteira.
-Deixa ela falar.-Ela tocou os lábios dele com os dedos e o beijou de leve.-Vou embora. Amanhã te ligo, queria passar o final de semana com você. Depois daquela manhã, não consigo pensar em mais nada.
-Fala sério, seu amante te deixou?
-Não, vai viajar com a mulher para Paris.-Ela cruzou os braços.-A sugestão foi minha. Depois que ela descobriu, nada melhor que agradar pra ela ficar mais mansa.
-Sei.-Ele suspirou.-E você ganha o que?
-Todo tempo do mundo livre pra você.-Ela se pendurou no pescoço dele e sorriu.-Dá um perdido nela e vamos viajar também?
-Sinto muito, mas não vai dar. Tem exposição esse final de semana. To cheio de trabalho. E deixa eu ir lá, antes que ela venha aqui saber o porque da demora.
-Ta certo. O negócio é dormir sozinha mesmo.
-Faça isso.
Ele fechou o portão e subiu as escadas. Taciana estava olhando pela janela, observando a outra mulher no ponto de ônibus. Viu como ela se pendurava nele pela câmera de segurança. E estava com ciúmes. Mas por quê?
-O que faz aí?
-Jorge pode ter chegado, já que não está com ela.
-Você não falou que deixou um recado?
-Sim. Deixei.-Ela se voltou para ele.-Você a ama, não ama?
-Olha, ela exerce uma grande influência sobre meu pau, mas não chega a ser amor.
-Sei.-Ela sentou na cadeira que ele havia puxado.-Queria eu, ter isso que ela tem.
-Não queira.-Ele abaixou na direção dela e a olhou nos olhos.-Você tem muito mais. Você sabe amar, é sensual. E dá até medo se aproximar de você.
-Por quê?
-O cara que se aproximar de você, tem que ter consciência de que vai sair machucado.-Ele pegou a mão dela e beijou na palma.-Você é o tipo de mulher por quem os caras inteligentes se apaixonam.
-E você é um cara inteligente?-Ela perguntou pensando que aquilo não passava de um jogo de conquista.
-Muito.
-Então está se apaixonando?
-Talvez.-Ele sorriu.-E acredite, eu não tenho medo de São Jorge.
-E do Dragão?
-Melhor deixar pra lá.-Ele a beijou.-Vamos comer que a farra ainda não acabou.
Taciana acordou quando o despertador chamou. Se espreguiçou e se voltou para Jonas. Ele também estava acordando, um tanto amassado e vermelho, a puxou para si com uma mão e beijou seu rosto.
-Já está na hora?
-Infelizmente.-Ela deitou sobre o peito dele.-Estou morta. Mas prometi levar meu irmão para dar uma volta na praia hoje. E ainda tenho que fazer as malas a tarde, vou viajar hoje a noite.
-Ah.-Ele apertou o abraço.-Isso é um adeus?
-Um até logo.-Ela voltou o rosto para ele.-Foram sete, não é mesmo?
-Cinco.
-Pra você.
Ela se levantou e foi para o banheiro.
***
-Queria poder te trazer aqui mais vezes.-Disse ela a Tobias.-Mas nem sempre é bom pra você. E já temos que ir. Você não fica chateado comigo, fica?
-Imagina dona Taciana. Ele está até mais sorridente. Faz tanto tempo que esse menino não sai.
-Eu morro de pena de não poder ficar. Mas vamos indo.
Taciana ajudou a colocar Tobias no carro e se dirigiu de volta para a casa da mãe. Fechou a cara quando viu o carro de Jorge estacionado na frente. Ele foi atrás dela, sua mãe iria perturbar seu juízo.
Ajudou a colocar Tobias de volta na cadeira e entrou empurrando a cadeira de rodas adaptada. Jorge estava sentado na sala de estar, tomando café e sorrindo para algo que sua mãe dizia.
-Aí estão eles.-Ela levantou-se e foi até Taciana pegar a bolsa e cochichar em seu ouvido.-Vá para o quarto de Tobias, rápido.
-Eu vou ajudar a levá-lo pra dentro.-Ela olhou com cara feia para Jorge.-Já volto.
-Eu vou ver se está tudo bem com meu bebê.-Ela foi logo depois que elas entraram no quarto.-Deixar vocês conversarem a sós.
Ela entrou no quarto do filho e olhou de cara feia para Taciana.
-Foi por pouco.
-O que foi por pouco?
-Eu disse a ele que você passou a noite aqui.
-Porque disse isso mamãe?
-Porque você andou aprontando.-Ela cruzou os braços.-Pode enganar todo mundo, eu sou sua mãe, a mim você não engana. Tive que mentir pra garantir que você não poria tudo a perder.
-Acontece que deixei um recado dizendo que fui para uma festa. E é de onde vim.
-Diga que veio da festa pra cá. Agora vá lá falar com ele. E não coloque tudo a perder.
Taciana saiu do quarto irritada com sua mãe. Ela estava feliz, não colocaria nada a perder nunca.
-O que faz aqui?
-Eu que pergunto.-Ele levantou e cruzou os braços.-Por que não passou a noite em casa?
-Por que ficar em casa sozinha?
-Cheguei em casa cedo essa noite.
-E o que achou de dormir só, não ter com quem conversar. Ah não me diga, sua namorada te deixou na mão.
-Não tenho namorada.-Ele tocou no rosto dela e estranhou os cabelos estarem amarrados em um nó.-Seu cabelo está azul?
-O que?-Ela olhou para uma mecha que ele desenrolou do nó e sorriu.-Ah é, tinta lavável. Sai com água.
-Aonde pintou o cabelo?
-Não pintei. Só sujei na casa da minha amiga.
-Certo.-Ele olhou para o relógio.-Vamos indo? Temos que fazer as malas.
-Eu vou me despedir da minha mãe e te sigo.
-Vamos no meu carro, pode deixar o seu aí.
-Certo.-Ela abriu o carro, pegou a bolsa aonde colocava roupas para sair e voltou ao quarto de Tobias.-Estamos indo. Agora só nos vemos quando eu voltar de viagem.
-Aproveite essa viagem.-Ela a empurrou para fora do quarto, longe dos ouvidos da empregada.-E traga um bebê no meio das compras.
-Mamãe. Em Paris não vende bebês.
-Não se faça de sonsa.-Ela a empurrou porta a fora.-Façam boa viagem. Aproveitem tudo que puderem.
-Até mais mamãe.
Jorge ficou quieto o caminho de volta. Quando chegaram, se trancou no escritório. Taciana foi para a lavanderia deixar a lingerie que havia usado na noite anterior. Pegou algumas coisas e subiu para o quarto.
Por onde começaria? Sapatos, roupas, maquiagem... tanta coisa pra levar. Tanta coisa pra não levar. Se estivesse realmente animada com essa viagem, já estaria pensando no que levaria na mala. Mas só conseguia perder os pensamentos com Jonas. Aquele corpo maravilhoso, o sexo, as carícias. Como ela iria deixar aquela recém descoberta no Brasil e ir bater perna em Paris?
Enquanto divagava sentada na cama, Jorge se aproximou. Estava com uma cara péssima. E ela começou a se preocupar.
-O que você tem?
-Eu te liguei a noite inteira. Por que não atendeu?
-O celular ficou dentro do carro.
-E por que não retornou hoje?
-Nem peguei nele ainda.-Ela abriu a bolsa e estranhou o exagero de mensagens e chamadas.-Nossa, basta sumirmos por uma noite e todo o mundo lembra que existimos.
Ela ficou séria quando viu uma mensagem de número desconhecido. Foi direto nela. Era uma foto. Foi baixando e viu nitidamente, Jorge fechando o punho da camisa, dentro de um quarto de motel. Havia uma mulher no espelho. Aquilo foi um tapa na cara. Mesmo tendo passado a noite inteira com Jonas, aquilo doeu.
Jogou o celular sobre a cama e se trancou no banheiro. Em um impulso arremessou o primeiro vidro de perfume que viu no espelho. Sentia uma raiva tão grande, repulsa, ódio. Se pudesse arrancar as bolas daquele nojento. E melhor, ainda faria aquela vigarista engoli-las.
Parou em frente a pia, o espelho rachado dividiu seu reflexo em vários. Jogou água fria nos pulsos tentando entender como aquilo ajudaria a melhorar. Água fria no rosto, no pescoço. E pronto, estava mais tranqüila.
Jorge estava deitado na cama, com as mãos sob a cabeça. Ela saiu do banheiro respirando fundo, precisava beber algo para esfriar os ânimos.
-Você quer conversar?
-Não. Eu quero matar você. Me faz o favor de sumir da minha frente.-Ela observou enquanto ele se levantava e seguia pra porta.-Idiota.
Jorge desceu as escadas com o celular dela na mão. Olhou bem para a foto e bufou de raiva. Passou a mão no telefone e discou para seu substituto.
-Marcelo, me faz um favor.
-Fala aí chefe.
-Demite a Amanda até segunda.
-Demitir, mas... ela ta com um monte de campanhas.
-Coloca um dos estagiários no lugar dela, não quero que ela esteja aí quando eu chegar, entendeu?
-Cara, pra você tomar uma decisão dessas, alguma coisa ela aprontou.
-Aprontou. E não demito por justa causa, pra não me complicar. Mas faz o que estou te pedindo. E não fala pra ela que fui eu que mandei. To tentando tirar minha mulher da mira dela, não quero que ela use a Taciana pra se vingar.
-Agora ta me preocupando. Ela machucou alguém?
-Não, mas já vi que ela é capaz de fazer isso. Olha, eu vou resolver umas coisas pra viagem. Faz esse favor pra mim.
-Tudo bem, quando voltar, terá um nerd bem feio no lugar dela.
-Eu agradeço.-Ele desligou o telefone e foi até a cozinha, encontrou a cozinheira terminando o almoço.-Vania, você sabe aonde tem aquele remédio natural que a Taci toma quando está nervosa?
-Aqui.-Ela tirou o vidro de xarope de maracujá do armário.-Andaram brigando?
-Até que não. Mas ela ta muito puta comigo, meu medo é que ela passe mal.
-Então leva um copo de água pra ela. De repente, nem precisa do remédio. Ela te ama doutor, não consegue ficar com raiva por muito tempo do senhor.
-Dessa vez aprontei feio.-Ele suspirou.-Bom, deixa eu ir lá conversar com ela.
Taciana estava sentada na moldura da janela, recostada na parede. A mente voava longe. Estava pensando em Jonas. Ele já teria levantado? Ele estaria trabalhando? Ele estaria com Amanda? Será que ele a amava? E Jorge, também a amava? O que ela tinha de tão especial, para ter a atenção deles?
Suspirou pensando no que estava prestes a fazer. Jorge entrou no quarto e estendeu um copo grande de água gelada.
-Vamos conversar?
-Não quero conversar.
-Conversamos então no avião.
-Não quero ir também.
-Não faça isso. Mesmo que fiquemos em quartos separados, você precisa relaxar um pouco. Vamos viajar essa noite?
-Tudo bem.-Ela tomou a água e suspirou.-Você apagou a foto?
-Apaguei.
-Mas sabe que eu sei.
-Sei.
-Então não temos muito que conversar. Vamos nos divorciar e pronto.
-Ainda não Taciana.-Ele tocou no rosto dela.-Venha, vamos fazer as malas. Estamos começando a nos atrasar.
-Já está tudo separado.-Ela olhou para ele.-Basta organizar nas malas.
Os dois ficaram a tarde inteira arrumando as malas. Conversaram pouco, mantiveram a distância. Taciana estava dividida. E Jorge sentia-se culpado. Esperava ele que ela se acalmasse durante a viagem.
***
Ela abriu o notebook encima da cama. Olhou para o relógio, era um hábito que tinha, quando estava impaciente, olhava para o relógio há todo momento. A exposição já devia estar no fim. No site não havia atualizações ainda. Então, tomou coragem e pegou o telefone.
- Opérateur, peut effectuer un appel vers le Brésil?
-Oui Miss, le nombre est?
Taciana enrolou o cabelo no dedo enquanto passava o número da galeria. Esperou completar a ligação. Quando uma moça atendeu.
-Boa noite, eu poderia falar com o Senhor Jonas Garrido?
-Ele está em uma exposição. A senhora não pode ligar outra hora?
-Minha filha estou em Paris. Não posso ligar toda hora. Avisa a ele, por favor, que é urgente.
-Seu nome senhora?
-Taciana Lopes.
-Ah sim, vou chamá-lo. Só um momento.-Giovanna se levantou e foi correndo até o salão da galeria, encontrou Jonas sorrindo para um fotógrafo ao lado de uma mulher bonita.-Telefonema urgente.
-Estou ocupado, não está vendo?
-É ela.
-Ela quem?-Ele se voltou para ela e percebeu seu olhar.-Está brincando. Ela está em Paris.
-Pois é aonde disse que estava. Se eu fosse você iria logo antes de a ligação cair.
Jonas atravessou a galeria correndo. Entrou no escritório bufando, parou um instante para recuperar o fôlego antes de atender ao telefone.
-Alô.
-Nossa que demora.-Ela suspirou aliviada.
-Desculpe, estava em uma reuniãozinha sem importância.
-Eu sei. Estou ligando pra parabenizar você. Fiquei sabendo que graças a essa exposição, você e sua galeria ganharam mais uma estrela. Vai mesmo expor na Itália?
-É o que pretendo fazer no próximo mês.
-E por que não falou nada ontem?
-Tínhamos tantas coisas pra falar, tantas coisas pra fazer e tão pouco tempo.
-Verdade. Mesmo assim, gostaria de conversar com você quando voltar. Pode ser?
-Taciana minha linda, deixa a formalidade de lado.-Ele sentou em uma poltrona grande e suspirou.-O que tivemos foi maravilhoso, não podemos nos tratar como se fossemos meros amigos.
-E quer que eu te trate como?
-Como o homem que está gamado em você.
-Gamado?
-Apaixonado te assustaria?
-Sim.-Ela suspirou profundamente.-Paris é linda, mas confesso que adoraria estar aí com você nesse momento.
-Oportunidades não faltarão.-Ele sorriu.-Você tem MSN? Podemos conversar melhor mais tarde.
-Tenho sim. Mas aqui já é madrugada. Talvez amanhã possamos conversar, ainda não tive tempo de colocar o sono em dia.
-Ah sim, claro. Você é quem manda.-Ele suspirou anotando o e-mail dela.-De qualquer forma, adorei receber sua ligação.
-Certo. Marcamos algo por e-mail depois?
-Por mim tudo bem.
-Então nos falamos depois. Aproveite a sua festa.
-E você, aproveite Paris.
-Até mais.
-Até mais...-Ele desligou o telefone.-Meu amor...
-Eu nunca pensei que fosse ver isso.
-Isso o que?-Ele se voltou para Giovanna, que estava encostada na porta.
-Meu irmãozinho apaixonado.
-Já me apaixonei outras vezes.
-Não assim. Eu te conheço, você nunca ficou assim, meio babaca.
-Para de gracinha. Vamos descer?
-Vou continuar monitorando o site. Tem muita gente acessando agora.
-Certo. Eu vou voltar para os fotógrafos.
-Vai irmãozinho, aproveita sua noite de celebridade.
Taciana colocou no youtube a música “Lua Bonita” do Raul Seixas. Era tão curtinha, mas não saía de sua cabeça. E ela queria ouvi-la a noite inteira. Adormeceu pensando em Jonas.
Jorge levantou animado. Pediu o café da manhã caprichado. Tinha um itinerário para aquele dia. Por ser domingo, muitos lugares estariam fechados. Então levaria Taciana há algum bistrô, para dar uma volta e conhecer a torre Eiffel, Champs Elysées. Com um pouco de sorte, nesse primeiro dia ele a conquistaria. E depois, iria amaciando aos poucos. Até o fim da viagem, Taciana seria a mesma doce e quente esposa que ele tinha meses atrás.
Empurrou o carrinho com o café até a porta do quarto dela. Bateu e esperou um pouco até ela abrir. Estava inchada e descabelada. Acabada, para dizer a verdade.
-Bom dia amor.
-Bom dia o caramba. Eu quero dormir.
-Estamos em Paris, dormir pra que? Perder os lugares divertidos?
-Ah não vem que não tem.-Ela voltou para a cama e se cobriu com a colcha azul marinho pesada.-Estou morrendo de sono.
-Vamos amor, trouxe o café da manhã. O que acha de irmos passear pela torre ainda hoje?
-Temos a semana inteira pra isso.
-A semana vai passar voando.-Ele foi se deitar ao lado dela.-Ainda precisamos conversar. Você não quis me ouvir ontem.
-Certo, você venceu.-Ela suspirou.-Posso ao menos escovar os dentes?
-Vá em frente.
***
-Acorda dorminhoco.
-Não mãe, to cansado.
-Que Mané mãe Jonas. Sou eu.
-Desculpa Lu.-Ele sorriu meio sem jeito.-Estou morrendo de sono. Essa exposição me pregou.
-Eu sei. Você normalmente é tão... animado. Ontem a noite deu uma e apagou.
-Um homem precisa de algum descanso.
-Eu sei. Mas hoje tem mais trabalho. Então vamos levantar. Estou esperando você lá em baixo.
-Já estou indo.-Ele esperou ela descer as escadas e abraçou o travesseiro verde, enquanto abria a gaveta e tirava uma foto impressa da internet.-Droga Taciana, o que você fez comigo?
Homem não ama do mesmo jeito que a mulher. Homens não têm os mesmos hormônios e nem a mesma cabeça. Jonas foi criado cercado de mulheres. Sabia tratá-las, sabia entende-las, as amava. Mas nunca sentiu por uma mulher, o que sentiu por Taciana a primeira vez que a viu. E sabendo como ela era, a conhecendo intimamente, ele sabia que aquela transparência não era falsa. Sabia que ela era como o cristal. E sabia que Jorge havia partido ela. Tinha medo de mulheres magoadas, elas costumavam ser vingativas. Mas não conseguiu se afastar dela. Acreditou nela desde o começo e queria muito ter a oportunidade de tirá-la daquele imbecil. Mas para que? Oferecer o que? Ele ganhava bem, não era um completo inútil, mas precisava de muito mais para oferecer há uma mulher como ela, acostumada ao luxo.
Uma mulher que necessitava estar casada com um homem que pudesse ajudar sua família. Ele poderia? Seria capaz de ajudar Taciana, dar luxo a ela e ainda assim fazê-la feliz? Ou seria mais um Jorge em sua vida?
Levantou frustrado, foi se lavar e desceu para tomar o café da manhã com Luciane. Ao menos tinha alguém para aplacar o fogo, enquanto ela estava longe.
***
Taciana baixou a cabeça, ponderou tudo que Jorge lhe disse. Estavam sentados em um banco próximo ao arco do triunfo. O sol da manhã era gostoso, estava um dia frio. Mesmo assim o céu estava claro, com poucas nuvens. Era maravilhoso estar ali, era um sonho que ela tinha, mas não conseguia perdoar Jorge.
-Não adianta você assumir, quero que diga por que fez.
-Essa é a parte da longa história.
-Não tenho nenhum compromisso agendado pra hoje.
-Certo.-Ele esticou o braço em volta do ombro dela, mas ela não se moveu para se aconchegar.-Amanda e eu namorávamos na faculdade. Freqüentávamos algumas aulas juntos, mas não éramos da mesma turma. Quando terminamos o curso, ela se mudou para o Rio de Janeiro, perdemos contato e fiquei sabendo que ela estava noiva e tudo.
-E quando descobriu isso, já estávamos casados?
-Não. Nos casamos muito tempo depois. Anos depois de termos nos casado, Amanda foi fazer uma entrevista na empresa. Acabei contratando pelos velhos tempos. Começamos a nos aproximar e acabou acontecendo.
-Aconteceu?-Ela o olhou alguns instantes e depois se voltou para as árvores bem podadas.-Você tem um caso há dois anos com ela?
-Quase dois anos.
-E se eu traísse você, como reagiria?
-Não, você não seria capaz de fazer isso.
-Mas estaria no direito, afinal, como dizem: “chumbo trocado não dói”.
-Não consigo pensar nisso Taciana.-Ele segurou o rosto dela entre as mãos.-Fico louco com a possibilidade de te perder. Ainda mais pra outro.
-Como acha que me senti?-Ela afastou as mãos dele e se levantou.-De qualquer jeito, não há o que restaurar entre nós. Eu não posso confiar em você, e não quero voltar a me sentir vazia e humilhada como senti meses atrás, quando descobri tudo.
-Há quanto tempo sabe?
-Desde que viajamos para a região dos lagos.-Ela baixou os olhos.
-E não disse nada? Guardou esse tempo todo para si?
-Qualquer coisa que eu fizesse, seria no calor da briga. Não queria fazer uma besteira. Mas esfriei Jorge, não consigo sentir nada mais. Você não me desperta mais o desejo de antes. Não consigo retribuir seus beijos, nem me entregar. Tudo não passa de uma obrigação, eu acho que nosso casamento não tem volta.
Com isso, ela saiu andando pela rua afora. Jorge levou uma bofetada. Ficou alguns instantes observando ela se afastar, sem acreditar que a tão calada Taciana, estava agora lhe dirigindo aquelas palavras doídas.
Taciana começou a andar cada vez mais rápido. Os olhos ficaram turvos pelas lágrimas, queria não chorar, precisava parar em algum lugar e se recompor. Olhou para trás, Jorge ainda estava sentado no banco a observando de longe. Melhor assim, pelo menos não choraria na frente dele.
Quando voltou a tomar seu rumo, uma bicicleta saiu de Marte para atingi-la em cheio. E o cara parecia estar apressado, porque a porrada foi tão grande, que ela foi arremessada.
- Vous idiot, ne regardez pas où vous allez?
- Miss Mille pardons. Permettez-moi de vous aider.
-Tira a mão de mim.-Ela o empurrou quando ele tentou ajudá-la.-Droga, torci o tornozelo por sua culpa.
-Taciana.-Jorge veio correndo quando viu o acidente.-Meu amor, você está bem?
- Seigneur, ce n'était pas ma faute. Elle est apparue de nulle part.
-Eu apareci do nada? Ele não presta atenção por onde anda?
-Nous aide-moi à le porter.
-Estou bem, posso levantar sozinha.
-Appelez un taxi, s'il vous plaît.-Jorge pediu ao rapaz que levantou a mão, um táxi parou ao pé da calçada. Ele a ajudou a entrar no carro.-Eu pago o estrago da bicicleta. J'ai payé le vélo dommages.
-Vous n'avez pas besoin.
-Claro que precisa.-Ele deu o cartão do hotel para ele.-Vá até lá e conversamos.
-Oui, monsieur, excusez-moi. Encore une fois, dame désolé.
-Como fala esse garoto.-Ela reclamou enquanto Jorge entrava no carro.-O que foi ?
-Está doendo muito?
-Pretendo sobreviver.
-Então seque as lágrimas.-Ele deu um lenço a ela.-Vamos há um hospital tirar um raio x e ver se não há nada errado com seu pé.
No final da tarde Taciana estava andando com o auxílio de muletas. O pé estava enfaixado e ela teria que deixa-lo pra cima um dia inteiro para desinchar.
Jorge comprou alguns filmes e passaram a noite juntos assistindo televisão.
E a semana correu tranquila. Os dois se tratavam como amigos. Não dormiam juntos, andavam pelas ruas lado a lado sem tocar as mãos. E para aumentar a distância, Taciana começou a se corresponder com Jonas toda noite. Assim que Jorge saía do quarto, ela ligava o notebook e ficavam horas conversando.
Para ela estava acabado.
Até quarta feira à tarde, quando Jorge a convidou para fazer um piquenique perto da torre. Ele havia tido um baita trabalho, escolhendo os melhores doces dos melhores bistrôs que lhe foram recomendados. Alguns em especial, tinham recheio de morangos. Ela adorava morangos. Enquanto comiam, Jorge contava alguns casos de infância, coisa que nunca aconteceu. Eles se casaram e ela mal o conhecia. Quase nunca conversavam. Normalmente faziam muito sexo, saíam poucas vezes e ele estava sempre trabalhando. Viajavam sempre também, mas normalmente ele passava todo o tempo no celular e pouco tinham pra falar, além do trabalho dele.
Naquela tarde, uma receita de doce levou há uma memória da infância e aos poucos foram se abrindo um com o outro. Falando sobre coisas de que tinham saudades, coisas que se arrependiam de não terem feito. E ela estava impressionada com ele. Jorge era outro homem, aquele ali não era o mesmo com quem se casara quatro anos atrás.
Terminaram o lanche e se encaminharam para o museu do Louvre. O programa já estava marcado há muito tempo. E ela estava louca pra ver a Monalisa de perto. Ou, perto o suficiente para dizer que foi lá.
Ela estava se familiarizando com a arte e gostando do que aprendia sobre ela. Jonas a estava influenciando. E Jorge também era apreciador de artes. Porém o ramo dele eram artes gráficas. Quando voltassem, ela já sabia aonde iria atuar. Mas naquela tarde, enquanto tiravam fotos da pirâmide de vidro, ela tinha outras coisas em mente. Coisas que envolviam aquele moleque que fazia brincadeiras em frente à câmera. Coisas que fariam aquele homem ser sempre daquele jeito. Nunca tivera tanto interesse em Jorge como naquele dia. E mesmo mancando e apoiando-se em uma muleta, sabia que ainda conseguia dar um trato.
Se separaram quando chegaram ao hotel. Ela foi ao salão dar um jeito nos cabelos e nas unhas e acabou fazendo algumas mudanças. Mudar era bom, se sentir bem com a mudança, melhor ainda. Ela gostou do resultado. Agora era hora de comprar roupas. Afinal, estava em Paris. Tinha que gastar o dinheiro de Jorge, antes que alguma amante o levasse há ruína.
Saiu do salão mancando, abriu a bolsa há procura de documentos e esbarrou em um homem que entrava distraído.
-Pardon.-Ela se voltou para o homem e suspirou.-Há, é você.
-Senhorita.-Ele tirou o chapéu e sorriu sem jeito.-Desculpe-me.
-Pelo visto, fala português.
-Digamos que muito.-Ele a conduziu para o canto sem que ela percebesse.-Estou com o cartão que seu acompanhante me deu. Gostaria de saber como ficou seu pé.
-Ah, só inchou um pouco. Não quebrou. E a bicicleta?
-Joguei fora. Melhor andar a pé e não causar acidentes.
-Está precisando praticar um pouco mais.-Ela sorriu.
-A senhorita ia sair, gostaria de uma carona?
-Não precisa, eu já chamei um táxi.
-Eu faço questão. Não se preocupe, não vou machucá-la. Só gostaria de me redimir pelo acidente.
-Não precisa. Eu tenho até que pedir desculpas, estava nervosa. Acabei sendo indelicada.
-Olha, já que é assim, o que acha de tomar um café comigo?
-Café?-Ela olhou para o relógio.-Está quase na hora do jantar.
-Ótimo, podemos jantar então.-Ele ofereceu o braço há ela, não conseguiu resistir ao charme do sorriso dele, acabou aceitando.
-Você não me disse seu nome.
-É Olivier.
-Se te interessa, me chamo Taciana.
-Lindo nome, para uma linda dama.
Saíram os dois de braços dados. Olivier sabia que ela não iria querer sair com ele de carro. Resolveu levá-la há um bistrô conhecido, próximo ao hotel. Foram caminhando e falando amenidades.
O Dardo afiado atravessou a sala e acertou em cheio o olho de Taciana. O próximo atirado, alojou-se sobre a mão de Jorge, que a abraçava. E o próximo acertou pouco acima da cabeça dos dois. E o próximo voou longe, porque Amanda já não enxergava por conta das lágrimas. Estava com tanta raiva, que mal conseguia se controlar. Já se descabelou, bebeu, chorou e gritou de raiva. Contava os dias para o regresso dos pombinhos. Se Jorge estava pensando que iria usá-la o quanto fosse e a deixaria de lado, estava enganado.
Pegou o telefone e discou para Jonas. Precisava do pau dele pra tirar aqueles dois da cabeça. Precisava se sentir desejada e mostrar praquele idiota que ela ainda era importante pra alguém.
-Oi.
-Olá querido. Sou eu.
-Eu quem?
-Como quem? Amanda, já não reconhece minha voz?
-Ah Amanda, é você? O que quer?
-Você. Agora.
-Não vai dar. To saindo com umas gatas.
-Como é? Vai me deixar de lado pra sair?
-Na verdade, já estava marcado. Então, deixa pra outra vez, ta?
-Ora vá pra merda.
Jonas desligou o telefone rindo. Giovanna estava parada em frente à porta esperando por ele. Desceram, entraram no carro e seguiram o rumo.
A boate ficava cheia a semana inteira. Jonas gostava da agitação, da bagunça e principalmente das mulheres que conhecia ali.
Giovanna o puxou para o bar, aonde marcou com a amiga. Quando chegaram a encontraram trocando idéia com outro cara.
-Aí está você.-Giovanna abraçou a amiga e se voltou para Jonas.-Deixa apresentar vocês. Thayla esse é o Jonas, Jô, essa é a amiga que eu queria te apresentar.
-Prazer Jonas.-Thayla falou se aproximando dele.-Sua irmã falou muito bem de você.
-Espero que tenha falado mesmo.-Ele sorriu para Giovanna.-O que está bebendo?
-Um drinque especial da casa.-Ela ergueu o copo.-Já experimentou?
-Já.-Ele ergueu a mão para o garçom e pediu o mesmo.-Vem sempre aqui?
-Bom, eu vou deixar vocês se conhecendo e vou circular.-Giovanna falou depois de pegar seu copo.-Divirtam-se.
-Você é mesmo artista?
-Sou sim. E você, o que faz da vida?
-Sou produtora de eventos.
-Interessante. Está sempre na balada.
-É, não tenho do que me queixar mesmo.
-Solteira?
-Sim.-Ela mentiu.-E você?
-Também.
-Há procura da garota certa, ou sozinho por opção?
-Nem um, nem outro. Só estou sozinho. Mas o que acha de dançar?
-Adoro. Vamos?
***
O lugar era perfeito. A lua nunca parecera tão bonita, vista da pont Alexandre III, Taciana apoiou-se na amurada de pedra e ficou observando o reflexo nítido na água.
-É um lugar lindo.-Ela falou observando as estátuas em volta.
-Não tão lindo quanto você.
-Não me compare com Paris, não seria justo.-O sorriso dela se intensificava há cada momento.-Você pretende ficar em Paris por quanto tempo?
-Até quando durar meu contrato. Meu agente já está de olho em outra campanha pra mim.
-Deve ser maravilhosa essa vida de modelo. Viajar o mundo, tirar fotos e ganhar dinheiro. Taí uma vida que eu queria pra mim.
-Se quiser, posso falar com meu agente. Você é linda, teria diversos contratos.
-Eu não sei fazer isso. Sou muito travada.
-Que nada, você só precisa parar em frente há câmera.-Ele ficou um tempo pensando.-Topa fazer um ensaio agora?
-O que? Agora? Mas já é quase meia noite.
-Vem comigo.-Ele tirou as chaves do carro de aluguel do bolso enquanto a puxava pela rua afora.-Eu não tenho grande moral com o produtor, mas ele vai adorar você.
-Isso é loucura Olivier.
-Não é não, vai por mim.
Taciana entrou no carro tensa. O que ele inventaria? Não estava pronta pra fazer nada ousado. Ou estava? Sua irmã lhe disse antes de fugir de casa, que havia oportunidades que não deviam ser desprezadas. Então ela não iria desprezar aquela oportunidade. Mas... era uma oportunidade de quê?
Olivier parou o carro em frente há uma casa grande. Tocou a campainha. Um careca baixinho abriu a porta um tanto enfezado.
-Olivier, já viu à hora?
-Sim, eu sei que horas são. Está trabalhando?
-Sim. O que você quer?
-Eu trouxe uma amiga para um ensaio. Posso usar seu estúdio?
-Olivier, não.-Taciana ficou roxa quando o homem a olhou de cima há baixo e sorriu.
-Pode, mas só se a moça for maior de idade.
-Ela é.-Ele entrou puxando Taciana casa adentro.-Henry entrou em contato com você?
-Ele andou te procurando. O que aprontou?
-Faltei há um evento.-Eles continuaram seguindo para os fundos da casa, aonde havia uma sala enorme.-Jaques, não quero continuar atrapalhando seu trabalho. Prometo que assim que terminar deixo tudo no lugar, nem vai saber que mexi.
-Sem problema garoto.-Jaques entregou uma câmera na mão dele.-Divirtam-se.-Ele se voltou para Taciana.-Mademoiselle.
-Taci, senta naquela poltrona.
-Sério?-Ela respirou fundo e foi para a poltrona.
-Assim, tira o casaco.-Ele clicou conforme ela tirava a roupa.-Perfeito, olha pra mim, assim. Só um minuto.
Olivier saiu da sala, Taciana estava tensa, recostou na poltrona esperando pelo retorno dele. E sorriu quando ele retornou com uma taça de vinho.
-Toma, tenta relaxar um pouco. Não estamos fazendo nada demais.
-Não estou à vontade.
-Sem problemas. Eu não ligo se você tirar a roupa.-Ela ficou vermelha e ele tirou uma foto.-Olha isso. Você fica linda na foto, até quando está corando.
-Quem tira foto de garotas envergonhadas?
-Eu. Olha pro chão, assim, inclina mais a cabeça. Ótimo.
Taciana observou Olivier durante toda a brincadeira. Ele era um rapaz lindo, cheio de atitude. Tinha os cabelos loiros, a pele um tanto bronzeada. E os olhos, eram lindos olhos azuis. Não era a toa que ele era modelo. Seria um pecado um homem como ele escondido dentro de algum escritório de terno e gravata. Ela não gostava muito de homens novos, Olivier tinha vinte e seis. Estava amadurecendo ainda. E ela sabia que ele era o tipo de homem que conquistava com o olhar. Devia ter milhares de mulheres penduradas em seu pescoço.
-Abre um pouco mais.-Ele indicou a blusa dela.-Olhando pra mim. Perfeito.
O vinho a relaxou. Quando foi vendo as fotos, ficou mais solta. Era vaidosa e se ver tão bonita na tela da câmera, a deixava com o ego nas alturas.
Olivier se aproximou para arrumar seu cabelo, Taciana não conseguia tirar os olhos daqueles lábios vermelhos. Era a boca masculina mais perfeita que já vira. Ele pegou uma rosa em um arranjo e tocou no rosto dela, fazendo uma carícia leve.
Aquilo era um flerte? Sim, era. Ele a estava olhando como um animal olha sua presa. E isso a assustou. Algumas horas atrás, nem sabia quem era aquele homem e agora estava gostando do toque dele, da forma como ele a tocava, das carícias que ele fazia em seu rosto com a rosa.
-Segura próximo ao rosto.-Ele falou a fitando nos olhos.-Não move um músculo, continua olhando assim pra mim.
Ele pegou a câmera e tirou várias fotos naquela posição.
-Tira a blusa.
-O que?
-Tira a blusa.-Ele sorriu ao lembrar que ela estava morta de vergonha.-Desculpa, eu esqueci que você nunca fez isso. Pode só abaixar e deixar os ombros de fora.
Ela tomou um grande gole da taça de vinho e respirou fundo, abaixou a blusa e olhou pra ele.
-Recosta na poltrona e joga as pernas sobre o braço dela.-Ele sorriu quando ela se colocou na posição certa.-Eu acho que vou deixar de ser modelo e virar seu empresário.
-Não era só uma brincadeira?
-Você quem vai decidir.-Ele pegou a câmera e clicou uma foto bem próxima e uma um pouco mais longe.-Está linda. Agora fica de pé, ali perto da porta de vidro.
E a sessão continuou, Olivier conseguiu convencê-la a tirar a blusa, mas não conseguiu mais fotografar. Estava louco pra trepar com ela e se continuasse, iria acabar estragando tudo. A elogiou após a última foto, tirou o chip da câmera e foi atrás de Jaques.
Ela estava morrendo de tesão. A forma como ele olhava pra ela era sensual demais. E aquelas mãos grandes deviam saber acariciar como ninguém. Ela se aproximou de uma mesa repleta de provas de fotos. Pegou uma por curiosidade. Eram fotos sensuais. Ela estava em um estúdio aonde pessoas transavam enquanto tiravam fotos.
Quando Olivier voltou, ela estava pálida.
-O que vai fazer com essas fotos?
-Nada.-Ele colocou um pendrive na mão dela.-Um presente pra você.
-Mas... aqui tiram fotos pra...
-Isso mesmo. Mas fica tranqüila, sua imagem só pode ser usada se você autorizar. E não tem nada demais nas suas fotos. Então relaxa.
-Certo.-Ela colocou o casaco.-Já está muito tarde. Melhor ir.
-Espera.-Ele a segurou pela cintura, antes que ela fugisse.-Não quer esticar a noite?
-Não Olivier, melhor pararmos com esse jogo de conquista.-Ela tentou se afastar, mas ele continuou a segurando.-Isso pode não acabar bem.
-Quem disse que precisa acabar?
Ele puxou o rosto dela para um beijo. Taciana estava em brasas e a imagem de Jonas lhe veio à mente, no momento em que se colou ao corpo dele. Precisava parar antes que fosse longe demais.
-Para.-Ela pediu respirando fundo.-Olha, eu não to pronta pra isso. Não hoje, nem agora.
-Tudo bem.-Ele voltou a beijá-la, dessa vez um beijo rápido, com uma leve troca de línguas.-Eu vou levá-la de volta ao hotel, tudo bem?
-Ótimo.
-Mas gostaria de ver você de novo. Vai mesmo voltar pro Brasil no domingo?
-Sim.
-Tempo suficiente.-Ele falou enquanto tomava os lábios dela mais uma vez.-Vamos indo?
Ele a conduziu até a saída. Não falou com Jaques, apenas fechou a porta e a levou até o carro.
Quando Taciana chegou ao hotel, deu de cara com Jorge quando saiu do elevador. Ele não estava nada feliz e isso não era bom.
-Onde estava?
-Andando por aí.
-Até essa hora? Já se deu conta da hora? São quase duas da manhã.
-O que tem? Você chegava em casa depois das três e nunca deu explicações.
-Com quem estava?
-Jorge, por favor, não vou prestar contas do que faço há você.
-Você ainda é minha mulher. Claro que deve me prestar contas.
-Se for por direito, eu tenho mais do que você.-Ela entrou no quarto e ele veio atrás.-E mais, não fiz nada do que você costumava fazer com aquela peituda oxigenada.
-Taciana, não muda de assunto.
-Não estou mudando de assunto, estou te respondendo. Se você está achando que eu estava por aí trepando com algum francês, a resposta é não. Há muito que se fazer em Paris, além de sexo.
-E com quem estava?
-Com ninguém.
-Na recepção, disseram que você saiu com um homem.
-Caramba, que fofoqueiros.-Ela debochou enquanto tirava as sandálias.-Ta certo, eu estava com o cara da bicicleta.
-O que? Estava com um estranho?
-Qual o problema? Não conheço ninguém aqui além de você.
-Essa era a idéia.-Ele se aproximou dela, estava furioso com a possibilidade de ela estar o traindo.-Você andou bebendo?
-Sim. Por que a pergunta?
-Você não é de beber. Sai com um estranho, bebe. Vai que ele abusa de você.
-É um favor que me faria.-Jorge a segurou pelo braço apertando com força, absorvendo o que ela havia dito.-Jorge, me solta. Está me machucando.
-Eu não vou te soltar até me dizer, você deu pra esse cara?
-Não, eu não dei pra ele.-Ela falou furiosa.-Você está me confundindo com a Amanda. Ela costuma dar pra qualquer um.
-Como sabe tanto da Amanda?
-Andei me informando.-Ela soltou o braço da mão dele e foi para o banheiro.-Você mesmo disse, está tarde. Eu quero descansar.
Mas Jorge não queria deixá-la descansar. Estava louco pra ter aquele corpo e ela não estava facilitando. Então ele não tinha outra escolha.
Resolveu tira-la de baixo do chuveiro e acabar com aquela doce todo que ela estava fazendo. Aconteceu tudo tão rápido, que Taciana só se deu conta, quando ele a estava beijando. Lembrou do beijo de Olivier. E pensar que deixou de ganhar os beijos dele para estar ali, sendo assediada pelos lábios afoitos de Jorge.
-Jorge, me solta.
-Não dá, eu não agüento mais.-Ele abriu a calça e colocou a mão dela no membro que pulsava.-Eu preciso de você Taciana.
-Mas eu não quero.
-Eu faço você querer.
Ele lambeu os seios dela, pensando que causaria aquela mesma sensação que causava antigamente. Mas Taciana sentiu um arrepio de repulsa percorrer seu corpo. Tentou se afastar, mas ele continuava a prendendo contra a parede do banheiro.
A voz estava presa há garganta. Ela tentou gritar, ou xingar, até mesmo dizer que não. Mas estava um tanto transtornada. Não era de beber, bebeu aquela taça de vinho de uma vez praticamente, uma taça de vinho a deixou desnorteada. E agora só conseguia se concentrar em afastar Jorge de seu corpo.
Ele a penetrou de uma vez. O corpo dela ficou inteiro arrepiado. Jorge segurou seu rosto e a beijou. Taciana não lutava mais, apenas deixou a mosca morta de sempre tomar conta de seu corpo. Ele a ergueu, ela lembrou de Jonas. A noite que passou com ele continuava nítida em suas lembranças. Talvez por isso não conseguisse se entregar ao marido, nem ao Olivier. Estava apaixonada por Jonas, mas sabia que ele amava Amanda.
Jorge a levou para o quarto. Taciana continuava passiva, apenas deixava que ele a penetrasse, evitava os beijos e sentia nojo quando ele a beijava em qualquer outra parte do corpo. Estava perdida. Quando ele a colocou de bruços e escorregou o pau até seu traseiro, ela resolveu tentar lutar mais uma vez.
-Aí não, você vai me machucar.
-Amor eu conheço esse lugar melhor do que ninguém.-Ele falou brincando com a cabecinha na entrada.-E você adora.
Ela o deixou fazer a festa. Bancou a prostituta naquele momento. Ele estava bancando a viagem, o deixaria aproveitar o que quisesse. Mas era a última vez. Nunca mais, dessa vez era questão de honra, Jorge não voltaria a colocar as mãos nela.
***
A boca ávida da garota deixava Jonas louco. Ela o engolia e punhetava em movimentos rítmicos. Deitou a cabeça no encosto do sofá da sala e grunhiu. Enfiou os dedos entre os cabelos dela e puxou mais para baixo. Ela o engoliu até onde pôde, voltou olhando pra ele. Já estava sem calcinha, pegou uma camisinha e o vestiu devagar.
Jonas foi praticamente possuído. A mulher fez com ele o que bem entendia. Sentou em seu pau devagar e começou a cavalgá-lo com força. Thayla tinha um belo corpo, com uns peitos que deixava um ser vivente louco de vontade de meter o pau ali entre eles. Enquanto ela subia e descia, ele abocanhou um de seus seios, o outro ele beliscava e apertava.
A voz dela gemendo era uma delícia. Ela começou a se masturbar enquanto sentava com força. Ele estava louco, ia perder a cabeça. Não conseguia segurar muito tempo, esperava conseguir dar mais três pra compensar.
-Eu vou gozar.
-Goza que eu to quase.
Ele a segurou pela cintura e começou a arremeter enquanto ela sentava. Ambos intensificaram nos gemidos e grunhidos, até que chegaram juntos ao ápice e caíram deitados no sofá.
Passaram alguns segundos até finalmente a respiração voltar ao normal e ambos se separarem.
-Eu vou ao banheiro.-Ele tirou a camisinha e sorriu.-Fica a vontade. Tem bebida na geladeira.
Thayla se levantou quando ele saiu e se aproximou da janela. Não tinha muita coisa que se olhar por ali, dava na rua de trás da galeria.
E por falar em galeria, a porta do estúdio há estava chamando. Sempre foi curiosa, era um defeito seu. Entrou ali, procurou pelo interruptor. Era uma bagunça. Havia tintas em umas prateleiras, dois cavaletes encostados há uma parede e um com uma tela bem no meio da sala. A pintura não estava acabada. Ela se aproximou da mesa, tinha alguns desenhos pregados há parede e alguns espalhados pela mesa. Um em especial lhe chamou a atenção.
-Taciana?-Ela viu que havia outros desenhos na pilha.-Não acredito.
Tinha Taciana de tudo que é forma. Só o rosto, o corpo vestido, despido. Ela sabia que algumas mulheres posavam pra ele, mas nunca imaginou que Taciana faria um negócio daqueles. Nua ainda por cima?
-O que faz aqui?
-Ai que susto.-Ela sorriu.-Eu vi a porta aberta e entrei.
-Não quero parecer chato, mas não gosto que entrem aqui.
-Tudo bem.-Ela mostrou o desenho pra ele.-Mas me diz uma coisa, o nome dessa mulher é Taciana não é?
-Eu... não sei. Você a conhece?
-É minha irmã.-Ela olhou para os outros desenhos.-É ela sim. Quase não a reconheci. Ela... não é risonha como nesses desenhos.
-Isso é uma encomenda. O marido dela mandou algumas fotos e me pediu para fazer o quadro.
-Nossa, você é incrível.-Ela se voltou para ele.-Mas essa não é a Taciana.
-Você acabou de falar que era...
-Sim, a pessoa sim. Mas o jeito não é.-Ela mostrou o desenho do rosto e apontou para as expressões do sorriso.-A Taci não sorri. Ela é feita de pedra.
-Feita de pedra?
-É. O pai dela era militar. O regime em casa era de sufoco. Como eu não era sua filha, ele não gostava muito de deixar a Taciana comigo. Eu não o obedecia, ele tinha medo de que ela ficasse igual há mim. A mandou para um colégio de freiras bem nova. Quando ele morreu, ela já era feita de pedra.
-Não são filhas do mesmo pai.-Ele falou observando o desenho.-É, vocês se parecem um pouco.
-Ela se parece mais com o pai dela. Eu me pareço com minha mãe.-Ela colocou o desenho sobre a mesa.-Se quiser realmente pintá-la, terá que ser ao vivo. Esse desenho não mostra à verdadeira Taci.
-Sei.-Ele foi para a porta.-Vamos?
Nova.
...E não tardar dos dias
Sentimos-nos novas, revigoradas
Prontas para novamente encantar
Encantar de amor aquele que nasceu pra nos amar...
Ela acordou cedo. Saiu da cama na ponta dos pés, abriu a mala e pegou uma calça jeans, um casaco preto e as botas. Foi se lavar e se arrumar. Se trancou no banheiro por alguns instantes enquanto se aprontava. Usou a blusa mais decotada e curta, com um sutiã leve por baixo. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, se perfumou e saiu.
Parou na ante-sala e pegou a bolsa. Abriu a carteira dele, pegou algum dinheiro e um cartão. Pronto, estava na hora de curtir Paris direito.
Na portaria pediu um táxi. Quando ele chegou, ela seguiu até o metrô e de lá foi para o Centre Quatre Temps. Comprar roupas, sapatos, estourar o cartão de crédito de Jorge e marcar sua passagem de volta para os braços de Jonas de uma vez por todas.
***
Jonas se despediu de Thayla quase ao meio dia. Respirou fundo, abriu todas as janelas da casa, chamou uma faxineira e resolveu fazer as malas. Daria um tempo dali, antes que metesse a ele ou Taciana em problemas. Ela não o respondia há duas noites. Devia ter descoberto coisas melhores para fazer.
Ele viajaria por uns tempos para outro estado, deixaria Giovanna cuidando de tudo e esqueceria Taciana de uma vez por todas. Por que aquela mulher, não era pra ele.
Ela já tinha dono.
***
Olivier chegou ao hotel às duas da tarde com um sorriso animado no rosto. Foi direto há recepção, seu sorriso deixava as mulheres encantadas, não foi diferente com a recepcionista.
-Mademoiselle Taciana?
-Taciana?-Perguntou Jorge ao se aproximar.-Você não é o cara da bicicleta?
-Ah, e você deve ser o Jorge.-Ele ergueu a mão para ele.-Ela falou muito em você ontem.
-Mesmo? E o que tanto fizeram ontem, para render assunto?
-Ela não falou? Pergunte a ela, não acredito que minta sem motivos.
-E o que veio fazer aqui hoje?
-Vim entregar umas fotos há ela.
-Fotos? Que tipo de fotos?
-Bom, é coisa dela. Creio que se ela não estiver, posso voltar outra hora.
-Eu to aqui.-Ela se aproximou deles cheia de bolsas.-Alguém me ajuda, por favor.
-O que você fez? Aonde se meteu?
-Não interessa.-Ela deu as bolsas nas mãos dele.-Vamos subir? Eu preciso tirar essas botas. O que tem aí?
-As fotos. Jacques revelou pra mim.
-Ficaram muito toscas?
-Não, ficaram lindas.-Os dois a seguiram até o elevador.-Tenho uma proposta.
-Vem cá, que papo é esse de fazer proposta para minha mulher?
-Jorge, fica na sua.-Ela tomou as bolsas das mãos dele quando o elevador parou em seu andar.-Nos falamos mais tarde, vou conversar com o Olivier agora.
-Taciana espera.
-Até mais tarde Jorge.-Ela fechou a porta do quarto na cara dele e se voltou para Olivier.-Perdão, ele é um idiota.
-Ciumento demais não?
-Ah ele que se doa.-Ela largou as bolsas sobre a cama e voltou há sala.-Fica a vontade. Eu vou tomar um banho, já volto para conversarmos.
Olivier olhou em volta e se aproximou de um pequeno bar que havia no quarto. Tinha coisas interessantes, serviu um licor e sentou-se na sala há espera dela.
E Taciana voltou não muito tempo depois. Vestida com um robe, os cabelos molhados. Ele ficou imaginando a pele dela nua sob as roupas. Era um pecado, aquela mulher.
-Então, o que trouxe?
-Ah sim.-Ele entregou as fotos para ela.-Veja se não tenho razão.
-Vejamos.-Ela abriu o envelope e tirou um bolo de fotos em tamanho 15X20.-Nossa. Tem photoshop aqui.
-Não tem. Nem daria tempo. Pedi para deixar natural. Com photoshop ficaria fora da sua realidade.
-Você leva jeito.
-Você que leva.-Ele sorriu e apoiou os braços nas pernas.-Tomei liberdade e mostrei para o meu agente.
-E?-Ela não tirava os olhos das fotos, cada uma mais bonita que a outra.
-Estamos embarcando para o Brasil para uma campanha. Ele quer te conhecer, ver se seu perfil se enquadra, essas coisas. Mas o melhor de tudo, ele adorou você. Acha que você tem potencial.
-Mas eu nunca fiz isso. Tem gente que se mata a vida inteira e não consegue uma campanha que preste.
-Essas pessoas não são atropeladas por mim.-Ele se levantou e sentou ao lado dela.-Se você topar, faz uma entrevista com ele no Brasil e só depende de você pra dar certo.
-Quando vocês voltam?
-Amanhã de manhã.
-Eu consegui um vôo para hoje à noite. É o último vôo.
-Vai voltar também?
-Sim. Mas não vou falar ao meu marido.-Ela se levantou e começou a juntar seus pacotes.-Tenho muitas coisas para resolver no Brasil.
-Eu posso voltar com você?-Ele se levantou e a seguiu até o quarto.
-Será que conseguiria a passagem? Eu tive que insistir muito para o cara da agência de turismo me vender uma.
-Claro que consigo. Minha mala ta pronta, posso encontrá-la no aeroporto. Por sorte estamos em uma época tranqüila, é fácil achar vôos disponíveis para emergências como essas. Me dê o cartão da agência.-Ele falou tirando o celular do bolso.
Taciana começou a empacotar suas compras em uma mala extra que comprou no centro comercial. Separou as roupas que usaria para a viagem, começou a se arrumar e se vestir para dar um ponto final naquela vida monótona que vivia.
Às sete horas, Taciana saiu do hotel com duas malas. Quando foi fechar a conta, pediu para não falarem com Jorge e explicou a situação de uma forma convincente.
Havia marcado com Olivier no aeroporto. Pegou um táxi olhando pra trás uma última vez e saiu feliz da vida.
No aeroporto, Olivier a esperava com uma mala pequena. Era tão bonito que chegava a doer nos olhos. Mas será que ela estava pronta pra ele? Pra vida que ele estava lhe oferecendo? Entre eles rolava uma tensãozinha sexual, mas nada intenso.
-Olha, você conseguiu mesmo fugir do santo.
-Por enquanto sim. Só vou ficar aliviada quando estiver dentro do avião, de preferência, pousando em São Paulo.
-Certo. Nosso vôo vai demorar. Quer jantar comigo enquanto esperamos?
-Claro. Eu ainda não jantei.
-Ótimo. Venha, tem um restaurante ótimo aqui.
Taciana acordou com uma mão acariciando sua barriga. Sua poltrona estava inclinada ao máximo, ela estava virada para a janela, acabou adormecendo logo depois da decolagem.
A mão intensificou a carícia, entrando embaixo de sua blusa e tocando a carne quente de seu abdome. Ela sabia que era Olivier, sabia que ele investiria, mas não esperava que fosse dentro do avião. Isso era tão clichê.
-Já acordou?
-Já.-Ela se voltou para ele e sorriu.-Dormi muito?
-Uns quarenta minutos.-Ele tocou o rosto dela.-É que não consigo mais me segurar.
-E o que você quer?
-Eu quero você.-Ele falou aproximando o rosto, encostando a testa na dela.-Desde que te vi. Não quero outra coisa, se não você.
-Isso é hora de você querer algo?-Ela deslizou os lábios sobre os dele acariciando lentamente.-Aqui?
-Por mim, não existe hora nem lugar. Apenas o momento.
Dizendo isso ele a puxou para si e compartilharam um beijo intenso e cheio de carícias. O vôo internacional noturno é o melhor para essas coisas. As pessoas estão viajando a maioria a trabalho, pela madrugada o silêncio estimula os casais apaixonados e cheios de tesão há aproveitar.
E não seria diferente com Taciana e Olivier. Afinal, estavam interessados um no outro, eram jovens e não havia ali, nada que os impedisse de aprofundar a relação.
Devagar a mão dele saiu da sua barriga, para descer para o traseiro. O Jeans era folgado, ele abriu o fecho e colocou a mão por dentro, agarrando com força aquela parte empinada e macia. Os braços dela o envolveram pelo pescoço, ele a puxou pela cintura mais para si. Eles queriam, estava em comum acordo, aconteceria ali naquele avião.
Olivier puxou a gola da blusa dela, tomando posse daquela parte sensível com os lábios. Taciana se arrepiou inteira, conforme ele mordiscava e sugava, os bicos de seus seios enrijeceram na hora. Que se dane o mundo, eu quero ser feliz. Essas palavras não tinham melhor hora para aparecer, se não enquanto ela conduzia a mão dele por baixo de sua blusa.
Os lábios se encontraram de novo, enquanto as mãos passeavam pelos corpos. Ele já estava com os dedos mergulhados dentro da calcinha dela, procurando tocar toda a carne quente. Ela ergueu o quadril e abriu mais as pernas. Foi o passe livre que ele precisava.
Com uma mão no peito e outra entre as pernas dela, ele já sabia que não tinha volta. Ela abriu bem as pernas para melhor acomodar os dedos invasores. Seu corpo parecia esquentar mais, conforme ele a estimulava. Logo estava molhada ao ponto de encharcar a calcinha e os dedos dele. Um dedo a invadiu e ela gemeu. Desceu a mão para o cós da calça dele e procurou tocá-lo, enquanto ele a penetrava com um dedo bastante saliente.
Outro dedo se juntou há brincadeira, ela fechou os olhos e gemeu entre os lábios dele. Sua mão se fechou dentro de sua calça em volta do pau que já estava latejando, louco para gozar. Os dedos dele continuaram a explorá-la e ela mal se agüentava de vontade de ter um pau de verdade a penetrando.
-Espera.-Ela tirou a mão de dentro da calça dele e suspirou.-Aqui não dá, acho que acordamos aquele cara do outro lado do corredor. Ele anda esticando os olhos pra cá.
-Vamos pro banheiro?-Ele a beijou e se levantou.-Eu vou, daqui a pouco você vai.
Taciana respirou fundo enquanto Olivier se afastava. Ir ou não ir? Dava pra esperar o avião pousar e fazer as coisas num lugar menos escancarado, mas aquela sensação de transar nas alturas, devia ser ótima.
O cara da poltrona ao lado olhou para ela e riu quando finalmente tomou coragem e se levantou.
Enquanto se aproximava do banheiro, parecia que todas as pessoas estavam acordadas e olhando para ela. Pensou seriamente em voltar, ou não bater na porta do banheiro. Mas e o impulso, o frio na barriga? Esse tipo de coisa não dava pra deixar passar. Se aproximou da porta e deu um toque com o nó do dedo. Ele destrancou e ela entrou.
Estava tensa e nervosa e ele percebeu. A puxou pela cintura e a encostou na porta. O espaço era minúsculo.
-Se você não estiver a fim, a gente volta atrás.
-Eu já vou levar a culpa, já estou aqui. Então meu filho, tira esse pau de dentro da calça e me come, senão arranco ele fora.
Opa, essa era a mesma Taciana? Uau, ela com tesão era uma delícia. Olivier a virou de costas enquanto descia a calça dela. Ele era louco, aquele corpaço seria todo seu em um lugar mais tranqüilo e ele queria come-la ali? Em pé, esmagados dentro daquele banheiro e as pressas?
Ta na chuva toma banho, já dizia sua mãe. Ele tirou o pau de dentro das calças e o deslizou pelo traseiro dela, até a cabeça da pica encontrar o ponto molhado e ele deslizar devagar para dentro dela.
A imprensou contra a porta enquanto a penetrava devagar. Meteu as mãos dentro de sua blusa, esmagou os seios dela com vontade enquanto aumentava o ritmo das estocadas. Taciana suspirava e grunhia baixinho, enquanto jogava o traseiro contra ele. Era bom demais, ela o provocava, o enlouquecia ele estava louco por aquele momento e quando conseguiu... droga, não conseguiria se controlar.
Taciana o sentiu pulsar, ele a abraçou apertado enquanto gozava. Ela relaxou entre seus braços e respirou. Aquilo foi bom. Mas ainda foi pouco, muito pouco.
-Assim que sairmos desse avião, eu prometo que compenso.
-É o que eu espero.-Ele a beijou.-Sai daqui pra eu me limpar, vai.
Ele saiu do banheiro quando ela se espremeu contra a parede. Taciana se olhou no espelho e respirou fundo. Será que Jorge já sabia que ela o havia deixado? E pior, que ela havia estourado seu cartão de crédito?
Esperava que sim, pois ele merecia uma dorzinha de cabeça e um pouco de estresse.
Quando saiu do banheiro, deu de cara com o homem da poltrona do lado. Ele encostou na porta do banheiro bloqueando sua passagem.
-Quanto você cobra?
-Cobro pra que?
-Pra me chupar dentro desse banheiro.-Ele a empurrou pra dentro.
-Você está me confundindo. Eu não sou prostituta.-Ela tentou passar por ele.
-Fica quietinha aí, não vai demorar nada. To cheio de tesão desde que você começou a se assanhar praquele cara.
-Me deixa sair daqui ou eu vou gritar.
-Eu arrebento seus dentes...
De repente o cara foi arrancado de dentro do banheiro. Taciana ficou sem reação no primeiro instante, no segundo saiu do banheiro e viu Olivier montado encima do idiota arrebentando-lhe a cara com socos, enquanto as pessoas acordavam com a confusão e as aeromoças se aproximavam correndo.
Ela ficou em choque, assustada. Viu quando arrancaram Olivier de cima do cara e os comissários de bordo o levaram para os fundos. Ela foi atrás, afinal, era envolvida na situação.
-Esse idiota estava querendo estuprar minha amiga no banheiro.
-Eu não estava fazendo nada.-O cara cuspia sangue enquanto balbuciava as palavras.-Ela tava me olhando, do jeito que agia, pensei que era uma prostituta.
-Eu vou matar esse cara.
-Olivier, para.-Taciana o segurou.-Deixa pra lá, você já afrouxou os dentes dele.
-Senhor, vamos resolver tudo com calma.-A aeromoça falou sorrindo, tentando quebrar o gelo.-Vou chamar o capitão e vocês contam a ele o que aconteceu.
Quase meia hora depois, Taciana sentou em seu lugar com a cara vermelha. Ouvia os burburinhos a sua volta. Se sua intenção fosse passar despercebida, não havia conseguido.
Olivier se aproximou e sentou ao seu lado, com um saco de gelo sobre a mão.
-Desculpe, eu não queria causar esse auê.
-Ainda bem que causou, só Deus sabe quantos dentes aquele cara teria me arrebentado, se você não tivesse arrebentado os dele.-Ela segurou a mão dele e sorriu.-Se nossa intenção era passar despercebidos...
-Antes eu tivesse esperado.-Ele sorriu.-Mas o cara vai ser detido quando descer do avião. Só teremos que prestar queixa formal na delegacia.
-Droga, essa viagem não começou bem e conseguiu terminar pior.
-Como assim? Por que a viagem não começou bem?
-Porque a amante do Jorge me enviou uma foto dos dois no motel, enquanto eu estava arrumando as malas.
-E por que você veio?
-Porque é Paris.-Ela o fitou dentro dos olhos azuis.-Aquele cara estava certo. Eu era uma prostituta. Me vendi ao Jorge em troca do casamento, em troca da viagem, em troca de cada centavo que ele gastou comigo esses anos.
-Você não era uma prostituta por ter se deitado com seu marido. Muito pelo contrário. Você agiu como a maioria das mulheres age. Tentou segura-lo, afinal, ele era seu.
-Não importa mais. De qualquer forma, se não tivesse vindo, não teria conhecido você. Até que valeu a pena.
-Nossa, vindo de você que é tão dura, um elogio desses me deixou motivado.-Ele passou o braço em volta do ombro dela e a puxou para si.-Vamos pro banheiro de novo?
-Esquece. Vai dormir que essa viagem já rendeu.
Taciana conseguiu driblar Olivier com uma boa desculpa. Marcaram um encontro para aquele mesmo dia à noite com o empresário. O tempo deles era curto.
Então ela pegou um táxi até em casa, tomou um banho, trocou de roupas e seguiu rumo à galeria de Jonas.
Ainda estava cedo quando chegou, entrou procurando por ele com os olhos. Provavelmente devia estar no escritório. Se aproximou de uma moça e perguntou.
-O Jonas está?
-Não, o Jonas não está. Você tem hora marcada com ele?
-Não. Ele vai demorar?
-Depende, a senhora é...?
-Taciana. Eu não deixei nada agendado com ele, só queria vê-lo.
-Ah é você.-A moça cruzou os braços e ergueu o nariz.-Meu irmão viajou. Foi passar uns dias no interior pra ficar longe de você.
-Longe de mim? O que eu fiz?
-Só o fato de você ser encrenca. Afinal é casada com um cara rico que pode acabar com a carreira do meu irmão. Fora isso, nada.
-Eu... tem algum número em que eu possa entrar em contato com ele?
-Você não entendeu mesmo?
-Você não está entendendo. Eu abandonei meu marido em Paris, quase fui estuprada em um avião pra estar aqui com ele. E agora você diz que ele não quer falar comigo, por que eu posso trazer problemas?-Ela parou um instante, respirou fundo e se controlou.-Ótimo, menos um canalha na minha vida.
Deu as costas e saiu dali, com a sensação de ter levado um murro bem no meio da cara. Queria um lugar pra se esconder, mas aonde? Embaixo da terra seria ótimo.
Dirigiu e dirigiu por horas, dando voltas pela cidade, ficou parada em um engarrafamento, foi parar em um lugar que mal conhecia, com o GPS conseguiu voltar pra avenida, apenas seguindo o fluxo.
Ligou o celular que estava carregando no painel e viu algumas mensagens da irmã. Bingo, iria chorar no colo dela.
-Taci, finalmente. Quando chegou ?
-Agora pouco. Você ta em casa, posso ir aí ?
-Que voz é essa ? Aquele mocorongo fez alguma coisa ?
-Ah é o menor dos meus problemas. Posso ir aí ?
-Pode sim, o Marcelo ta aqui, mas o coloco pra fora.
-Ótimo. Estou chegando.
Ela finalmente respirou aliviada, enquanto seguia rumo à casa da irmã. O portão estava aberto, ela entrou com tudo casa adentro. Thayla apareceu na porta, estava loura, com o cabelo na altura do ombro, um tanto rechonchuda, mas de longe se sentia sua presença.
Taciana se jogou nos braços dela.
-Hei maninha, o mundo ta acabando? Alguém morreu? Fala garota, você está me matando de curiosidade.
-Eu to com raiva, só isso.
-Ah, é bem típico de você.-Elas entraram e foram direto para a cozinha, aonde uma jarra de refresco esperava por elas encima da mesa.-Diga lá, o que o Jorge aprontou ?
-Ah o de sempre. Tem um caso escrachado com uma vagabunda de quinta.
-E por isso você está assim ?
-Não, pior.-Ela olhou em volta.-Marcelo já foi ?
-Não, ele foi pro quarto. Mas diga, o que se passa ?
-Me apaixonei por outro homem.
-Minha nossa, vindo de você isso... não é normal. Foi Em Paris ?
-Não, foi antes da viagem. Foi de repente, o conheci, saímos, acabei dormindo na casa dele, ele foi gentil e eu... me apaixonei. Mas quando fui procura-lo agora, ele mandou dizer que não estava e que havia ido embora pra não se meter em problemas comigo.
-Nossa.-Ela juntou as sobrancelhas estranhando.-Quem é esse cara ?
-Taí o problema. Ele era namorado da amante do Jorge. E ainda é apaixonado por ela. Acho que tudo que rolou, foi só pra dar o troco.
-Ah, entendi.-Ela a fitou nos olhos.-Garota, você precisa acabar com isso, arrumar um emprego e dar uma guinada na sua vida. Você não precisa engolir sapo por causa do casamento. Você é nova, tem tanto que conquistar.
-Não posso. Na verdade, estou com medo do que vai acontecer quando Jorge chegar. Afinal, ele vai me expulsar de casa sem um tustão no bolso e ainda vai me processar e fazer coisas mais baixas.
-Por que ele vai fazer isso ?
-Porque é um canalha. Todo canalha rico faz isso pra sair por cima. Não vai admitir perder.-Ela engoliu boa dose do suco e procurou se recompor.-Conheci um cara em Paris.
-Caramba mulher, tu também ta cheia de novidade. E como foi ?
-Ainda vai ser. Na verdade demos uma rapidinha no avião, foi bem interessante, mas ainda vamos fazer o serviço completo.
-Uau. E o que ele faz da vida ?
-É modelo. E menina, o tipo de homem que enfeita uma revista e você fala, nossa, esse é o genro que mamãe pediu a Deus. Olhos azuis, louro, corpo perfeito e a boca, nossa, sou apaixonada por aquela boca.
-Caramba, você estava chorando por um e agora ta aí cheia de tesão em outro.
-Verdade.-Ela finalmente esboçou um sorriso.-Como diria você antigamente, «O comandante deve estar revirando no túmulo agora».
-Verdade. Por falar nele, e a megera, como vai?
-Nem pergunte. Quando ela souber, vai me matar. Eu não imagino de onde vou tirar o dinheiro para continuar o tratamento do Tobi.
-E quem disse que precisa de dinheiro?
-Claro que precisa!
-Ele tem um plano de saúde com carência zero. Plano empresarial, porque o comandante era acionista de um hospital famoso, quando morreu a megera herdou e o Tobi nunca ficou desamparado.
-Ela perdeu essas ações pagando umas dívidas que o papai deixou.
-Mentira.-Ela arregalou os olhos.-Quando foi isso ?
-Pouco antes de eu me casar com o Jorge. Ela nos apresentou e fez minha cabeça, eu estava desesperada com a possibilidade de perdermos a casa, o conforto, o tratamento do Tobias. E acabei me casando.
-Sério? Eu não sabia nada disso.-Ela levantou e pegou uma garrafa de vinho na geladeira.-Explica melhor essa história e bebe isso, porque você vai ficar louca quando souber da verdade.
-Que verdade?
-Primeiro diz, em que circunstâncias você se casou com Jorge ?
-Foi arranjado, você sabe. Na época você estava na faculdade e não vinha mais em casa. Foi um casamento tradicional, na igreja e tudo.-Ela piscou várias vezes pra conter as lágrimas.-Eu estava tão iludida com aquele homem lindo. Pensei que era o meu felizes para sempre. Ele era gentil e educado. Não vi problemas com o casamento. Rico de dar nojo, seria a solução para os nossos problemas... me vendi como uma puta que leiloa a virgindade e finge ser santa.
-Calma, não precisa ser tão intensa.-Ela deu uma taça de vinho na mão dela.-Você era uma adolescente boba, por isso acreditou neles.
-Neles quem?
-No Jorge e na mamãe.
-Mas o que a mamãe tem a ver com isso?
-Sua besta, só ouve.-Ela esperou um tempo para preparar bem as palavras.-A mamãe inventou a história das dívidas. Ela arranjou o casamento pra você. Ela nunca perdeu as ações do hospital nem daquela jornal aonde ela trabalhava. Provavelmente o Jorge nunca gastou um tustão para pagar nada do tratamento do Tobi.
-Não é possível.-Ela sacudiu a cabeça tentando raciocinar.-Isso é sério? Não pode ser, a mamãe falou...
-Ela provou alguma coisa?
-Não, na verdade nem precisou. Eu nunca iria imaginar que ela mentiria assim. Na verdade, eu... não acredito.
-Quer que eu chame o contador dela aqui pra te mostrar os números ?
-Você tem o contato dele?
-Todos.-Ela sorriu.-Ele está disponível, se você quiser...
-Claro que quero falar com ele!
-Certo.-Ela se levantou e foi até o corredor.-Marceloooo desce aqui rapidinho.
-Cacete, essa história ta muito complicada.-Ela tornou a beber.-Eu não sabia que você estava com o contador da mamãe.
-Nos conhecemos uma vez que fui ao banco com ela sacar uma graninha pra faculdade. Mas ela não sabe que foi com ele que me amontoei. Se descobre, adeus informações.
-Eu não acredito. É muito pra minha cabeça.
Meia hora mais tarde, Taciana conferia os números das contas de sua mãe. Tudo detalhado, somado, o imposto de renda prontinho, nenhum centavo a mais de Jorge, nenhum centavo a menos para pagar dívida nenhuma.
Depois de muito se informar, sua cabeça dava voltas. Por conta do vinho e das histórias que se ligavam.
-Bem meninas, vou deixá-las conversando. Tenho que dar um pulo no escritório.-Ele se levantou.-Boa sorte na conversa.
-Não chega tarde.-Thayla falou e esperou ele sair pra se voltar para Taciana.-Finalmente, to doida pra te contar uma coisa e com ele aqui não dava.
-Com quem você dormiu agora?
-Menina, faz tanto tempo que não te conto essas coisas.-Ela sorriu e se aproximou mais.-Uma amiga dos tempos de faculdade, me apresentou ao irmão dela. Um cara super bacana e com ótima pegada.
-Como sempre.
-Não, esse tem um item a mais.
-O que? Dois pintos?
-Não, ele te conhece.-Taciana estranhou e passou a prestar mais atenção a história, enquanto levava a taça de vinho aos lábios.-Ele é pintor, a mesa dele estava repleta de desenhos seus. Retratos. Ele disse que era uma encomenda que o Jorge tinha feito pra você. Hei que isso? Vai manchar tudo.
-Pintor ?-Taciana falou enquanto limpava os lábios do vinho que acabara de cuspir e se levantava.-Fala o nome.
-Jonas.-Ela começou a tirar as capas das almofadas.-Nossa, vai manchar tudo. Droga. Não fica parada aí, me ajuda aqui.
-Eu não posso.-Ela saiu cambaleando de costas.-Eu preciso ir.
-Taciana espera.-Ela foi atrás da irmã e a segurou na porta.-Você não vai sair assim, pior do que chegou. Senta aqui e toma um ar. O que eu deduzia é verdade, ele é o cara?
-Eu... eu... prefiro ir embora...
-Ah minha irmã, eu não sabia, se soubesse.-Ela segurou suas mãos.-Eu sabia que tinha alguma coisa, quando falei de você ele ficou pálido, esfriou. Ficamos assistindo televisão à noite inteira. Pensei que era medo de eu descobrir algo e estragar seu casamento.
-Ta Thayla, deixa pra lá. Ele já não importa.
-Importa sim. Você o ama, claro que importa.-Ela se levantou e tomou sua bolsa.-Vem, vamos lá pra cima, você deita um pouco e descansa. Pelo menos até esse estado de pré alcoolismo passar.
Quando Jorge chegou em casa, estava tudo quieto. Seu carro não estava na garagem, no quarto, as malas de Taciana estavam jogadas e abertas. Algumas roupas espalhadas sobre a cama. Aonde ela teria se enfiado?
Provavelmente na casa da mãe. Ele tomou um banho rápido e seguiu pra lá de táxi. Quando chegou, logo viu que seu carro não estava na garagem, porém o dela ainda estava ali do jeito que ela deixou. Chamou e lá veio Roberta com um ponto de interrogação no rosto, procurando Taciana com os olhos.
-Jorge? O que faz aqui, onde está Taciana?
-A Taci?-Ele inventou uma mentira na hora.-Está em casa, acabamos de chegar, ela chegou com dor de cabeça e foi dormir. Eu precisei ir à farmácia, mas meu carro ta com o pneu furado, aproveitei pra dar um pulo aqui e pegar o carro dela.
-Ah, eu vou pegar as chaves. Quer que eu vá com você pra cuidar dela?
-Não precisa. Ela só está cansada da viagem.-Ele entrou na garagem e quando ela veio com as chaves, ele entrou no carro.-Você me desculpa não ficar mais Roberta, to com pressa pra levar os remédios dela.
-Tudo bem. Pede pra ela me ligar assim que estiver melhor.
-Eu peço sim. Até logo.-Ele saiu com o carro da garagem e pegou o caminho para fora do condomínio.-Aonde você se enfiou agora garota ?
Ele logo pensou no óbvio. Ela estava com o cara que conheceu em Paris. Devia estar dando pra ele em algum canto sujo. O simples pensamento o revoltou. Passou as mãos no cabelo bateu com força no volante e começou a se impacientar.
Quem ela pensava que era? Passou a viagem inteira o punindo por ter um caso e o primeiro idiota que a atropela, ela já abre as pernas? Vagabunda, ela iria pagar.
Se dirigiu para o apartamento de Amanda. Ligou para ela no caminho.
-Alô.
-Oi gostosa, sentiu saudade de mim?
-O que você quer, seu canalha?
-Te ver.
-Sua mulher soltou a coleira foi?
-To com saudade, agora se não quiser me ver, eu volto pra casa.
-Onde você está?
-Em frente ao seu prédio. Posso subir?
-Não, eu vou aí.
Ela pegou as chaves e calçou os sapatos. Ele não podia ver o que ela tinha no apartamento, a chamaria de louca.
Quando chegou ao portão, o viu encostado em um carro verde. Estranhou de primeira, reconheceu o carro, só não sabia de onde. Então abriu o portão.
-Pensei que ela tivesse colocado uma coleira com rastreador em você.
-Para de graça que eu sei que você ta cheia de saudade.-Ele a puxou pela cintura.-Não vai me deixar subir?
-Não.
-Então vamos para outro lugar.-Ele cheirou o pescoço dela e sorriu.-Tava morrendo de saudade desse cheiro. Vamos sair daqui, vamos.
-Ta, eu vou buscar minha bolsa, já volto.
Ela subiu de novo, pegou a bolsa pequena encima da mesa, passou no banheiro, pegou um frasco pequeno que mantinha guardado para eventuais emergências. Desceu ajeitando a roupa.
Quando chegou ao portão, ele já estava sentado em frente ao volante. Ela abriu a porta do carona e olhou bem dentro do carro, era todo acolchoado em vermelho, tinha uma bonequinha pendurada no espelho e os cds que estavam em um porta cds colado no teto, eram a maioria cor de rosa.
-De quem é esse carro?
-Dela. Ela está com o meu.
-Ah.-Ela colocou o cinto e lembrou da noite em que Jonas a enxotou do estúdio, porque tinha uma... namorada o esperando.-Aonde ela está ?
-Não sei. Saiu sem falar pra onde ia.
-Eu acho que sei aonde podemos encontra-la.
-Como sabe?
-Lembra do cara que fez meu retrato ?-Ela prendeu os cabelos e jogou a bolsa no painel.-Eles têm um caso.
-Como é? Você ta doida? De onde tirou isso?
-Na noite em que brigamos no motel, eu fui lá e vi esse carro na garagem. Lembra que ela não estava em casa? Quando cheguei lá ele tinha acabado de sair do banheiro, tinha pedido uma comida apimentada afrodisíaca. O entregador estava na porta.
-O que foi fazer lá?
-Pegar uma encomenda.-Ela sorriu cheia de malícia.-Não vi a mulher, mas o carro era esse, com certeza.
-Aonde é?
-O que?
-A casa desse cara, diz aonde é. Eu quero ir lá.
-Mas e a nossa noite?
-Quanto mais cedo resolvermos isso, mais poderemos aproveitar a noite.
Os dois seguiram para a casa de Jonas. Tinha luz no apartamento, mas a galeria estava fechada. Ele encostou o carro no portão e tocou o interfone.
-Quem é ?-A voz feminina soou do outro lado.
-Eu queria falar com o Jonas.
-O Jonas viajou há trabalho. Quer deixar algum recado?
-Sabe quando ele volta?
-Não tem previsão.
-Certo, então eu tento outro dia, obrigado.-Ele se voltou para ela.-Satisfeita ?
-De repente saíram juntos.
-É, quem sabe?-Ele seguiu direto.-Aqui perto tem um motel legal, vamos lá ?
-Claro. Com você vou até pro inferno.
Ele riu da declaração exagerada. Mal sabia o que o aguardava para aquela noite.
Taciana tomou um banho quente e pegou umas roupas emprestadas com a irmã para encontrar Olivier e seu agente. Thayla caprichou no visual dela, fez uma maquiagem pra impressionar.
Ela seguiu para o restaurante aonde a esperavam. Torcia para que o homem gostasse dela. Trabalhar como modelo seria uma maravilha. Apesar de nunca ter pensado nisso.
Avistou Olivier de longe. Foi até a mesa dele sem vacilar, o homem que estava com ele a observava de cara feia. Ela já ficou apreensiva.
-Estou atrasada?
-Não, você chegou na hora.-Ele a colocou de frente para o produtor.-Henry essa é a Taciana, Taci esse é meu agente Henry.
-Enchanted.-Ele se levantou e beijou a mão dela.-Olivier tem falado muito de você, como conseguiu deixar meu menino apaixonado desse jeito?
-Não diria que ele está apaixonado.-Ela sentou na cadeira que Olivier havia puxado.
-Pois bem, me diga. Quantos ensaios já fez?
-Ensaio?-Ela se voltou para Olivier.-Apenas um.
-Um? Olivier...
-Eu sei, eu menti.-Ele se voltou para Taciana.-Ela não é modelo, mas tem potencial. É linda, natural. Vale à pena dar uma chance.
-Mulheres lindas temos aos montes na agência. Não posso dar preferência a uma moça que não sabe nada sobre moda...
-Eu sei muito sobre moda.-Ela falou se voltando para ele firmemente.-Posso não ser modelo, mas de moda eu entendo.
-E por que está com esse tubinho do ano passado?
-Ah. Não é meu.-Ela sorriu olhando para a roupa.-Estava na casa da minha irmã, para não me atrasar, me arrumei lá mesmo. E ficou bonito, não quer dizer que não seja moda por que é do ano passado.
-Bem feito.-Olivier chamou o garçom.-Você gostou dela, eu vi em seus olhos quando ela entrou. Ela pousou pra mim e foi incrível, você viu as fotos. Ela tem uma ótima aparência, não é travada, é sensual e discreta. Você já tem planos para ela só ao vê-la entrar, que eu sei.
-Certo, você tem razão. Vamos fazer uma sessão de fotos na segunda as cinco.
-Da tarde?-Ela perguntou ingênua.
-Não minha filha, da manhã mesmo. Às cinco da tarde eu já estou decolando para Brasília.
-Nossa.-Ela se voltou para Olivier.-Mais rápido do que imaginei.
Quando Taciana chegou em casa, seus pés a estavam matando. As sandálias de Thayla tinham uma plataforma dura que machucavam seus pés.
Entrou e percebeu que Jorge havia chegado. Algumas coisas estavam fora do jeito que deixou. Subiu para o quarto e encontrou as malas dele junto com as suas. Ele não estava, ótimo. Ela teria tempo para raciocinar com frieza.
Pegou as coisas dele e transportou para o quarto de hóspedes. Quando terminou, deixou um recado pregado na porta do quarto, a trancou por dentro e caiu na cama. Dormir, era tudo o que precisava naquela noite.
As sete o telefone ao lado da cama começou a tocar insistente. Quase o arremessou longe.
-Alô.
-Taciana Lopes?
-Sim.
-Aqui é do Hospital Central. Seu marido deu entrada aqui essa madrugada, vítima de envenenamento.
-Como é? Mas como ele está?
-Senhora, não posso passar informações pelo telefone. A senhora terá que vir aqui.
-Eu to indo praí agora.
Ela desligou o telefone e se meteu dentro de um jeans e uma camiseta, escovou os dentes e saiu sem pentear os cabelos, fazer maquiagem ou coisa parecida. Calçou uma sandália baixa e seguiu rumo ao hospital.
Rezava e pedia a Deus que fosse engano, que fosse o marido de outra pessoa, que ele não estivesse morto. Como ele havia sido envenenado?
-Deus, eu não quero que acabe assim. Por favor, não o deixe morrer.
Ela já chorava sem saber por que. Estacionou de qualquer jeito na frente do hospital e entrou correndo, na recepção havia uma pequena confusão. Ela recostou no balcão.
-Me ligaram dizendo que meu marido está aqui.
-Como se chama seu marido?
-Jorge Alcântara Lopes.
-Ah senhora, segue esse corredor, entra no corredor à direita e bate na porta do diretor. Ele quer conversar com a senhora.
Ela correu hospital adentro aflita, o que havia acontecido? Quando bateu na porta do diretor, foi recebida por uma enfermeira que saía com vários prontuários.
-Me mandaram vir falar com o senhor.
-Você é a esposa do Jorge?
-Sou. Ele está bem? Por favor, me diz que ele está bem.
-Olha moça, a situação é complicada. Pelo modo como eles foram encontrados, pela repercussão que esse caso vai ter. Já está cheio de repórteres na entrada.
-O que está acontecendo? Pode desembuchar, não precisa fazer rodeis, eu já sei de tudo.
-Pois bem. Seu marido foi envenenado essa madrugada pela amante, em um quarto de motel.
-Ele está bem? Ele conseguiu se salvar? Fala que ele ta vivo pra eu poder mata-lo.
-Ao que parece, foi um pacto de suicídio.-Ele coçou a cabeça.-Estavam os dois envenenados. Foram encontrados pela camareira do hotel, que entrou pra avisar que o período havia expirado.
-Ele está vivo?!
-Está no CTI em coma induzido. O veneno comprometeu boa parte de seus movimentos, e o lóbulo frontal foi afetado. Ao que a polícia disse, ele percebeu que havia ingerido o veneno e vomitou o que pôde. Mas ficou algum resquício na corrente sanguínea, suficiente para causar um estrago.
-Você não falou que foi um pacto de suicídio?
-Ela deixou um bilhete. Disse que se mataram para viver juntos eternamente.-Ele recostou na cadeira.-Olha moça, a polícia vai conversar com você sobre tudo isso. Mas eu preferi falar com você, porque o Jorge é uma figura pública e, além disso, é meu amigo. Só queria te preparar para a chuva de repórteres que vai cair sobre você.
-Você disse que ele está no CTI. Eu poso vê-lo?
-Pode sim, eu vou acompanha-la até lá.
Taciana percorreu os corredores do hospital esmigalhada. Que situação. Seu marido preferiu outra mulher sempre. Correu para os braços dela, correu para os braços da morte. Se ele tivesse evitado aquele caso, teria evitado tanta dor e sofrimento. Eles teriam continuados casados, eles já teriam filhos, seriam mais felizes do que eram.
Mas Jorge preferiu a aventura. Preferiu magoa-la, troca-la por uma mulher mais bonita. Pra que? Que resultado positivo ele conseguiu? Ela estava morta, ele estava entre a vida e a morte. E para Taciana ficou a vergonha. Sua primeira capa de revista, a matéria seria sobre a viúva corna e o marido que preferiu morrer nos braços da amante no quarto de um motel vagabundo, há viver ao lado dela.
Enquanto se martirizava com esses pentamentos, as lágrimas rolavam por sua face, olhando para Jorge entubado daquele jeito sentiu pena. Ele era um homem forte, viril, cheio de gás. Ela se casou com ele por interesse sim, mas ela o amava. E a traição doía por isso, por que ela o amava a ponto de sofrer com o estado delicado dele. Outra pessoa estaria torcendo por sua morte, afinal, era milionário e a deixaria em boa situação.
Ela não queria isso. Não queria que ele morresse, não queria perde-lo daquela forma. A morte era cruel. Ela não gostava de lidar com ela. Lembrava nitidamente do que sentiu quando seu pai morreu. Ele era bruto, não lhe dava carinho, mas nunca mais estaria ali para repreendê-la. E foi ele quem moldou sua personalidade. Ele era importante em sua vida.
Agora Jorge estava ali, perto da morte. O médico lhe deu cinco minutos, mas ela tinha medo de sair dali e ele resolver deixa-la.
-Por favor, não morre.-Ela falou ajoelhada diante da cama, segurando a mão dele.-Eu tenho que te dar uma surra, arrancar suas calças no tribunal e te castrar. Eu vou ser aquela ex-mulher chata que estará nas reuniões sociais com outro homem mais bonito e mais novo que você, só pra esfregar na sua cara o que perdeu. Se você morrer, nunca mais vamos brigar. Parece que tudo isso é motivo para morrer, mas viver com esses pequenos contratempos é melhor. Então faz um esforço, não deixa aquela vagabunda tomar você de mim desse jeito. Fica, nem que seja para tomar de volta o que é seu.
-Senhora, seu tempo acabou.-A enfermeira a ajudou a se levantar.-Ele está em boas mãos, mas se fosse meu marido, eu mesma cortava o tubo do respirador.
-Você não entende, ninguém vai entender nunca.-Ela saiu cambaleando, sendo amparada pela enfermeira.-Eu preciso sentar um pouco.
-Ali a frente tem uma cadeira... senhora?
-Não vou chegar lá...
Ela falou enquanto sua vista ficava escura, a enfermeira tentou segura-la, mas ela arriou. Antes de terminar de tombar, havia um segurança a pegando no colo e levando para a enfermaria.
Taciana acordou com um médico ao seu lado, lhe injetando um líquido na veia. Ela olhou meio abestalhada para ele, depois para o vidro de soro pendurado acima de sua cabeça.
-Como está se sentindo?
-Em um pesadelo. O que aconteceu?
-Você desmaiou no corredor. Foi à pressão que baixou por conta do choque. Tem alguém que possa chamar pra ficar com você?
-Tenho sim, a minha irmã.
-Chame-a se possível.-Ele deu dois tapinhas amigáveis nas costas da mão dela e sorriu.-Assim que terminar o soro, você pode ir pra casa descansar.
-Eu não posso ficar aqui?
-Seu marido está no CTI. Não pode ficar ao lado dele, esperar só vai lhe fazer piorar. Vá pra casa, descanse, quando estiver melhor, poderá ficar na sala de espera. Por enquanto, é bom não judiar da sua saúde.
-Tudo bem.-Ela pegou o celular dentro da bolsa e procurou o número de Thayla.-Te acordei?
-Não o Marcelo me acordou mais cedo, me mostrou uma nota na internet sobre o Jorge. Onde você está?
-No hospital. Tive uma queda de pressão, você pode vir me buscar?
-Você está de carro?
-Estou.
-Então eu vou de táxi. Chego aí rapidinho.
-Eu vou avisar que você está vindo. Parece que fecharam a recepção, só estão deixando algumas pessoas entrar.
-Ta, eu já chego aí, fica tranquila.
***
Jonas recebeu a notícia por e-mail e começou a acompanha-la. Quase não acreditou mais na internet se via de tudo. Tinha até as fotos do corpo de Amanda sobre a cama. Ela estava morta, Jorge estava no hospital entre a vida e a morte, Taciana estaria sendo massacrada por repórteres. E ele onde estava agora? Ela precisava de alguém, por que não ser esse alguém?
Pegou a mala, abriu sobre a cama e jogou lá dentro tudo que havia levado de importante. Se despediu dos pais as pressas e saiu dirigindo rumo a cidade.
Ela podia não querer nada com ele, mas ele a procuraria. Não era hora de se acovardar, ele a amava, sentia falta dela. E não conseguia explicar esse amor. Desde que se entendia por gente, o amor se conquistava com a convivência. Foi o que cresceu aprendendo.
Mas com ela aconteceu do nada. Mesmo ele tentando levar a vida normal de sempre, sabia que tinha que descobrir o que estava acontecendo realmente entre eles, para não passar o resto da vida pensando em uma mulher casada. Se tudo aconteceu foi por um motivo, ele se aproveitaria da situação para se aproximar dela.
Quando chegou a capital, foi direto para a galeria. Encontrou Giovanna na galeria trabalhando.
-O que faz aqui?
-Viu a notícia?
-Não sei por que ainda perguntei.-Ela sentou atrás do computador.-Você voltou pra que? Pra sofrer por ela?
-Não, eu voltei pela Taciana.
-Estou falando dela mesmo.-Ela recostou na cadeira.-Sai dessa que é furada.
-Qual é o seu problema Gi?
-Ela não te ama Jonas. Ela quer um amante pra dar troco no marido.
-Você nem a conhece.
-Conheço mulheres como ela. O que ela sente por você é carência, não amor. Assim que o marido dela sair do hospital, ela vai te deixar por ele.
-Você não sabe o que está falando. Mulher nenhuma daria outra chance para um canalha como ele.
-Ela estava dando faniquito no hospital, posando de esposa preocupada. Emocionou as enfermeiras que andaram dando depoimento praqueles urubus que estão lá atrás de notícias.
-Saiu alguma coisa?
-Ah, ela desmaiou lá, foi um auê terrível. Agora estão fazendo um bolão pra ver se o cara morre ou não morre. Conveniente não, a futura viúva milionária fazer todo esse drama e posar de boa moça.
-Você não sabe o que está falando pentelha. Você não conhece a Taciana, se a conhecesse, entenderia tudo que está acontecendo. Ela é incapaz de desejar a morte de alguém, ela é o ser mais humano que já conheci. Pode fazer besteiras às vezes, quem não faz? Mas não a julgue por que passou uma noite comigo sendo casada. Nem você, nem ninguém têm o direito de julgá-la.
-Certo espertinho, vai correndo atrás dela. Ela nem vai te reconhecer, vai ser inconveniente o amante aparecer agora.
Jonas parou e pensou um instante. Queria vê-la, sabia que ela estava perto e queria tocá-la, abraçá-la, sentir o calor dela. Mas e se isso repercutisse? O que faria?
Arriscou ligar para o celular dela. Quem atendeu foi outra pessoa.
-Eu... posso falar com a Taciana?
-Quem ta falando?
-Um amigo.
-Meu querido, centenas de repórteres ligaram pra ela dizendo ser um amigo, procurando arrancar informações. Fala logo quem é você, o que você quer?
-Diz a ela que é o Jonas. Se ela não quiser falar comigo, tudo bem.
-Jonas? É você pintor?
-Quem ta falando?
-É a Thayla. Olha, a Taciana está descansando, mas acho que vai ser bom pra ela te ver. Na verdade, vai ser ótimo. Você sabe o endereço? Pode vir pra cá agora?
-Claro.-Ele pegou uma caneta e anotou o endereço.-Estou indo praí agora.
-Você vai atrás dela?-Giovanna se levantou.-Tem certeza ?
-Gi, eu sou grandinho, sei o que fazer.-Ele a beijou na testa.-Deixa de ser chata, ou eu te demito.
Jonas seguiu direto para o endereço que Thayla lhe deu. Havia alguns repórteres na porta, ele driblou alguns e passou pelos seguranças, foi direto para a porta. Quando tocou a campainha, a empregada atendeu.
-Oi, eu acabei de falar com a Thayla pelo telefone, sou amigo delas.
-Elas estão no quarto. Acho que a Taciana não acordou ainda, mas a irmã dela mandou o senhor subir. É no terceiro andar, na porta redonda,
-Obrigado.
Ele subiu as escadas em direção ao quarto. Encontrou Thayla parada em frente à janela, Taciana estava dormindo um tanto pálida.
-Ah, você chegou.-Ela o beijou no rosto e sorriu.-Espero que você consiga fazê-la melhorar. Por favor pintor, estou contando com você…
-Mas por que comigo?
-Não me pergunte, só cuida dela. Eu vou preparar uma vitamina para ela.
Jonas esperou ela sair e fechou a porta. Se aproximou da cama dela e tocou seu rosto. O que estava fazendo ali? Ela o enxotaria assim que abrisse os olhos. Suspirou criando coragem, então chamou baixinho.
-Taciana?-Ele a beijou no rosto.-Meu anjo, acorda. Taci?
-Jonas?-Ela acordou no susto e o fitou bem nos olhos.-Eu fui te procurar, aonde você se escondeu ?
-Estava na casa dos meus pais.-Ele sentou na cama e a beijou na testa.-Quando vi a notícia vim correndo, não sei por que. Eu só queria te ver e ter certeza que você estava bem. Fiquei sabendo que você passou mal.
-Foi a pressão.-Ela tocou o rosto dele.-Por que está aqui ?
-Porque queria me certificar de que estava bem, porque senti muito a sua falta esses dias. E por que tenho tanta coisa pra tratar com você, que fui egoísta e não consegui esperar.
-O que tem pra tratar comigo?
-Deixa pra lá.-Ele a abraçou.-Você precisa se acalmar, ficar tranquila.
-Alguma notícia do hospital?
-Não.-Ela afastou-se para ele se acomodar ao seu lado.-Você está linda, cortou os cabelos ?
-É, dei uma mudada, mas nada drástico.-Ele a abraçou com força, a acolhendo entre os braços.-Eu sei o que aconteceu entre você e minha irmã.
-Olha, eu posso explicar.
-Não precisa. A última coisa que vai me incomodar no momento, é uma trepada casual. Mas você está aqui, só quero saber por que.
-Estou aqui porque fiquei preocupado com você. Porque estou apaixonado por você e me mordi de ciúmes todo esse tempo, porque fui covarde e fugi pensando que podia esquecê-la, mas o problema não era à distância, era o medo de você voltar e não me querer. Estou aqui pra ficar perto de você, mas se quiser eu vou embora.
-Jonas, para de falar e me beija.
Ele capturou os lábios dela com vontade. Os braços dela se cruzaram em volta de seu pescoço, o beijo se aprofundou e ele mal podendo se segurar, se afastou para evitar não poder voltar atrás.
-Como você ficou ao receber a notícia?-Ela tocou no rosto dele com as pontas dos dedos, traçando cada desenho e cada linha de expressão.
-Eu só consegui pensar em você.-Ele segurou sua mão e a beijou.-Imaginei o quanto você ia sofrer com isso.
-Você também deve estar sofrendo. Afinal, Amanda está morta.
-Olha, Amanda não era lá muito equilibrada. Posso estar sendo duro, mas antes ela se matar, do que machucar você. E acredite, ela iria te machucar.
-Por falar nisso, tem muita coisa acontecendo. Então, é melhor irmos com calma. Essa história tem que esfriar, a poeira tem que baixar. Quando tudo estiver bem com Jorge e ele não for o assunto da semana, aí nos concentraremos só em nós dois.
-Certo.-Ele relaxou ao lado dela e enfiou os dedos entre seus cabelos.-Quando você volta ao hospital ?
-Amanhã, depois de uma sessão de fotos.
-Sessão de fotos?
-É, apareceu à oportunidade. Vou agarrá-la.-Ela se aninhou ao peito dele.-Loucura isso. Há menos de duas semanas eu nem te conhecia. Agora só consigo pensar em te beijar e aproveitar que você está aqui.
Jonas sabia do que ela estava falando. Desceu os lábios para os dela. Era loucura sim, mas era uma loucura saudável. Os dois precisavam daquilo, do momento de carinho e ternura, precisavam se consolar um nos braços do outro. Aquela loucura toda serviu para que se conhecessem e se apaixonassem. Ao menos, para algo serviu o egoísmo e mesquinhez de Jorge com relação à Taciana e ao casamento.
A mão dele desceu para suas costas, ele a puxou mais para si enquanto uma perna dela subia sobre as suas. Seu joelho foi se enfiando entre as pernas dela, ela estava de vestido e o tecido subiu até a cintura. Sentir o corpo dela era ótimo. Ela era quente, terna sensível. E em cada lugar que ele tocava, ela tinha uma reação diferente.
Estavam ambos descobrindo-se com as pontas dos dedos, quando Roberta chegou pra estragar o clima.
-Taciana, mas que pouca vergonha é essa ?-Os dois se separaram de uma vez e se voltaram pra porta, completamente desnorteados.-Aonde já se viu isso ? Seu marido no hospital entre a vida e a morte e você na cama com seu amante. Seu pai te mataria se estivesse aqui.
-Mãe, para.-Ela sentou na cama e Jonas se levantou rapidamente.-Mas que droga, meu marido está nos hospital porque quis. Eu não o mandei ir atrás daquela mulher.
-E por isso já foi colocando outro dentro de casa. Embaixo do teto do seu marido, na cama que vocês compartilhavam.
-Cala a boca mãe! Eu não tenho que aguentar isso. Já não bastam as mentiras? Você ainda quer me dar lição de moral?
-Quem você pensa que é pra falar assim comigo menina?
-Eu não penso, eu sou. Sou a burra que acreditou em você esse tempo todo. Hoje estou aqui por sua culpa. Porque você foi mesquinha a ponto de mentir usando meu irmão para que eu me casasse com o Jorge.
-De que está falando Taciana? Está louca menina?
-Não mamãe, estou cansada. Só isso. Eu não vou mais ser manipulada por você.
-Taciana, eu vou deixar vocês conversarem.-Jonas falou se afastando.-Com licença.
-Espera, não vai.-Ela o segurou no meio do quarto.-Temos algumas coisas pra resolver ainda.
-Eu espero lá embaixo.-Ele acariciou o rosto dela e sorriu.-Não se preocupe comigo. Não vou embora. Só tenta se acalmar.
Ele saiu, deixando Taciana sozinha com a mãe. E isso seria o inferno.
-Aonde você arrumou esse marginal de quinta? Pelo amor de Deus Taciana, eu não te criei pra isso. Sustentar um vagabundo.
-De onde tirou essa idéia mãe?-Ela cruzou os braços e parou em frente à senhora.-Eu não entendi seu raciocínio.
-Esse marginal nem esperou Jorge morrer, já está aqui garantindo alguma coisa. Por que afinal de contas, você será uma viúva milionária.
-Misericórdia mãe. Você parece estar torcendo para que meu marido morra.
-Menina, do jeito que tudo aconteceu, eu duvido que você também não esteja torcendo pela morte dele.
-Não mãe, eu não torço para que ele morra. Eu quero que ele viva e seja muito feliz. Não quero ser viúva. Não me casei com Jorge para isso. Eu queria ajudar você e o Tobias.
-Ah Taciana, não vem posar de menina meiga pra cima de mim. Eu te conheço, sou sua mãe. Você se casou com Jorge porque ele era rico. Ia te dar a vida de dondoca que você sempre quis.
-Eu não teria me casado se você não tivesse inventado a mentira sobre as dívidas.
-Teria sim. Eu lembro como você ficou animada quando o conheceu. Só falava que ele era rico e bonito. Você pode tentar enganar a todos, inclusive esse moleque que acabou de sair daqui, mas a mim você não engana. Se realmente amasse o Jorge, estaria no hospital esperando notícias. E não aqui aos amassos com seu amante.
-Agora eu sei por que o papai enfartou.-Ela falou baixo.-Você acabou o matando com o seu veneno. Fez com ele igual ao que Amanda fez com Jorge. Você e essa sua língua peçonhenta o enlouqueceram.
-Olha como fala comigo menina.
-Falo de igual pra igual. Você não está falando que me casei pra dar o golpe do baú? E quem estava me intimando a engravidar para segurar o casamento? Quem armou a arapuca pra que eu me casasse como Jorge um mês depois de tê-lo conhecido? Quem fez minha cabeça mentindo sobre o dinheiro do meu pai e as dívidas, todo esse tempo? Está me criticando pelo que afinal? Por ter aprendido direitinho com você?
-Menina, dobre a língua, eu ainda sou sua mãe.
-Sim, você é minha mãe. Mas isso não lhe dá o direito de vir aqui jogar desaforos na minha cara. Eu te respeitei todo esse tempo, mas não sou tapete pra você e o Jorge pisarem quando bem entenderem.
-Taci.-Thayla se aproximou da porta com um copo de água com açúcar.-Tenta manter a calma. Você já teve uma queda de pressão. E daqui to vendo que está par ter uma crise de asma.-Ela a fez sentar na cama e se voltou para a mãe.-Pelo bem dela, você pode se retirar?
-Quem você pensa que é?
-Eu sou irmã dela e sei que ela não está bem só de olhar. Você pode, por favor, se retirar?
-Vocês duas são ingratas. Mas também, quando precisarem não me procurem. Eu não quero saber de vocês. Espero que sofram muito por tudo que estão fazendo comigo. E tomara que não tenham filhos, porque não desejo pra vocês o que fizeram comigo.
Ela saiu jogando ofensas no vento, enquanto Taciana abraçava Thayla.
-Você ouviu o que ela disse? Ela me amaldiçoou.-Ela fechou os olhos reprimindo as lágrimas.-Ela amaldiçoou meu bebê.
-Que bebê?-Ela soltou a irmã e a fitou nos olhos.-Você está grávida? Há quanto tempo?
-Já vai fazer dois meses.-Ela deixou o copo sobre a mesa de centro e se levantou.-Viajei com Jorge pra casa na praia, eu ainda não sabia sobre o caso dele com Amanda. Havia parado de tomar pílula para fazer uma surpresa a ele. E quando descobri que deu certo, descobri também a traição. Fiquei sem saber o que fazer. Tenho lutado contra o pensamento de aborto desde então.
-Não, você não vai fazer isso.-Ela segurou seu rosto.-Esse bebê não tem culpa. E se ele já tivesse nascido e você descobrisse a traição assim mesmo? O mataria?
-Não, claro que não.
-Então pronto. Você vai ter esse bebê.
-Isso eu sei. Mas agora... você ouviu o que ela falou?
-Praga de mãe pega, mas seu anjo é mais forte.-Ela tocou a barriga de Taciana.-Esse moleque vai finalmente tirar você dessa depressão eterna. E só isso importa.
-Sabe que às vezes eu até esqueço disso ?-Ela falou olhando pra baixo.-Não enjôo, não tenho nenhum sintoma da gravidez. Na verdade, acho que o ignorei pra não fazer uma besteira.
-Então pronto.-Ela a abraçou, também com os olhos cheios.-Agora está na hora de cuidar dele e de você... mas... o que vai fazer com o Jonas ?
-Eu não sei.-Ela se levantou.-Ele tem que saber disso. De repente não aceite que eu tenha um filho de outro.
-Bom, você abre o jogo com ele e descobre.-Ela sorriu maliciosa.-Aproveita que ele está lá embaixo, conversa com ele.
-Liga para o hospital pergunta pelo Jorge. Eu vou tomar um banho e já desço para conversar com ele.
As cinco da manhã, lá estava Taciana entrando na mansão aonde seriam feitos os ensaios. Olivier, quando a viu, ficou surpreso. Tentou falar com ela no dia anterior, mas não conseguia em telefone algum. Pensou que ela não viria, devido às circunstâncias.
-Olha, você veio.-Ele abriu a porta do carro para ela.-Como está? Fique sabendo da situação.
-Estou relevando.-Ela falou pensativa.-Henry já começou?
-Está com algumas garotas. Vem, vamos pra maquiagem.-Ele ergueu a mão para ela.-Quer um café?
-Obrigada, mas estou bem acordada. Quero tentar manter o controle.-Ela falou enquanto ele a levava para o interior da casa.-Esse lugar é lindo.
-É usada por muitas revistas masculinas para ensaios. É linda, tem mais duas casas, um haras. Um lago. Você vai conhecer tudo.
Henry já estava irritado às cinco da manhã. Deu uma boa olhada nela e indicou o que a maquiadora teria que fazer. Jogou um biquíni nas mãos de Taciana e voltou para a sala onde algumas meninas estavam reunidas para o ensaio.
Taciana se comportou bem, diante das circunstâncias. Ali a maioria sabia do acontecido, mas não comentaram nem perguntaram. Afinal, a garota nova parecia ser tão séria.
A maquiagem dela era estilo anos setenta, batom vermelho, olho de gatinho. Bochechas salientes pelo blush vermelho. O biquini era ajustável. Henry o deixou o mais provocante possível. Olivier enlouqueceu quando viu a mão de Henry dentro da calcinha dela, puxando a cortinha para ajustar.
-Isso, quanto mais cheinha essa área, mais bonita fica a foto.-Ele indicou a piscina.-Ali, você tem o perfil bonito, senta de cumprido na borda da piscina. Aline, você senta atrás de Taciana com os pés na água. Jéssica, mergulha na piscina. Ou melhor, não molha o cabelo e a maquiagem ainda. Vamos meninas, mecham-se. Olivier para de babar e vai buscar um café pra mim.
-Mas...
-Anda Olivier, só vou precisar de você mais tarde.
E a sessão fotográfica começou. A matéria era sobre dicas de verão. Tinha mulher de todo jeito. Alta, baixa, gordinha, magrinha, loura, ruiva com sardas, morena e Taciana. Que percebeu ser a mais branquinha da turma.
E parecia que eram todas tranquilas, não precisou fingir ser uma modelo famosa. Só pousou para a câmera tranquilamente. Trocou o biquíni, por outro do mesmo modelo, com alguns acessórios.
Até ela gostou do resultado. Se acostumaria fácil com aquela vida.
Quando acabou a sessão, Olivier se ofereceu para acompanhá-la ao hospital. Mas ela recusou. Precisava conversar com Jorge. E ele teria que ouvi-la de qualquer forma. Mesmo assim, o moço insistiu em levá-la para almoçar.
Quando chegou, o médico a esperava com novidades. Foi direto falar com o diretor.
-Que bom que chegou. Vai ficar feliz em saber que Jorge foi tirado do coma. O veneno esta sendo expelido do corpo dele.
-Você já sabe qual foi o veneno?
-Estricnina. Um veneno poderoso. Jorge está vivo por milagre. A dose que ingeriu foi pequena. E ele vomitou boa parte. Pelo que deduzi, ele desmaiou pouco antes de a camareira encontrá-lo. O tempo foi o que o salvou.-Ele fez uma pausa.-Porém, ele deve ficar com alguma seqüela.
-Como assim?
-Ele acordou agora a pouco, estamos fazendo exames. Pelo que o médico responsável me passou, ele está com uma cegueira temporária. E o lado esquerdo não está funcionando como antes.
-Ele teve derrame?
-Não. Mas podia ter sofrido um. Os efeitos do veneno são devastadores. Sendo considerado que ele poderia estar sendo velado agora, ele está vendendo saúde.
-Está fora de perigo?
-Ainda não. Mas vai ficar bem, se for monitorado e tratado.
-Posso vê-lo?
-Pode sim. Só tente não aborrecê-lo.
-Será difícil.
-Eu entendo. Mas como disse, faça um esforço.
-Vou tentar.
Ele a acompanhou até o quarto de Jorge. Pegou o prontuário na porta e entraram. A enfermeira estava ajustando a posição da cama, quando eles chegaram.
-Bom dia meu amigo, como está se sentindo?
-Atropelado.-Ele falou meio grogue.-Quem está com você?
-Sou eu.-Taciana se aproximou da cama.
-Eu sabia.-Ele falou sério.-Reconheci o perfume.
-Bom, eu vou deixá-los conversarem. Daqui a vinte minutos venho buscá-lo para novos exames.-Ele se voltou para Taciana.-Como disse, tente se controlar.
-Pode deixar.-Ela largou a bolsa sobre uma poltrona e se aproximou da cama.-Como está?
-Péssimo.-Ele ergueu a mão procurando pela dela, olhando sempre para um ponto no nada a sua frente.-Me perdoa...
-Por qual das mancadas?-Ela segurou a mão dele com força.-Você sabe o que está fazendo aqui?
-Pagando... pelas mancadas.-Ele falou ainda meio baixo e entrecortado.-E você, o que faz aqui?
-Vim conferir se estava mesmo bem.
-A enfermeira disse que se fosse com ela, me matava sufocado com o travesseiro.
-Pois é. Mas aí, eu estaria me igualando a Amanda.-Ela sentou na poltrona, mas ele não largava sua mão.-Ela foi egoísta, te quis só pra ela. Mas eu não sou assim. Sei que apesar de tudo, vale a pena viver.
-Eu gostaria de ter morrido.
-Não gostaria não.-Ela sorriu pensando longe.-Sabe, meu irmão, desde que me lembro dele, ele é doente. E nunca o vi esmorecido. Ele gosta da vida. Você, sendo um homem forte e saudável, devia pensar igual. Afinal, você pode errar e concertar seus erros. Ele não.
-Como sempre, racional.-Ele apertou mais a mão dela.-O que você sente por mim agora?
-Pena.-Ela falou séria.-Porque eu vou infernizar a sua vida, sempre que você aparecer no meu caminho. Eu vou ser o pior tipo de ex-mulher. Vou me vingar de você.
-Pensei que não fosse mais querer me ver.
-E eu não quero. Mas vou ser obrigada a vê-lo, ao menos uma vez na semana.
-Por que Taciana?-Ele se voltou para o som da voz dela.-O que você...
-O médico me mandou não te deixar nervoso. Mas não vou segurar, tenho que falar. Porque eu preciso desentupir isso de dentro de mim.
-Fala Taciana, para de fazer rodeios.
-Você não está em condições de exigir nada.-Ela falou soltando a mão dele e se aproximando de uma jarra de água.-Eu não queria que acabasse assim, mas não tenho outra escolha.
-Taci, você não quer se separar, é isso?
-Claro que não. Na verdade, é tudo que mais quero. Acabar logo com esse inferno, porque eu não confio em você e se acabou a confiança, não tem amor que dure.
-Droga, eu fiz tudo errado.
-Fez sim. E eu não tenho pena de você.-Ela soltou as palavras de uma vez, com o coração disparado.-Tenho pena do meu filho, que tem um pai mal caráter.
-Que filho?-Ele parou pra raciocinar.-Aquele dia no shopping, você estava olhando a vitrine... perguntei se estava grávida, você disse que não.
-Não queria falar. Não enquanto não tomasse uma decisão. Eu não sabia se queria o bebê. E agora, está tudo resolvido.
-O que está resolvido? O que vai fazer com o bebê?
-O óbvio. Vou ter o meu filho e você só vai se aproximar dele, com a ordem de um juiz. E será um grande favor se você arrumar outra Amanda da vida e não nos quiser mais.
-Taci... –A máquina de verificação cardíaca estava aumentando a freqüência. Taciana começou a se preocupar.-Por favor...
-Por favor, o que?
-Me perdoa.
-Te perdôo.-Ela falou pensativa.-Quando a ferida tiver cicatrizado, eu não tiver vergonha de sair na rua e ser apontada como a corna. Quando isso que você fez, não me fizer sofrer mais. Aí eu te perdôo. Agora, não estou em condições de chegar a esse extremo.
-Você tem outro?
-Tenho.-Ela engoliu em seco.-E foi ele que me convenceu a abrir o jogo com você. Ele está disposto a ficar comigo assim mesmo.
-Você o conhece? Como pode saber se ele não quer só te dar o golpe do baú?
-Olha, eu não o conheço. Fui casada com você e só agora descobri quem é de verdade. Mas o tempo está aí pra isso. Deixa o tempo passar, a água rolar por baixo da ponte.-Ela pendurou a bolsa no ombro.-Agora eu vou indo. Acordei quatro horas da manhã, acabei de chegar de um trabalho. Vou almoçar e dormir tranqüila, sabendo que você não vai morrer.
-Taciana.-Ele parou por alguns instantes.-Não precisa vir me visitar. Eu sei que dói em você. Também dói em mim. Assim que sair daqui, vou te procurar... posso?
-Se não for para me encher o saco. Caso contrário, fale somente com meu advogado.
Taciana saiu batendo a porta de leve. Parou um segundo, suspirou e continuou seu caminho. Enquanto passava pelo corredor, as poucas pessoas ali se voltavam para ela. E ela ergueu a cabeça, empinou o nariz e manteve-se firme. Foda-se o que pensavam dela. Ela estava livre.
Só em pensar nessas palavras, seus olhos começaram a marejar.
De felicidade.
Passou pela sala de espera e Olivier se levantou rápido. Ela parou um instante, estranhando a presença dele.
-O que faz aqui?
-Peguei um táxi até aqui.-Ele segurou seu rosto.-Você está bem? Ele fez ou falou algo?
-Não.-Ele a puxou para o abraço e ela se aninhou em seu peito.-Estou feliz, porque tudo acabou bem. Só isso.
-Bem, vamos almoçar então?
-Olha, no momento eu preciso desabafar com alguém. Se você está pensando em sexo, te digo logo que to fora.
-Não estou pensando em nada.-Ele a soltou e deixou que ela seguisse na frente.-Na verdade, quero mesmo conversar com você.
Saíram os dois do hospital. Olivier tomou as chaves da mão dela e dirigiu até um restaurante italiano que ele costumava freqüentar.
Taciana estava apreensiva, queria desabafar com alguém neutro, para poder pensar com clareza.
-Então, podemos conversar agora?
-Fala.-Taciana estranhou o jeito de Olivier.-Aconteceu alguma coisa no estúdio?
-Não. Na verdade, não tem nada com o estúdio.-Ele recostou na cadeira e sorriu.-Na verdade, é sobre o que aconteceu no avião.
-Ah, pensei que isso já fosse página virada.-Ela falou se referindo ao homem que tentou agarrá-la.
-Saquei.-Olivier balançou a cabeça.-Certo, mas diga, o que está acontecendo?
-Estou meio dividida. Na verdade, tenho agido por impulso e não sei mais como voltar atrás.
-Comece pelo começo.
-Estou grávida.-Ela falou com os olhos baixos, enquanto dobrava um guardanapo de tecido.-Decidi engravidar e descobri a traição. Tentei dar outra chance ao meu casamento em Paris, mas ele vacilou de novo. Conheci um cara, sai com ele e me apaixonei, mas agora que está acontecendo tudo isso, não consigo continuar. Agora estou sozinha, grávida, sem ter nada de meu, além das mágoas.
-Taciana, eu já estive em apuros em determinada fase da minha vida, superei. Não vou dizer que vai ser fácil, mas quando você superar, porque você vai, verá que pode encarar tudo que vier pela frente. Às vezes precisamos passar por determinadas dificuldades, para aprender a sobreviver.-Ele fez uma pausa e tocou na mão dela por cima da mesa.-Por que não me disse que está grávida?
-Não assumia.-Ela deu de ombros.-Culpei a pobre criança por me manter ligada ao Jorge. Sendo que fui eu que decidi ter um bebê, nem cheguei a comentar com ele.
-Ainda bem que você não comentou antes.-Ele falou pensativo.-Se ele chegasse a comentar com a amante, ela poderia ter feito algo a você.
-O pior de tudo.-Ela puxou ar com força, enquanto Olivier pedia ao garçom um determinado tipo de vinho.-A polícia fez uma busca pelo apartamento da louca. Ela era psicótica. Tinha fotos do Jorge pra todo lado, uma foto nossa ampliada cheia de dardos. Recortes de Jornal de festas sociais rabiscadas. Uma coleção de facas na cozinha e muitos remédios controlados no armário.
-Caramba, você se livrou de boa. Sabe quando ela será enterrada?
-Taí, não sei que fim levou. Na verdade, não perguntei se a levariam para o RJ, aonde ela tem família, ou se seria enterrada aqui. E o depoimento do Jorge vai servir para ajudar no processo. Claro, só pra desvendar o que passou pela cabeça dela, porque já está tudo esclarecido. Ela era aficionada por ele.
-Nossa. Tem doido pra tudo.-Ele deu um tempo e voltou a falar.-Você ainda o ama, não ama?
-Não sei.-Os olhos já estavam enchendo, o rosto estava corado e o coração disparando.-Me casei iludida...
-Não estou falando do casamento. Estou falando do homem. Você ama o Jorge? Seja sincera.
-Talvez.-Ela baixou a cabeça.-Droga, sim, eu o amo. Por isso quero manter a distância, não quero voltar a vê-lo, não quero mais nada.
-E a outra pessoa? O cara por quem você disse estar apaixonada.
-Ele me faz bem, na verdade, estou encantada. Tenho que ser racional quanto a isso. Ele me aconselhou ontem à tarde a contar a verdade ao Jorge e decidir minha vida, disse que estaria disposto a ficar comigo, mas não ia me forçar a nada.
-E você, está disposta a embarcar em outro relacionamento, a essa altura da sua vida?
-Não. Agora não. Mas também não quero ficar sozinha nessa situação.
-Bom, sozinha você não está.-Ele voltou a segurar sua mão.-Estou aqui para o que der e vier.
-Obrigada Olivier.-Ela sorriu timidamente, dessa vez a expressão do rosto melhorou.-Você não ia pra Brasília?
-Hoje a noite.-Ele falou dando de ombros.-Podemos agora, falar sobre o ocorrido no avião?
-Sim, claro.
-Registrei queixa contra o cara, mas você precisa ir á delegacia. Afinal, a agredida foi você. Expliquei a situação ao delegado, ele disse que se você não for lá até quarta, não poderá dar entrada no processo.
-Eu vou.-Ela falou pensando que ele queria falar sobre a situação entre eles.-Quanto ao outro assunto...
-Outro dia, em uma outra ocasião, falamos sobre isso. Ou então ignoramos.
-Não quero ignorar. Só quero estar com menos problemas pra tomar decisões relacionadas a sexo.
Olivier sorriu. Aquele jeito de menina que ela tinha era tão meigo. Mas era um tanto imatura ainda. E com tantos problemas, não seria ele a trazer mais um. No futuro eles teriam outra chance. Agora, tudo que ela precisava era um ombro e teria aquilo.
***
Cheia.
Com muita dedicação
Sentimo-nos cheias, vigorosas
Tudo nos cai bem
Nada tira nossa animação
Somos o centro da atenção
-Mas onde está a modelo? Ela já está atrasada.
-Levando em consideração as circunstâncias, ela até pode atrasar.
-Por quê? É feita de ouro?
-Não, é mulher do chefe.-Disse o ajudante ao fotógrafo, enquanto preparavam o estúdio para a sessão fotográfica.-Ele a bajula tanto, que ela faz tudo ao contrário.
-E daí? Eu tenho meus compromissos, não posso ficar esperando uma patricinha mimada.
-A patricinha mimada em questão, está com os pés inchados e com a cabeça de um bebê no meio das pernas.-Taciana entrou falando grosso e andando igual há uma pata.-E quem é você pra falar assim? Sabe com quem está falando?
-Não. Com quem?
-Com uma senhora grávida.-Ela falou sentando em frente ao espelho e deixando a maquiadora fazer o serviço.-E não precisamos de você. Vai tirar foto pra revista de R$ 1,99. Junior, liga pro Olivier. Fala pra ele voltar. Diz que preciso dele pra sessão.
-Ligar para o Olivier?-Jorge entrou no estúdio nervoso.-Ouvi direito?
-Perfeitamente.-Ela recostou na cadeira, enquanto a moça trabalhava em seu rosto.-Ele acabou de me deixar aqui, provavelmente não está muito longe.
-E por que o Olivier? Qual é o problema do Ronaldo aqui?
-Seu funcionário é grosseiro, só isso. Hoje não estou de bom humor. E se ele me chamar de patricinha de novo, vai engolir esse secador no modo tradicional.-Ela falou erguendo a peça.
-Você a chamou de patricinha?-Ele ficou revoltado.-Quer morrer? Ou pior, quer que eu morra?
-Foi mal, chefe.-Falou o fotógrafo irritado.-Não sabia que ela era de porcelana.
-Junior, encontrou o Olivier?-Taciana perguntou irritada.
-Ele está voltando senhora.
-Ótimo.-Ela se levantou quando a moça terminou o serviço.-Vou me trocar, quando o Olivier chegar me avisem.
Taciana estava não só mais confiante, como valorizava ainda mais a mulher que era. Quando Olivier chegou, ela fez questão de obedecê-lo e mostrar para o fotógrafo e os demais assistentes, como um profissional pode fazer seu trabalho sem destratar as pessoas.
-Taci, assim ficou ótimo, agora vira mais esse moleque pra cá.-Olivier falou clicando na barriga.-Ótimo. Diz oi pro tio, João. Ele ta acordado?
-Fazendo farra.
-Ótimo. Dá uma coça na sua mãe aí garoto.-Ele tirou mais algumas fotos e verificou o resultado final.-Acho que é isso. Jorge, dá uma olhada, é isso que você queria?
-Não.-Jorge falou irritado.-Mas está melhor do que eu imaginava. Vai ficar perfeito no outdoor da expo.
-Ótimo.-Olivier ajudou Taciana a se levantar e acariciou a barriga dela.-A senhora, agora vai pra casa, Não quero que essa criança resolva nascer no trânsito.
-Ele não vai nascer agora, ainda tem tempo.
-Não quero confiar.-Ele sorriu para ela, os olhos azuis intensificaram no tom.-Você está linda.
-Ah vai à merda Olivier. Eu to inchada feito um pepino.
-E arrogante igual há uma modelo.-Ele a abraçou pelo ombro e se voltaram para Jorge.-Posso levá-la em casa, se estiver tudo certo.
-Eu levo.-Jorge falou com ciúmes.
-Não precisa.-Ela falou pacientemente.-Eu vou a casa da minha mãe, visitar meu irmão. Não preciso de ninguém no meu pé.
-Eu a levo e está decidido.-Olivier falou, sabendo que ela iria aprontar.
-Tudo bem. Mas vamos indo logo.
-Se cuida Taciana.-Jorge falou acariciando a barriga dela.-E cuida do nosso filho. Se precisar, pode me ligar à hora que for.
-Sei.-Ela o empurrou e passou entre o assistente e o fotógrafo.-Vamos Olivier?
-Sim senhora.
Taciana e Olivier saíram do estúdio da empresa de propaganda e publicidade, para a galeria e Jonas. Olivier a deixou lá e seguiu seu rumo, confiando de que ela estava em ótimas mãos.
Quando Jonas a viu entrar na galeria empurrando aquele barrigão, ficou de queixo caído. Estava falando com uma cliente, quando Taciana parou em frente há um quadro enorme. Ele sabia que ela veria aquele quadro.
-Com licença. Gi, atende essa senhora, por favor?-Ele se aproximou dela com as mãos nos bolsos.-Já vi que gosta de nu artístico.
-Achei vulgar.-Ela falou sorrindo para a mulher no quadro.-É uma prostituta?
-Depende do humor dela.-Ele sorriu.-É uma mulher que gosta de experimentar de tudo um pouco.
-Como sabe disso? Trabalha aqui?
-Sou o criador do quadro.
-Então pode me tirar uma curiosidade.-Ela se voltou para ele um segundo.-Você transou com a mulher do quadro?
-Não gosto de falar da vida íntima da minha namorada.
-Então expõe sua namorada dessa forma?
-Não gosta? É a peça mais bonita dessa galeria.
-Realmente. Vale a pena.-Ela tocou na barriga saliente.-Vou levar.
-Não está a venda.
-Mas não quero vendido dessa vez. Eu quero dado mesmo.-Ela falou sorrindo maliciosa.-Ficará perfeito há cabeceira da minha cama.
-Ficará mesmo.
-Sabe o que deixa minha cama mais atraente?
-Não. O que?
-O criador da obra encima dela.-Ela colocou os braços em volta do pescoço dele.-O que me diz?
-Proposta tentadora.-Ele aproximou os lábios dos dela.-Mas minha namorada, pode não gostar.
-Ah, ela vai gostar sim.-Ela segurou o rosto dele e o beijou.-Ela vai adorar.
-Está indo pra casa agora?
-Não sei. Fui ao médico hoje cedo, depois fui para uma sessão fotográfica. Agora estou pensando seriamente se vou ou não, visitar o Tobias.
-Vem comigo.-Ele a levou para o escritório recém reformado e a sentou no novo sofá branco.-Me dá seus pés.
-Ah não, eles estão horríveis.
-Mentira. Você inteira está linda.-Ele a ajudou a recostar e tirou a sapatilha do pé dela.-Relaxa um pouco. Você não tem o mesmo pique que antes.
-Droga Jonas, para de me chamar de inútil.
-Você não é inútil.-Ele falou com um belo sorriso no rosto.-Você é a pessoa mais eficaz que eu conheço. Mas falta pouco pro João nascer. Então tenta não abusar.
-Não vou abusar.-Ela colocou uma almofada nas costas e relaxou.-Você pode me fazer um favor?
-Diga.
-Liga praquele restaurante que você conhece. Estou morta de vontade de comer aquela comida maluca. O resultado é excelente.
-Tem certeza? Não vai ficar pesado pra você?
-Vai me negar comida?-Ela fez uma cara séria.-Está negando comida há um bebê?
-Não vem com drama. É só força de expressão. Se quiser, preparo algo mais leve pra vocês. Aquela comida é muito pesada.
-Ta. Tudo bem, você venceu.
-Vamos pra casa então?-Ele calçou os pés dela e a ajudou a levantar.-Você toma um banho, relaxa enquanto eu preparo algo.
-Tudo bem. Droga, você parece meu pai.
-Não meu amor, só estou preocupado com vocês. Só isso.
Os dois pegaram as escadas que davam da galeria até o apartamento de Jonas. Ele andou fazendo umas reformas no lugar. E o apartamento de solteiro se transformou em um amplo apartamento de casal, com dois quartos, uma escada cumprida e menor, uma sala maior e varandas com proteção para bebês.
Alternavam sempre entre aquele apartamento e a casa nova de Taciana. Estavam preparados para a chegada do bebê. E Jonas amava aquela criança mais do que pensou ser possível. Amava ao bebê, há mãe do bebê. E mostrou para Taciana, que valia a pena encarar outro relacionamento.
E Taciana não estava mais na dúvida. Amava Jonas de uma forma diferente há que amou Jorge. Ela não era devotada e fiel ao relacionamento que tinham. Era devotada e fiel há ele. Os dois caminhavam juntos, nenhum passo na frente do outro. E era disso que ela precisava para ser feliz.
Agora seu sorriso fazia covinhas, seus olhos ficavam expressivos. Ela sabia o que era amar e ser amada. Aconteceu mais rápido do que imaginava. Mas dessa vez não havia dúvida. Jonas era o cara certo. Não era perfeito. Mas a amava com todos os seus defeitos. E ela o amava da mesma forma.
Olivier virou seu melhor amigo. E Jorge, ainda fazia tudo que ela queria, mas por causa do bebê. Eles estavam se divorciando, mas as pessoas ainda a viam como esposa dele. Enfim, pequenos contratempos do cotidiano.
E Taciana podia dizer que estava vivendo sua melhor fase. A fase da felicidade.
De cheia a minguante
A crescente novamente
Para quando nova ficar
Poder novamente brilhar.
O verdadeiro amor
Ama a mulher em todas as fases.
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