DANÇANDO... DANÇANDO

Sérgio Senna.

(Um amigo perfeito que escreve de forma divina. Sou fã assumida.)

Dançava, Dançava, Dançava, e o seu movimento movia o mundo, toda a terra se movia de acordo com o seu ritmo, a sua pele morena estava recoberta por uma fina camada de suor devido aos movimentos daquele bailado, em que toda a energia do ambiente estava sintetizada. Os olhos levemente fechados pareciam nada ver, não se fixavam em nada por mais de alguns segundos, e o rosto, de expressão angelical, estava como que em transe, lindo, na mais suprema concentração, em êxtase. Os cabelos voavam soltos, sedosos, e refletiam vários tons, que iam do azulado ao preto azeviche, de acordo com os reflexos das luzes multicores, e se enrolavam em seu pescoço ou então caiam sobre os ombros desnudos.

Dançava, Dançava, e o seu bailado impregnava a sala de uma sensualidade ímpar, fazendo com que os pares que estavam à sua volta se afastassem involuntariamente, dando-lhe o espaço necessário, como lhe reconhecendo a divina supremacia, sem que fosse preciso nenhum alerta. Sua roupa, com um amplo decote posterior, um tanto folgada da cintura para baixo, dava-lhe uma amplidão de movimentos que ela usava com graça inigualável.

Dançava, Bailava, e seus movimentos leves, felinos; em alguns momentos eram lentos; em outros, rápidos, seguindo implacável o ritmo da música que reverberava loucamente pelo ambiente, jogando os presentes em um caleidoscópio de emoções e desejos contraditórios. E ela ali, imune aos olhares e aos desejos que despertava, somente ela, solta, livre, em um mundo só seu, totalmente à parte do mundo material ao seu redor, em um mudo totalmente seu, no qual ela era a rainha absoluta e inconteste.

Dançava, Evoluía, e em sues lábios bailava um sorriso estranho, parecia que entre todos, eu estava mais prisioneiro, mais vulnerável, e sentia aquela estranha energia que emanava daquela pantera com corpo de mulher, e como escravizado por aquela magia, não conseguia desviar o olhar para outros casais que me libertariam daquele feitiço, que me submetia às mais estranhas emoções, como ao desejo de libertar-me, e de continuar sendo cativo daquela estranha magia.

Gingava, Dançava, às vezes com rapidez fulgurante, movimentos precisos, exatos, quase calculados; mas na maioria do tempo com movimentos leves, seguindo por instinto o compasso da música, deslizando solta, sozinha, suave qual pluma tangida pelo vento; as mãos acompanhando o corpo, transmitindo sempre fortes emoções; e nesses momentos o seu dançar expressava melancolia, saudade, como se estivesse revivendo e recordando momentos outros, talvez um amor de infância hoje em lugar ignorado ou longínquo, abraçando o próprio corpo como abraçaria uma pessoa querida, agora distante.

Dançava, Dançava, e eu, ali parado, extasiado, compartilhava com ela esses momentos únicos, vividos só por nos dois, pois nossos olhares tinham se cruzado várias vezes e eu, me tornara seu cúmplice, vivia esse momento com tal intensidade que o burburinho sumiu, e até a música passou a segundo plano. Por fim, nossos olhares se encontraram com mais intensidade que o habitual e houve a identificação tão esperada; ficamos presos um ao outro. Ainda nos olhando; levantei; me aproximei; estendi o braço e segurei sua mão. Sorri e fui correspondido, experimentamos alguns passos e saímos a dançar como se o mundo fosse só nosso, lentamente, fomos nos aproximando, dançando, dançando, dançando, envolvidos pela música, ela fechou os olhos, se entregou à magia daquele momento único; e finalmente conquistada, entreabriu os lábios.

Aproximei-me para a conquista final, a realização suprema, o beijo; e aquele momento único, me levaria para mais perto dos Deuses. Era o ápice da minha vida, a realização suprema. Sobressaltado, acordei... Era um Sonho!